terça-feira, fevereiro 14

Artigo publicado no Jornal O Primeiro de Janeiro, da autoria de Joaquim Armindo, em 7/2/2006
MOSCADEIRO



COERÊNCIA POLÍTICA



Tenho vindo a escrever nestas crónicas, questões relativas ao funcionamento partidário, à forma, como entendo, que se deve relacionar o político com os outros, a participação democrática e participativa dos cidadãos, e do modo transparente sobre as questões que o PS da Maia, enfrenta depois da derrota eleitoral nas autárquicas, sem que se vislumbrasse um assomo de decoro, por parte dos dirigentes do meu partido, que continuam a ser os mesmos, num atavismo sem precedentes e à espera que dezenas de militantes ingressados à pressa lhes possam garantir a vitória nas próximas eleições para a concelhia e secções da Maia.

É verdade que, quase não tenho escrito sobre os problemas concretos das gentes da Maia. Mas não os relego para segundo lugar; a minha demonstrada atitude de concentrar esforços nas alterações das linhas e protagonistas de um partido político, significa, tão só, a vontade de que floresça nesta Terra do Lidador, uma alternativa política consistente. Logo, que seja coerente com os princípios socialistas, de causas e valores, que infelizmente têm sido esquecidos ao longo destes anos, em que o protagonismo de uns poucos, assente, e sempre, na apetecida corrida a lugares que dêem dinheiro, relegando para as calendas o que é fundamental: o bem das cidadãs e dos cidadãos. Por mais algum tempo não me posso alhear desta luta política, sabendo quanto os maiatos bem merecem, que as suas expectativas não sejam defraudadas pelo menos da parte da oposição, dado que o poder da maioria é atávico e desatento ao que escreveu e prometeu, nas campanhas eleitorais. Nota-se contudo um despertar de alguns socialistas na oposição como vereadores e deputados municipais, mas isso não é suficiente porque o poder partidário se encontra nas mãos de quem teima em apresentar-se como salvador. Repito, insuficiente este avivamento tardio pois o perder sucessivamente e ainda ter coragem para se candidatar novamente, como de cara lavada não resulta. Quase poderia dizer que, como Manuel Alegre na rádio Voz da Liberdade verbalizava, temos uma oposição de “sucessos-sucedidos-sucessivamente”, mas que na prática é rejeitada pelo povo, único detentor das decisões e que pune quem assim procede.

Vem a talhe de foice uma notícia espalhada a semana passada, sobre os cartões de crédito das empresas municipais, e que eles são acumuláveis entre si, de tal forma que se chega a valores megalómanos, para quem quer defender a coisa pública. Esta denúncia é verdadeira, mas não coerente, com quem os defendeu outrora e agora aparece como paladino de uma moral política, que não possuía então. Até parece que estou, como se diz, a dar tiros-nos-pés, e é verdade, mas também o é que posso aparecer ao nosso povo com as mãos limpas, de quem nunca se vendeu, e isso prestigia a política e o espaço que o Partido Socialista quer ocupar.


Os políticos não são todos iguais, reconheço que uns têm posições conforme lucram ou não com a política, outros, normalmente, não bem vistos, os do “politicamente incorrecto”, que ao pensar pela sua cabeça são arredados pelo aparelho e interesses egoístas de quem, de facto, não está para servir.

Segundo a minha memória, estes cartões e o seu valor, assim como a forma de atribuição, são as mesmas que há quatro anos chegaram à Assembleia Municipal. Então, para meu espanto, a direcção concelhia do PS, o seu presidente, que é o mesmo nos dias de hoje, tentou convencer-me que a única votação possível era a favorável, e assim votaram os deputados municipais. Por meu lado, penso que juntamente com o deputado da CDU, votamos contra, isolando-me assim, do meu grupo parlamentar, que posteriormente me viria a proibir de estar presente nas reuniões preparatórias. Este episódio, que não fará história, é uma verdade, por muito que tal custe aos actuais dirigentes, os mesmos afinal (!), que agora nutrem um carinho especial pela denúncia, do que outrora aprovaram. E com toda a coragem para se apresentarem a novo sufrágio nos cargos partidários! É mesmo necessário quem venha dizer ao nosso povo, que a história não se apaga, mas que ainda existe quem tenha a coragem de a ir relembrando.

Continuo a pensar que os cartões de crédito não devem merecer o voto favorável da bancada socialista, e que as despesas dos administradores das empresas municipais, sejam eles quem forem, não deverão ser pagas por este processo, mas outro mais transparente e correcto; o que não possuo é duas faces, perante o mesmo problema, se era contra agora também o sou, admitindo, perfeitamente, que no passado alguém se enganou, então que o diga, alto e bom som, e explique a quem os elegeu a sua mudança de atitude, porque assim talvez se entenda ou caso contrário, poderemos estar perante quem não pode ser aceite para cargos políticos, porque senão andaremos a enganarmo-nos a nós mesmos.

Porque assim entendo, e quero defender o PS da Maia, ouso levantar a voz livre, que não troco por favores sejam de que espécie for. Não tenho os lugares, mas a consciência tranquila e mais importante e de maior valor, o direito e dever de, citando o Zeca Afonso, “o que é preciso é alertar a malta”.

Joaquim Armindo
Membro da Comissão Política do PS/Maia
jarmindo@clix.pt
http://www.bemcomum.blogspot.com

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