sexta-feira, agosto 12

ARTIGO PUBLICADO NO PRIMEIRO DE JANEIRO

Artigo publicado no Jornal O Primeiro de Janeiro, em 28 de Julho, da minha autoria:

MOSCADEIRO

OS TERRORISMOS

A humanidade acordou, há dias, com o terror de mais um acto de terrorismo; Londres a cidade bem guardada, tal como o ‘praça forte’ do Pentágono, ou Madrid, via os seus filhos morrerem por causas que às vezes não se sabe bem porquê, e até injustificadas pelo Corão e outros livros de culto.

Ao sentir este abalo, como qualquer homem de boa-vontade, vi, porém, a fragilidade deste Ocidente para combater não só o terrorismo, mas as causas que originam o terrorismo, é que elas mordem por dentro o próprio sistema que impera nos seus países. À minha cabeça vieram todas as mal feitorias de que podemos ser acusados. Os EUA e a Europa, no seu conjunto, semeiam injustiças, que fomentam acções de fanatismo (desespero?), levando a todo o mundo a morte e a guerra. Bem sei, até porque a história nos conta, dos cruzados cristãos ou da ignomínia de Galileu Galilei, e depois do consequente pedido de perdão à humanidade, por estes actos; quando nisto penso, longe de canonizar, aqueles que se prestam a actos de barbárie contra pessoas sem qualquer culpa, da necessidade de encontrar caminhos que não sejam os mesmos que eles usam. Isto nem sequer significa compreender tais actos, mas de desvendar o nosso pecado originante, que nos leve a viver numa terra livre e pacífica.

E quanto mais medito, razão acrescida dou a Paulo VI, quando sai da sua boca a célebre frase: “ o novo nome da Paz, é a Justiça”, e é que de facto não pode nunca existir Paz sem Justiça aplicável a todos os povos e nações; justiça não significa esmolas como as que os oito mais ricos do mundo parece quererem doar a outros povos, para lhes pagarem as dívidas, originadas pelos bens que antes lhes haviam gratuitamente sugado, e fomentando novas dívidas em nome de um bem comum pouco sintomático, e que não rima com justiça. Estes actos de bondade, concedidos com a mão direita, para serem bem observados, ou que o parecem, não são mais que a tentativa de subjugar os menos desenvolvidos a quedarem-se por um ajoelhar e mão estendida, diante dos senhores de feudais de todas as guerras. O referido papa tinha toda a razão, quando pretendia, em dia mundial da paz, inaugurar uma nova forma de encarar a liberdade e a libertação de todos, ao clamar a justiça, para cada um dos seres humanos. No entanto, esta voz profética, aliás como todas que o são, não foi atendida na sua essência, (ouvidos moucos sabem ignorar o que lhes convém), e por isso mesmo essa ignorância gera violência, sobre violência. E esta não se combate com as mesmas armas, possam ser mais ou menos sofisticadas, e até possam embora parecer “armas de paz”, porque não o são, antes contribuem para que o mundo não se reconcilie consigo mesmo.

Sem pretender deixar de chamar a actos desumanos aquilo que eles são, sempre me lembro que terroristas, foram chamados Amílcar Cabral, Agostinho Neto e outros, que até, alguns, neste momento, assumem posições de paz, como Nelson Mandela. Por isso, quando chamamos terroristas deveremos em acto de contrição olhar para nós mesmos, enquanto nações ditas livres, e perguntar se não os esteamos, com o nosso carácter de gerirmos um mundo de acordo com as nossas crenças e os nossos benditos interesses. E a estes não ousamos chamar de terroristas, enquanto activistas de causas e valores há muito contribuintes para o desagregar das convicções mais profundas dos povos, no respeito pela sua identidade e amantes da paz.

Willy Brandt, dizia em 1992, no âmbito do ano internacional da tolerância, que “qualquer sofrimento de um ser humano, seja onde for, afecta-nos a todos. Não se esqueçam de que quem tolera uma injustiça durante muito tempo, fomenta a injustiça”, e esta, certamente, gera atitudes como as que acabamos todos de sofrer. Os terrorismos passeiam-se ao nosso lado quando a fome, miséria, os sem abrigo, os proscritos pela sociedade, são deixados aos cuidados duma sociedade abundante para alguns, e que fere até as mais legítimas aspirações e valores culturais de outros, só porque não entendem como nós. Dir-me-ão alguns que tudo isto não justifica a carnificínia, e que a esta terá de ser dada uma resposta com mão de ferro, e com as mesmas armas. Não me parece, porém, que essa seja a melhor mensagem para o que fizemos deste nosso planeta, e nem que seja a melhor maneira de acabar com os apelidados terrorismos. A dependência dos povos, de milhões de pessoas, de uma minoria que quer ofuscar as suas atitudes culturais, eliminar as suas espécies, e, sobretudo, redigo, que trabalhem a favor só, e só, dos seus interesses, vivendo numa sociedade amarfanhada, porque ninguém é verdadeiramente livre enquanto todos o não forem, é a melhor forma de dar conteúdo à sanha do terrorismo armado, fanatizado, como o nós somos também, embora a favor de outras causas.

Combater o terrorismo deve ser um acto de inteligência, como dizia há dias um político português, não um desespero de quem julga que se vê livre daqueles geradores de mártires, mas que sabem bem o terreno que pisam e a ignorância de muitas populações. A existência da ignorância também é um acto consentido de terrorismo, porque quem culto é, mais livre se torna.

Sobretudo que nestas linhas fique um apelo à consciência de quem tem poder, e do nosso povo, para o entendimento de como o combate ao terror se faz, com ousadia, mas, principalmente, sendo fazedores da paz e da justiça, aceitando e instruindo-se nas e pelas culturas milenares de todos os povos.

Joaquim Armindo

Deputado Municipal do PS

jarmindo@clix.pt

http://bemcomum.blogspot.com

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