Falar de Trás-os-Montes e Alto Douro

Lobrigos - Santa Marta de Penaguião

Há quem tenha decidido "indilgar" da vida, deixar de "atabuar-se" para não passar o tempo a "canear". Se tudo isto lhe parece estranho e sem sentido fique a saber que estas palavras fazem parte do falar de Trás-os-Montes e Alto Douro cujo dicionário, da autoria de Vítor Fernando Barros, é lançado amanhã.

Fique então a saber que 'indilgar da vida' é tratar de vida, que 'atabuar-se' é empanturrar-se e que 'canear' é cabecear com sono.

"O Dicionário do falar de Trás-os-Montes e Alto Douro" regista uma recolha vocabular, a mais exaustiva de todas as recolhas efectuadas até ao presente de vocábulos em uso ou já usados na região a que se refere.

Este dicionário, explica o autor, "procede de fontes diversas", desde aquelas que a minha vivência em Trás-os-Montes outrora forneceu, passando pelo trabalho de campo desenvolvido, até ao trabalho informático e à consulta das obras referenciadas na bibliografia".

Mas, diz Vítor Fernando Barros, "este trabalho não esgota, obviamente, a riqueza do falar transmontano e altoduriense". A obra aparece organizada nos moldes de um dicionário tradicional mas " sem preocupações etimológicas".

Tudo isto "para que não se percam certas particularidades locais e, com elas, uma importante fonte linguística e etnográfica, procurando atenuar a erosão dos falares locais e contribuir para a sua autodefesa".

O autor deste dicionário explica na nota introdutória à obra, as diferenças entre dialectos e falares.

"Dialecto é, um sistema de sinais que se afasta de uma língua comum; regra geral, confinado a um espaço geográfico bem delimitado, sem se distinguir profundamente de outros dialectos da mesma origem. Quanto ao falar este é uma variedade regional da língua norma, sem o grau de coerência do dialecto, normalmente coincidente, em termos relativos, com a área administrativa. Dito de outro modo a distinção entre dialecto e falar faz-se atendendo ao grau de afastamento em relação à língua padrão".