terça-feira, abril 25

ARTIGO PUBLICADO NO PRIMEIRO DE JANEIRO

Artigo da autoria de Joaquim Armindo, publicado em 18/4/2006, em O Primeiro de Janeiro



MOSCADEIRO

LIBERDADE DE PENSAR

Os Partidos Políticos, numa lógica estalinista, pensam que com o condicionar as ideias se conseguem organizações credíveis, junto ao nosso povo; por isso têm dois patamares de análise, um o da discussão interna (onde dizem: tudo pode ser dito), outra o que passa para o exterior, isto é, para aqueles que votam neles, que é o transmitido pelas cúpulas ganhadoras dos confrontos internos. Nada mais enganador, mais castrante e possuidor de uma prática aberrante, que se traduz no amordaçar da liberdade de pensar, de ser mulher e homem intervenientes em toda a sociedade. Normalmente num partido político, as reuniões não são democráticas, os documentos já vêm gizados de cima, dos “pensantes”, daqueles a quem foi dada a iluminação suficiente para serem de “marca registada”. Pode-se discordar, sim senhor!, mas quem o faz tem normalmente três minutos para tal, duma só vez, e de tantas inscrições se dão, que o melhor texto ou decisão é a que já vem cozinhada. Digam os militantes dos partidos, se é assim ou não?

Não sou contra os partidos, até pertenço a um, mas sei claramente desta prática, e depois em nome do partido, duma pertença unidade que tem de ser visível para a sociedade, teremos de falar a uma só voz. Ora isto, não é democracia, mas sim ter medo de enfrentar quem coloca os partidos no poder, que é povo simples e humilde, que cada vez mais olha para eles com desconfiança, porque sabe bem que uma parte substancial está a tratar da sua vidinha, e nada, mesmo nada, preocupado com aqueles que são crucificados em cada dia que passa. Ninguém pode consentir, se é democrata, que qualquer militante não defenda o seu ponto de vista, as suas posições de consciência, no púlpito público, e isso não é ofender a disciplina partidária, antes se traduz por um exercício público de cidadania e de respeito, de cada pessoa, da organização e do que ela traduz para a sociedade. Discordar, e fazê-lo à vista de todos, é um salutar processo de dar credibilidade aos políticos, e fazer dos cidadãos seres políticos; pelo contrário, remeter essa discordância para o segredo dos ouvidos dos militantes é ser salteador do pensamento colectivo, e da medida de depuração de uns tantos.

É em nome da unidade, que os partidos até ameaçam com sanções quem deles discorda, porque não existe transparência, e se esta não existe, muito menos os segredos, que começam a proliferar, e por quem diz que não, nos sítios costumeiros, dando lugar, não à unidade, mas à má fé, à maledicência, e à deturpação do que é dito. Ora isto não é um caminho de unidade, mas de usurpação das consciências, e todos nós somos livres, para com responsabilidade, proclamarmos as nossas opiniões, seja onde for. E isso não dita que o nosso paradigma seja contra o partido, mas que ele é a favor do derrube dos muros, artificialmente construídos, como o de Berlim. Há de facto, muitos muros de Berlim construídos nas nossas organizações políticas, onde “aqueles-que-sabem”, os “eleitos”, ditam as suas leis, em favor da solidariedade, palavra que usam para enganar os incautos. Discordar ou denunciar publicamente é um acto de coragem, que só vem dar substantividade à amizade construída em bases sólidas. Não fazê-lo, é ignorar o que de mais simples existe, que o pensamento é livre como o vento, e esse ninguém pode truncá-lo.

As organizações políticas ainda são consumidas por preconceitos do tempo de século passado, onde se presumia, qual equipa de futebol, que os outros também não sabiam usar tácticas, e então apareciam os esquemas, não para o bem comum das populações, mas para o serviço de uns tantos, que nunca souberam o que é trabalhar, nem tiveram horários, nem nunca deram contas a ninguém, dado que nas campanhas outro ar se respira, da resignação, e falta de ética na proclamação de princípios, que logo se colocam de fora. Assim, em pleno século da fraternidade, cada vez mais os partidos são obsoletos, e talvez outras formas de intervenção tenham de se fazer ouvir, no sentido de os modificar. Creio bem que a vida partidária será menos eficaz, se os militantes não assumirem acções de ruptura com procedimentos deste carácter; pode estar em causa um dos pilares da democracia, os partidos políticos, se corajosamente nada for feito.

A única forma de conseguir a unidade num partido, é a justiça, e esta bem pode ser proclamada aos ventos, porque ninguém é visado quando a verdade permanece. Ser partidário de causas, é ser consciente, e nunca ninguém poderá atraiçoar a sua consciência. Um partido é abstracto sem pessoas, são estas que lhe dão ser, possuem um mínimo denominador comum, mas não têm de pensar todas a uma só voz; as estruturas aparelhísticas não podem condicionar a liberdade de expressão, porque esta nem sequer é condicionada pela Declaração dos Direitos do Homem ou da Constituição Portuguesa.

Partir para eleições, sejam quais forem, com princípios de calar as vozes dissonantes é mau, e, desde logo, condicionador da nossa liberdade. E esta ninguém a tira, por mais parangonas e apoios nesse sentido. Porque estou a escrever sobre isto, perguntarão os leitores, e bem, e respondo, porque se estão a realizar eleições para a Federação Distrital do Porto do PS, meu partido.

Joaquim Armindo

Membro da Comissão Política Concelhia da Maia do PS

jarmindo@clix.pt

http://www.bemcomum.blogspot.com

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