domingo, janeiro 14

CRÓNICA PUBLICADA NO PRIMEIRO DE JANEIRO

Crónica publicada hoje no Jornal O Primeiro de Janeiro, da minha autoria


ÁGUA VIVA

OLÁ PAI!


Tu ensinaste-me a ser como sou. A verticalidade, frontalidade e coerência. Ensinaste-me a ser honesto, a lutar contra a injustiça, e mesmo na “noite mais fria, em tempo de escuridão”, eu ouvia contigo a rádio da liberdade. Era proibido, tu sabias, mas mais forte que isso, foi dares a este teu filho a possibilidade de ser livre. Mas outras coisas mais, como jogavas comigo a bola, lembras-te?, contra os móveis lá de casa, ralhavam, mas deixa lá!, foi assim que me criaste. E era bom! Deste-me o exemplo do trabalho, quando saías, tantas semanas pai, para ganhares o meu sustento, e eras tu, pai, que fazias isso. Tu sabes que vivemos natais, onde só porque o merceeiro, o sr. Amaro, fiava, é que se comia bacalhau. Mas tu deste-me tudo, tudo na vida. Deste-me a confiança e o exemplo, por isso eu continuo a ser o teu Mindo. Tu eras, e és, eu acredito, um homem bom, que dava a camisa que vestia a qualquer um, e na nossa casa, pessoa que chegasse era sempre da família. Todos conheciam o sr. Mário, porque ele era assim, um homem lutador e do povo, e que não vergava quando se tratava da justiça, eras um homem de paz, mas daquela que se ganha pela justiça. Por isso com os teus braços carregavas as achas da fábrica do Carvalhinho, para ganhar o pão do nosso quotidiano.

Estudamos na mesma escola as primeiras letras, a do Torne, e tinhas um carinho muito grande pela tua capela, a da Igreja Lusitana. Lá aprendemos a conhecer a vida, lá aprendemos a conhecer Jesus. E foi com este Jesus que te fechei os olhos no passado domingo, quando deixaste de respirar. Partiste para uma outra vida, onde não tens que ter medo, e o amor reina. Foi muito bom viver contigo, e naquela hora em que deste o ultimo suspiro (eu ouvi-o, e senti-o!), eu estava ao teu lado e dei-te os últimos beijos em vida.

Por isso estou aqui sempre disponível para seguir os teus passos. Tudo te devo a ti. Por isso pai, agora, na Primavera (que tanto gostavas), no Outono ou no Verão, ou mesmo no Inverno, em todas as manhãs da minha vida hei-de acordar e dizer: Olá Pai!, e tu vais ouvir-me.

Joaquim Armindo

Mestrando em Saúde Ambiental e Licenciado em Ciências Religiosas

jarmindo@clix.pt

http://www.bemcomum.blogspot.com

Escreve no JANEIRO quinzenalmente.

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