sexta-feira, maio 5

ARTIGO PUBLICADO NO PRIMEIRA MÃO

Artigo publicado no Jornal Primeira Mão, da autoria de Joaquim Armindo, em 28/4/2006




IRÃO, UM NOVO IRAQUE?

A história repete-se, ou melhor, está uma espiral acima. Os pistoleiros e guardas do mundo, parecem dispostos a uma nova escalada de guerra; como diziam os dirigentes norte-americanos, estão dispostos a conservar a paz, nem que para isso tenham de recorrer à guerra. Depois do fracasso guerreiro do Afeganistão, de terem contribuído para a escalada bélica no Iraque, e colocado no caos este país, a América do Norte, dispõe-se a esvaziar os seus armazéns de armas no Irão, e para isso é necessário preparar a opinião pública, para um ataque em larga escala. As nações que amam a paz, as Igrejas suas amantes particulares e todas as mulheres e homens de boa-vontade, devem levantar-se e dizer claramente àqueles que querem ser os donos do mundo, que o caminho das armas é suicida, como provaram as derrotas do Vietname.

Todos nós conhecemos que a intervenção americana no Iraque nada resolveu, para além de levar a guerra quotidiana a um país, que no Afeganistão continua a instabilidade, onde morrem todos os dias pessoas e que esta sagacidade de ataque ao Irão nada irá contribuir para uma humanidade pacifica, onde o nuclear seja banido totalmente. Não sou ingénuo, penso saber bem o que os regimes totalitários do Irão e do Iraque, são de violência atroz, mas a solução não passa pelo recurso à violência, dado que esta só gera nova violência. Se não veja-se a luta fratricida que atravessa o Médio Oriente, onde a política tem sido olho, por olho, dente, por dente. Não sou pacifista, mas sou pacífico e pretendo encarar a vida na sua plenitude, varrendo a injustiça, frutificando a solidariedade e a fraternidade, entre as pessoas e os povos, e isso não se faz com os canhões a troar. A política bélica, nunca conduziu a uma inculturação entre os povos, e à dignidade da pessoa humana, antes desfez os princípios da sã convivência na humanidade. Quem se julga detentor da verdadeira cultura, e que é capaz de vigiar os povos forçando a práticas que não são as suas, está enganado, e a história julgará no futuro essa ignorância, tradutora de graves atropelos à reconciliação da família humana.

A questão desta vez, igual às outras: um pistoleiro está apostado em esvaziar o seu chumbo, sobre um povo, sem que exista uma real consequência de Paz; só que agora dois grandes países tomaram posição a China e a Rússia, e conservam relações amistosas com o Irão, como bem diz Ebrahim Yazdi, líder do Movimento para a Liberdade do Irão, da oposição mais feroz ao regime instalado em Teerão, “ Provavelmente, o Conselho de Segurança da ONU aprovará uma resolução dura contra o Irão. Mas acredito que a democracia não chegará com os soldados americanos. Não é algo que se possa exportar ou importar”; este homem que aquando da revolução, estava em Paris exilado, e voltou para assumir o cargo de Ministro dos Negócios Estrangeiros, em 1979, toma uma posição esclarecedora que a comunidade internacional deveria considerar, se estivesse a lutar pela liberdade, democracia e igualdade, mas não está, porque subjacente estão negócios muito bem definidos dos grandes do mundo. Veja-se que a China acaba de assinar um acordo de segurança com a Arábia Saudita, um particular aliado dos Estados Unidos, na guerra do Iraque, mas na sua governação é antidemocrático, e não esquecer que são os principais fornecedores de petróleo à China.

Este tabuleiro internacional é demasiado complexo para que se vença com armas, é que ninguém sairá vencido, e as lutas mais os seus heróis prosseguirão. Um povo com a sua cultura nunca recebe de braços abertos a ocupação de exércitos estrangeiros, que só se justificam em algumas missões de paz, bem caracterizadas e sem tomar partido. Diria que o epicentro de toda a questão reside em não resolver os direitos do povo da Palestina, demora-se demasiado tempo em saber que povo irá subjugar o outro, e não em encontrar a geração duma nova postura que permita a discussão duma nova ordem internacional, onde os pobres possam encontrar a justiça. Sem esta, baseada numa cultura ética, que passa necessariamente pelas religiões, não é possível encontrar a via das soluções pacíficas.

Os povos não vão mais compreender a invasão do Irão, e semear-se-ão as vítimas, tornadas heróis, por todo o mundo, com as consequências nefastas para todas as civilizações. Exista mais respeito para as mulheres e os homens que dão a sua vida por causas em que acreditam (independentemente da discordância sobre essas acções) , os chamados suicidas, porque eles fazem parte duma cultura própria, daqueles que acreditam que com a sua morte contribuem para defender as suas causas. Afinal, bem mais consistentes que os soldados invasores de outros povos, obrigados a lutar, às vezes sem quererem.

Não sou pessimista, acredito que finalmente a causa do respeito e da dignidade vencerá, mas têm os povos de todo o mundo de se levantarem e obrigarem os seus dirigentes a seguir a política do serviço, e não a luta pelo seu pessoal enriquecimento económico, porque finalmente esta não é uma postura de causas nobres, de amizade e de fraternidade, mas a ignomínia de não saber estar, mas de usar o poder para usurpar os direitos dos outros. E estes não vão aceitar, mais passivamente estas situações. Cuidado, estamos perante um barril de pólvora, que nos pode atirar para uma guerra sem limites e com consequências imprevisíveis.

Joaquim Armindo

Membro da Comissão Política do PS da Maia

jarmindo@clix.pt

http://www.bemcomum.blogspot.com

1 Comentários:

Às 11:24 da manhã , Anonymous Anónimo disse...

jj

 

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