sábado, julho 22




Do Blogue Irreal TV:

22.7.06

50º aniversário da RTP: Livro de 'Ouro', ou livro de 'pechisbeque'?

Ainda a inquietante dúvida: será que o ‘Livro de Ouro’ que a RTP se prepara para editar no seu 50º aniversário, da autoria de Vasco Teves (ex-funcionário da RTP, ex-Chefe de redacção do Telejornal da RTP ao tempo do ditador António de Oliveira Salazar e ex-Director do Telejornal ao tempo de Marcelo Caetano), trará ‘pérolas’ de homenagem ao regime fascista como as muitas redigidas pelo ex-funcionário da empresa ao longo de mais de uma década de história dos telejornais?

Certamente a tanto não chegará, mas já chegar aqui é deveras preocupante.

No fundo, trata-se de procurar perceber das razões e da legitimidade de uma Televisão pública, num estado democrático, de entregar uma investigação desta importância, num momento histórico para a empresa, a um seu ex-funcionário altamente comprometido com o regime fascista e com as práticas censórias da RTP e dos seus Telejornais ao longo da Ditadura de Salazar e Caetano.

Será que a Televisão pública portuguesa, em 2006, se sente confortável e se revê numa encomenda 'institucional' configurada por aquelas velhas práticas de censura, silêncios, omissões, manipulações? Estará aí exactamente a razão de uma tal encomenda?

A ser assim, estamos perante algo de extremamente grave. Esta RTP permitir-se-á integrar práticas daquelas ainda hoje, 30 anos depois de Abril e, por estranha ironia, em pleno regime de maioria absoluta socialista? Haverá que continuar a silenciar (e por que estranha razão?) nos 50 anos da RTP, os aspectos históricos mais negros da Radiotelevisão Portuguesa?

Haverá matéria a esconder, coisas que não devem ser ditas, assuntos tabus que não devam vir citados num "Livro de Ouro"? O que será exactamente que inibe a RTP de se ver a um espelho (não exactamente em folha de ouro), de se deixar pensar historicamente no tempo, de forma livre e adulta, nos contextos epocais, com rigor científico, ao longo destas cinco décadas? E porquê o 'ouro'? Para nos ofuscar e não deixar ver o pechisbeque?

Enquanto cidadão e investigador da história do audiovisual em Portugal, sinto o direito à indignação e ainda o direito a exigir publicamente, em respeito pela Memória e pela História, que a RTP apresente no seu 50º aniversário uma edição em Livro em verdadeiro e profundo acordo com as suas práticas e a sua história de cinco décadas - que infelizmente não é uma história 'dourada' -, mas sim uma história tantas e tantas vezes 'negra', que chegou a ser sinistra, por exemplo para com os grandes nomes da resistência à Ditadura, uma história feita de censura, manipulação, submissão à ditadura, etc., etc, uma história que terá também os seus aspectos positivos, naturalmente, mas que necessita ser abordada na sua totalidade complexa, crítica, e em toda a sua dimensão histórica, cultural, social e política, etc., desde a ditadura aos nossos dias.

Certamente que só desta forma será respeitada e História e de igual forma o público a quem a obra se destina - os portugueses em particular -, o que significa que só assim será respeitada também a própria RTP e a sua memória. Prendá-la com o falso 'ouro' de pechisbeque será uma afronta. E a História será a primeira a não perdoar.

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