terça-feira, março 28

ARTIGO PUBLICADO NO PRIMEIRO DE JANEIRO

Artigo publicado no Primeiro de Janeiro, de 21 de Março de 2006, da autoria de Joaquim Armindo



MOSCADEIRO

A DEMOCRACIA PARTICIPATIVA

Na passada sexta-feira, à noite, ouvia na rádio do meu automóvel, o actual líder do PSD, no congresso realizado, afirmar que aquele partido devia abrir-se à sociedade civil; curiosamente, nesse mesmo dia, lia, num jornal, que a candidatura apoiada pela direcção do PS da Maia (que foi esmagada nas eleições autárquicas, pelo voto popular), coloca também esta questão da “abertura” como tema fulcral, para que as votações no PS subam naquele Concelho. Mais, para meu espanto, leio e relei-o, aquilo que penso inacreditável, que para apoiar estes velhos métodos de enganar os cidadãos, um senhor professor, independente (claro!), ousa meter-se publicamente numas eleições internas, apoiando o candidato da tal “abertura” (e para que fique claro, que é mesma abertura, tem o apoio daqueles que perderam, que usam métodos fantásticos de procederem a eleições, no local onde dão consultas médicas, e que mentem descaradamente). Ousaria dizer a este respeitável cidadão que entre no partido, e aí coloque as suas posições, ou é sempre mais fácil estar de fora?

Quando ouço este chavão de abertura “à sociedade civil”, encontro sempre duas questões: então existe uma sociedade não civil, fora da militar? então sempre é verdade que os partidos não expressam a vontade do povo, e antes a dos seus apaniguados? Estou perfeitamente livre de emitir as minhas opiniões, dado que fui aquele que por discordar dos candidatos nas anteriores eleições autárquicas, tive a subida honra de, no acordo efectuado, se colocar como premissa, pelos perdedores delas, que a não integração do meu nome era condição essencial para ele se dar. E mesmo ser conhecido por paranóico, pelo médico, reformado, desta praça, candidato à presidência da câmara, com acesso ao meu processo clínico!

A primeira pergunta é caricata, paradigmática dum procedimento incaracterístico da postura dum partido assente no socialismo. Não há sociedade civil e sociedade partidária, e se alguém descobriu esta existência, é porque vive num lamaçal protagonizado por uma democracia directiva, musculada, e numa alucinação de que a comissão política traduz efectivamente o querer, o pulsar e o viver do povo maiato, e que este se engana, quando na sua sabedoria diz não querer os protagonistas e programas que o PS da Maia lhe apresentou. Persistir nesta posição e colocá-la por parangona é, sem dúvida, a impotência de ler os sinais dos tempos, e caminhar para a frente de costas, porque tem de obedecer aos senhores, que não podendo ir a votos sempre estarão a dar as suas instruções e a prática de sustentação duma política, como algo que rende, em espécie ou dinheiro.

A segunda questão é corolário da primeira, se se sente a necessidade a uma pretensa sociedade não interventiva, é porque existe o reconhecimento da incapacidade do partido conhecer o sitz im leben das pessoas, porque de facto está interessado em tudo, menos no serviço à comunidade. Esta constatação coloca a práxis dos procedimentos nas antípodas da criação dos partidos, e assim se percebe porque o PS da Maia não pode ser alternativa ao poder instituído há tantos anos neste concelho.

E aqui é que entra o conceito da democracia participativa, a que, como é evidente, muitos dirigentes partidários têm medo, porque deverão ser avaliados não só nas campanhas, floreadas de foguetórios, e direccionadas para o incumprimento e esquecimento de promessas não cumpridas, mas também no quotidiano da participação política que vão tendo, submetendo-se, sem subterfúgios, a uma sustentabilidade da base que os elegem. Isto significa que não podem existir os acordos dos corredores, nem a reflexão política sem ser na praça pública, porque a cidadania não se resolve nem com os iluminados (ou que o querem fazer crer), nem com os colectivos partidários, que têm de ser fechados, não abertos ao novo e à ruptura, para poderem resolver problemas pessoais, à custa dos votos que criativamente procuraram para si.

Não existe “abertura” ou “não abertura”, mas sim a pluralidade do exercício da cidadania, que possui o seu fio-de-prumo na democracia participativa. E como pode o PS da Maia exercer esta, na sociedade, se não a pratica no seu quotidiano de vida, expulsando e retirando todos aqueles que algum dia ousam enfrentar os senhores do poder. Os senhores do poder afirmando retirar-se, em nome de renovações ou inovações, vão afirmando que no fundo, em nada estão interessados, a não ser no seu próprio bem-estar. Os senhores do poder tudo farão para numa penumbra pesada, manipulem aqueles que colocam como sinais de renovação. Porque os senhores do poder não acreditam na democracia participativa, nos movimentos cívicos dos cidadãos e têm horror, a qualquer cheiro à reflexão séria, sobre a construção dum mundo baseado na solidariedade e fraternidade.

Por isso mesmo os militantes socialistas da Maia, no seu microcosmos de actuação, devem exercer uma actuação participativa, saberem discernir entre quem se apresenta num “pacote novo”, cheio de métodos e técnicas absurdas, e aqueles, que já nada têm a perder, e preservam a sua dignidade e ética, mesmo que fiquem sózinhos.

Se isto é paranóia, então eu a tenho, e não a troco, por falsas unidades e jogos de corredores. É minha opção de vida!

Joaquim Armindo

Membro da Comissão Política do PS da Maia

jarmindo@clix.pt

http://www.bemcomum.blogspot.com

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