sexta-feira, abril 28




Pelo seu interesse junto deixo aqui a alocoção do Bispo Fernando Soares, da Igreja Lusitana (Comunhão Anglicana)


Alocução do Bispo Diocesano


Prezadas Irmãs e Prezados Irmãos,

Saúdo-vos na paz de nosso Senhor Jesus Cristo, o Ressurrecto. Aleluia.


Introdução

1. O tempo pascal que estamos a viver preenche-nos de um sentimento de alegria e gratidão pela obra redentora de Jesus e fortalece-nos para o trabalho e as dificuldades do Reino de Deus. A reunião do Sínodo sendo uma celebração da Igreja como comunidade, no encontro de pessoas e ideias, é também uma oportunidade para o exercício da fé no diálogo, na paciência e no respeito pela diferença dos pontos de vista. É exercício nem sempre fácil e que só pode ser realizado à luz da grandeza transformadora do Cristo ressurrecto nos nossos corações. Peçamos-Lhe que Se faça presente neste Sínodo, com a Sua paz, como apareceu aos discípulos na tarde do Domingo da Ressurreição. Deixemos que os nossos corações O descubram nas múltiplas manifestações da Sua presença para que vivamos a muita alegria de O termos connosco.


2. Ao reunirmo-nos pela primeira vez após as comemorações dos 125º. aniversário da Igreja, 25º. aniversário da minha sagração episcopal e 25º. aniversário da nossa integração na Comunhão Anglicana, temos de referir o que recebemos de força, de presença e de esperança do nosso Deus, louvando-O com um forte grito de “aleluia!”. Também, temos de exultar com a graça recebida no dom da ordenação duma mulher, que faz da nossa Igreja a primeira na história do cristianismo em Portugal, no contexto da sucessão histórica episcopal. Assim, acompanhados por muitas outras Igrejas da Comunhão Anglicana, passámos a dar igual lugar a homens e mulheres na misericórdia divina e no Seu serviço no Ministério Ordenado. Como disse no sermão do Culto de Ordenação “estamos plenamente convictos de que o fazemos de acordo com a exegese livre, profunda e séria da Sagrada Escritura. Acreditamos que estamos a ser profetas no anúncio e testemunhas do Espírito Santo contribuindo para a Missão que Jesus Cristo confiou à Igreja”[i].



O nosso tempo e a fé

3. O tema deste Sínodo “Orai no Espírito Santo” é retirado da Epístola de Judas – que alguns exegetas consideram ser um irmão do Senhor – cujo propósito era denunciar e combater um certo estado de decrepitude comportamental no seio da Igreja do primeiro século que punha em perigo a fé. A similitude daquela situação com o nosso tempo é de tal ordem que me pareceu pertinente a escolha deste texto para nossa reflexão.


4. Hoje, ao olharmos a sociedade de que somos parte verificamos que, como diz o Bispo de Londres, Richard Chartres: “Deus, para muitas pessoas, foi relegado para os subúrbios do seu prazer”[ii]. Referindo um Relatório sobre o futuro da Igreja de Inglaterra (Anglicana) onde se prevê que a frequência actual aos cultos irá decair em dois terços nas próximas três décadas e que a Igreja rapidamente se esvaziará passando a média das idades dos seus membros para os 63 anos, o Bispo Richard confessa que “muitos cultos são maçadores e sem um objectivo definido; a Igreja – a comunidade cristã – parece ter tão pequeno impacto na vida social, cultural e política que se torna crucial debater a existência de Deus, pois a Sua ausência é demasiado evidente”.


5. O Vaticano, por sua vez, está preocupado com o demasiado tempo que as pessoas gastam a ler jornais, a ver televisão ou a navegar na Internet, comparando-o com o seu dispêndio na leitura e meditação da Sagrada Escritura. Na perspectiva Católica Romana essa “quantidade de tempo desproporcionada” (podendo configurar uma dependência) pode identificar-se como um dos “novos pecados” que os seus fiéis têm de referir na sua confissão individual.


De facto, a Internet está a tornar-se aquilo a que alguns chamam “uma construção colectiva”, um espaço de socialização novo e global, em que milhões de pessoas no mundo colaboram e partilham todo o tipo de informação on-line. Esta é a maior das consequências do processo de globalização em que todo o planeta está mergulhado – a interdependência pela comunicação das pessoas e dos povos – que vem trazer-nos novos modos de estar e de conviver. Está, portanto, a criar-se um novo mundo em que a relação entre as pessoas ganha foros de soberania, mas, sem uma referência com carácter valorativo que sobressaia e arbitre tal complexidade de relações. Isto é, caminhamos cada vez mais apressadamente para um tempo em que a capacidade tecnológica posta à nossa disposição nos transforma em fautores da existência à luz da mera consecução dos nossos interesses. E Deus onde está em tudo isto?


6. O que realmente é preocupante para a fé é a ausência, ou o lugar menor, de Deus nesta sociedade. É que quando na vida o Deus vivo é posto à porta de casa, à porta da alma, e, dessa forma, desaparece ou esmorece o contacto com uma âncora que fundamente a segurança e a esperança existenciais, as pessoas caminham à deriva e afundam-se no aborrecimento, no desalento, no espírito de abatimento a que os profetas se referem.

A par disso, no nosso andar civilizacional descobrimos tendências de sinais contrários: o indiferentismo religioso lado a lado com o recrudescimento duma religiosidade fundamentalista; o relativismo excessivo, inibidor da aceitação do absoluto como necessidade básica do equilíbrio existencial, com o aparecimento de inúmeros deuses ou fetiches que ocupam o lugar do Deus vivo e verdadeiro. É realmente o tempo da ausência de Deus.


7. Entre nós também vivemos tais condicionalismos. É evidente a crescente média das idades dos nossos membros mais assíduos; o desinteresse dos jovens pelos cultos regulares e por uma relação pessoal e comprometida com Deus; a ausência de jovens adultos e de casais jovens com seus filhos às actividades da Igreja. Por outro lado, vamos minguando em capacidade pastoral com o avançado estado de idade e de doença de vários dos nossos clérigos, sem que se vislumbre substitutos que os possam render adequadamente. O Cardeal Patriarca de Lisboa, D. José Policarpo, e o Bispo do Porto, D. Armindo Coelho, queixaram-se do mesmo, nas celebrações da última Quinta-feira Santa. Este último lamentou: “a cultura actual, secularizada, religiosamente neutra e indiferentista, agnóstica ou ateísta, individualista e economicista, não favorece, contraria ou anula muitos dos sinais de esperança que despertam na juventude, nomeadamente quanto à vocação para o presbiterado, a consagração religiosa e o matrimónio religioso.”[iii]


8. Mas o nosso Deus, em vez de cinza, unge-nos com o óleo da alegria, em vez de pranto veste-nos de festa para o louvor (Is. 61, 1-3). Deus trabalha na Igreja e, mesmo perante a nossa visão triste, restabelece-nos a confiança. O Arcebispo de Cantuária, nosso Metropolita, Rowan Williams, a propósito de todo este estado de coisas, disse há poucos dias: “ A Igreja está a debater-se com o mais profundo conflito, e eu não estou optimista; mas é a Igreja de Deus e se eu não confiasse n’Ele não estaria a fazer o que faço. (...) Os cristãos devem ser coerentes – aquilo porque oro todos os dias.” No fundo, quer dizer-nos assumi a vossa condição de trabalhadores no nevoeiro, sem grande visão do futuro, com as palavras do salmista na mente “Põe a tua vida nas mãos do Senhor, confia nele e ele te ajudará” (Sal. 37, 5).


9. Na verdade, assim como Deus pode fazer das pedras descendentes de Abraão (S.Mat 3,9), também pode fazer da Sua ausência na vida das pessoas um instrumento de compromisso com elas. Isaías refere-se ao Deus ausente como o Deus escondido – “Não há quem te invoque, nem se esforce para procurar apoio em ti, porque desviaste de nós o teu olhar e afastaste-te de nós, devido às nossas iniquidades. Mas tu, Senhor, é que és o nosso pai. Nós somos o barro e tu és o oleiro; foste tu que nos moldaste a todos.” (Is. 64, 6-7). E, numa verdadeira manifestação de confiança, afirma “Espero no Senhor, que por agora ocultou o seu rosto aos descendentes de Jacob. Espero pacientemente nele.” (Is. 8,17). Ou seja, somos chamados a conhecer a realidade mas, também, a confiar e a trabalhar para a sua transformação.

Ora é aqui que se põe a importância do conselho de Judas “Orai no Espírito Santo”.


Oração – coerência no pedir

10. Jesus incita-nos: “peçam, e Deus vos dará; procurem e hão-de encontrar; batam à porta e ela há-de abrir-se, pois o que pede, recebe; o que procura, encontra; e a quem bate, a porta se abrirá”. E esclarece: “se vós, que sois maus sabeis dar coisas boas aos vossos filhos, quanto mais o vosso Pai que está no céu dará coisas boas àqueles que lhas pedirem!” (S. Mat. 7,7-12). Não há dúvida, devemos pedir. Mas, Jesus também aconselha sobre o modo como devemos pedir: “quando orarem, não usem muitas palavras, como fazem aqueles que pensam que é por muito falarem que Deus os ouvirá. Não sejam como eles! O vosso Pai sabe muito bem do que precisais, antes de Lho pedirem” (S. Mat. 6,7-8).

Por um lado, somos instados a pedir ao Pai que está no céu, por outro, somos aconselhados a não o fazermos com meras palavras ou excesso delas, pois, o que quer que peçamos Deus o conhece antes de formularmos a nossa petição.


11. Se reflectirmos com sinceridade sobre a oração, facilmente podemos concluir que se não usarmos de algum cuidado nas nossas petições corremos o risco de pôr em causa a nossa própria noção de Deus como o Senhor de todo o amor e cuidado por nós. De facto, quando fazemos da nossa oração um rol, uma ordem de interesses próprios que levamos a Deus para que execute, ou mesmo uma tentativa de convencer a Deus da bondade das nossas causas, esquecemos que estamos implicitamente a dizer que Deus está longe, nos desconhece, não se recorda de nós ou não nos presta atenção. Assim, rebaixamos o que pretendemos enaltecer e, também, caímos na tentação (rejeitada por Jesus no deserto perante o maligno) de transferirmos para Deus a nossa responsabilidade na resolução de muitos dos nossos problemas.

É o caso daquela senhora que me dizia que de vez enquando se zangava com Deus. Tinha muita fé, conversava muito com Ele, mas quando as coisas não corriam de feição, então, dizia-Lhe umas coisas... porque, por vezes, Deus se esquecia dela. Eis uma fé pouco esclarecida, fundada na visão de um Deus “ao nosso serviço”, uma imagem de Deus sem relação com o Pai amoroso que Jesus nos veio mostrar. Isto é, o conhecimento de Deus para esta pessoa parou nas descrições simplistas da catequese para a primeira comunhão. É evidente que o lugar que o Deus vivo e verdadeiro devia ocupar na sua vida foi, ou está a ser, substituído por uma projecção de si própria, um falso deus, criado à medida da sua necessidade.


12. Realmente S. Paulo diz-nos que “não sabemos orar como convém (...). Só o Espírito nos ajuda e pede a Deus por nós, conforme os seus desejos, pois Deus vê mesmo dentro dos próprios corações e conhece o que o Espírito deseja” (Rom. 8,26-27). O pedido em oração deve ser, antes de tudo, uma manifestação de humildade perante o Senhor, e não palavras ditas com mais ou menos sentimento, desejos formulados, por mais puros e sinceros. O que conta na oração, mesmo de petição, é a consciência de que Deus nos ama e tem para nós um plano.

E o Apóstolo Paulo explica: “O Espírito penetra em tudo, até nas profundezas dos planos de Deus. Quem é que conhece bem o homem, a não ser o seu próprio espírito? Do mesmo modo, só o Espírito de Deus conhece o que há em Deus. E nós não recebemos o espírito deste mundo, mas o Espírito que vem de Deus. Assim, podemos reconhecer todos os dons que Deus nos deu. (I Cor. 2,10-12)

Aquilo a que Paulo nos chama a atenção é que a oração no Espírito Santo, nos pode fazer reconhecer que os nossos pedidos a Deus são um dom de Deus e não a mera decorrência duma vontade humana interessada na obtenção duma graça. O Arcebispo de Cantuária William Temple (1942-45) dizia que “quando oro acontecem coincidências; quando deixo de orar, as coincidências desaparecem”. Isto é, a nossa oração tem de ser entendida como um meio, não para converter Deus aos nossos interesses – Ele não precisa da nossa oração para nos querer bem – mas, isso sim, para nos convertermos ao Seu amor e ao amor aos outros. Por isso, não pode depender da nossa agenda particular, mas, acima de tudo, tem de depender da nossa vontade de crer ser parte (participante) da vida de Deus e da acção dessa mesma vida no mundo.


Oração – afectividade de coração

13. No Evangelho de S. João, as narrativas bíblicas de encontro directo entre Jesus e algumas pessoas mostram a amabilidade do Senhor, uma amigável maneira de se aproximar e de levantar a importante questão ligada a cada uma das situações: “o que procuras?”. Vemos isso com Nicodemos, a Samaritana, o paralítico, o cego de nascença, os primeiros discípulos e, também, com Maria Madalena na narrativa da ressurreição. Jesus interroga-a partindo da situação em que ela se encontrava, “porque choras?”, “a quem procuras?” (S. João 20,15) a fim de se aperceber do que ela tem de compreender de si mesma e, em seguida, manifesta-se. Porque é que o evangelista S. João nos apresenta este processo de reconhecimento gradual de Jesus? Maria Madalena não reconhece Jesus no primeiro momento – pensava que era o jardineiro – mas somente a seguir. Repare-se que este modo de reconhecer Jesus é análogo ao de S. Lucas, no episódio dos discípulos e Emaús. O Senhor ressuscitado quer introduzir a fé na vida da Igreja como valor primeiro; então, gradualmente, pacientemente, tornando-se sensível ao coração, Ele abre as almas à confiança, e desta vem depois a possibilidade de reconhecer-se que é Ele.[iv]

14. Este é um processo de oração, que acrescenta à nossa relação com Deus, baseada na palavra e na mente, a afectividade do coração. Procurando sinais da presença de Deus na nossa vida vamos reconhecendo-O lentamente e experimentamos a verdadeira e profunda confiança que nos anima. Quantas vezes na dificuldade de entender o encontro com Jesus e de nos rendermos à sua acção transformadora, dizemos, como a desculpar-nos: “se as coisas fossem diferentes...”, “se eu fosse mais inteligente ...”, “se tivesse mais tempo para a oração...”, “se a minha Paróquia fosse diferente...”. Com aquelas narrativas o evangelista S. João vem dizer-nos: lá, onde tu estás, o Senhor está presente, perto de ti, e tu podes reconhecê-lO pela tua fé e pela tua caridade.

A oração no Espírito Santo, de coração aberto, permite-nos, assim, a descoberta permanente e íntima de Jesus na nossa vida diária, transformando as trevas do dia-a-dia em sol de alegria, em virtude da presença do Senhor crucificado por nós e por nós ressuscitado.


Oração – mistério e beleza

15. No princípio dos anos 80 do século passado, numa encontro ecuménico internacional fiquei chocado por ouvir um pastor protestante holandês apresentar a poesia como um caminho, entre outros, para enfrentar os problemas sociais daquele tempo. O que ele queria dizer – compreendo-o hoje – era que a beleza é também parte da nossa vivência espiritual. Quando nossa oração, para além de palavras e pensamentos, é uma procura de Deus, na escuta, no silêncio, na quietude, somos tocados pelo Seu mistério e penetramos na ambiência da beleza, um modo espiritual de olharmos a realidade. Desta forma, a oração pertence à dimensão do mistério, porque é relação com a transcendência, está para lá da materialidade da nossa vida.

16. A beleza é um modo de ser próprio de Deus, na sua santidade, na sua misericórdia, no seu amor entranhado. Ir a Ele é abrir as portas ao inefável, ao belo, ao outro lado da vida, mesmo que nos custe ou não o compreendamos. Ver a fragilidade e a finitude do nosso ser amedronta-nos e abate-nos, conviver com o sofrimento humano e a decrepitude do doente consome-nos a alma e desgasta-nos. Só na relação humilde com o mistério de Deus podemos “olhar” o que está para além da nossa fraca humanidade e “descobrir” a finalidade do que nos rodeia: a espiritualidade. É isso que nos permite compreender em Jesus, na sua figura sofredora na cruz, o amor que partilha a dor, a beleza que salva. Jesus Cristo é a beleza capaz de consolação, a outra leitura do nosso humano modo de estar, a outra dimensão (cruz, morte, ressurreição) que ilumina com outras cores a nossa realidade frágil e pouco apetecível.

Santo Agostinho dizia: “quanto mais cresce em ti a beleza, cresce em ti o amor, porque a caridade é a beleza da alma”. Ora, quando a nossa oração é vista como um dom de Deus, orar é dialogar com Ele em atitude de relacionamento confiante. Abrindo-nos ao seu Espírito e à Sua vontade – a beleza da Sua presença - acolhemos os ditames da nossa existência e aprendemos a amar.


Conclusão

17. Caríssimos irmãos em Cristo, somente na relação com a Deus se encontra a motivação para o amor ilimitado, o perdão e a compaixão que podem oferecer esperança ao mundo. Na verdade, para lá de todas as aparências, os nossos contemporâneos precisam de ver vidas transformadas que mostrem uma realidade espiritual de sabedoria e compaixão, a fim de encontrarem a força para modelarem as suas existências à luz duma visão criativa, da motivação ética e da reconciliação.

Isto significa que estamos destinados a uma luta sem tréguas pela alma deste mundo. Não duvido que, como gente de fé, se nos dermos de corpo e alma ao serviço do amor de Cristo, à graça de sermos Seus embaixadores na singeleza do nosso coração, então veremos grandes coisas.

18. Na palavra de Paulo, a vida da comunidade cristã saudável compreende a actividade da fé (a vivência espiritual), o carácter serviçal do amor e a fortaleza nos sofrimentos própria da esperança (I Tes. 1,3). É um programa de compromisso que nos exige estudo e compreensão dos sinais do nosso tempo, atitude de serviço na atenção, escuta, compreensão e consolação para com os que andam à deriva e angustiados, capacidade de ver o Reino de Deus, aqui e agora, e muita oração.

Se começarmos por esta, deixando-nos guiar pelo Espírito Santo, este nos mostrará o caminho e nos fortalecerá para sermos as testemunhas vivas dum amor que não tem fim. E Jesus estará connosco sempre (S.Mat. 28,20).


Que assim seja. Em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo, Ámen.
Fernando Soares, Bispo
Centro Diocesano, VNGaia, 20 de Abril de 2006

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