sexta-feira, agosto 26

ARTIGO PUBLICADO NO PRIMEIRA MÃO

Foi publicado no Jornal Primeira Mão em 19/8/2005, o seguinte artigo de opinião, da minha autoria


UM CANDIDATO COM DIGNIDADE

O exercício da cidadania é um direito e um dever de qualquer pessoa, na sua qualidade de única e irrepetível, que não deve ser alienado em nome de nenhum espartilho, mesmo que a militância político-partidária o imponha, por vezes em nome de uma disciplina castradora. E porque o é, não fundamenta o dever patriótico da intervenção dos cidadãos nas coisas que lhes dizem directamente respeito; será como um silêncio respeitador da monotonia e do afastamento dos cidadãos da discussão pública, para entrar no inferno dantesco da imobilidade, porque uns quantos entendem que a verdade é deles, sem contudo possuírem a evidência da sua certeza.

Porque assim penso, não posso demitir-me da minha função interventiva na Maia e no País, só porque o presidente da Comissão Política do PS/Maia, e candidato à Câmara Municipal da Maia, decidiu em atitude de evidente arrogância e prepotência, e por vingança pessoal (e como será óbvio, o tempo certo para a divulgar não será este), vetar o meu nome para todas as listas às eleições autárquicas; o que não admirará qualquer um, que nos últimos anos tenha seguido a nossa rota de colisão, até pelas votações na Assembleia Municipal, onde o meu voto nem sempre coincidia com a disciplina partidária, quando esta determinava votar ao lado da maioria. Ou a oposição (o PS) tinha alternativa e posicionamentos, principalmente nos documentos de maior importância ou não tinha. E parece mesmo que não tinha.

Mas não vou agora repetir histórias do passado, nem imiscuir em políticas que não são as minhas, ficará certamente para um qualquer dia onde o futuro, penso, me dará razão. A minha atitude é de profunda serenidade, e também de espera, nunca esquecendo que a chamada “travessia do deserto”, sempre foi, como nos conta o Livro do Êxodo, de perfeita intervenção em todos os domínios. Baixar os braços, não é travessia do deserto, mas de deixar de ser homem, e não possuir a clarividência de que os problemas são resolvidos não com demissões, mas com a actuação daqueles que fora ou dentro dos partidos, lutam por causas, e, sobretudo, com a dignidade de serem sujeitos unicamente da sua própria consciência. Como alguém disse, não sou soldado de um qualquer general, possuidor de facções, mas só das minhas convicções. E por isso mesmo orgulho-me de ter sido um, dos dois vetados, nas negociações para a unidade do PS/Maia para as autárquicas, pelo candidato em causa. Daí que continue a intervir.

O candidato, e meu pessoal amigo, Andrade Ferreira, à presidência da Assembleia Municipal da Maia, em declarações ao PRIMEIRA MÃO, refere que é candidato àquele cargo e não a líder de bancada do Grupo Parlamentar. O que significa uma enorme coragem, que outros não têm, nem terão, de perfeitamente despojado do poder, só assumir o cargo se ganhar as eleições. Esta atitude assumida possui uma dignidade difícil de encontrar nas candidaturas às autarquias. Se por um lado configura uma determinação ganhadora, por outro declina estar em qualquer projecto que lhe confira outro lugar para o qual não é candidato. Andrade Ferreira, que já foi presidente da Assembleia de Freguesia de Vila Nova da Telha, quando Pinho Gonçalves era presidente da Junta, pelo PS, confere à sua candidatura uma força invulgar e um desprendimento inigualável. Tomara que outros em situações idênticas assumissem as responsabilidades das vitórias e das derrotas, a menos que à partida se candidatem a outras conveniências que não a viabilização de projectos sérios e dignos do partido a que pertencem.

As organizações politicas deveriam partilhar como exemplares, as atitudes que os seus membros assumem enquanto portadores de um projecto e de uma prática onde a ética perdurasse, onde a palavra fosse disciplinadora (essa sim) de uma verdade em que os eleitores são participantes activos e não se considerem enganados. A palavra, a mensagem, nestas eleições autárquicas devem ser portadoras de um estilo de exigência, onde as atitudes fiquem como marcas indeléveis de comportamentos indispensáveis ao protagonismo dos cidadãos, enquanto actores fulcrais e principais dos processos políticos. De facto, estamos numa era onde a esperança de encontrar autarcas dotados de sensibilidade para o desenvolvimento das populações, em detrimento do seu próprio, é escassa, porque há que agradar aos estados maiores dos partidos, para que tenham assento nas decisões de uns quantos, em nome de todos.

Um dos slogans do Partido Socialista, nas últimas eleições legislativas, era “Voltar a Acreditar”, e isto significa capacidade de envolver as mulheres e os homens (neste caso, da sociedade maiata), num projecto globalizante das vontades, o que é difícil encontrar. Agora ficam as palavras esclarecidas de Andrade Ferreira, que de alguma maneira já ganhou, como sendo portador de uma esperança, da existência de dignidade na sua candidatura e de verdade, que não se vergará a interesses menos claros.

Joaquim Armindo

Deputado Municipal do PS

1 Comentários:

Às 7:47 da tarde , Anonymous Anónimo disse...

Caro Sr. Eng.º

Assina e muito bem como Deputado municipal, infelizmente por muito pouco tempo. Não souberam reconhecer o seu valor.

O tempo se encarregará de dar razão ao justo.

um abraço

 

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