segunda-feira, dezembro 13

INTERVENÇÃO DOS LEITORES

CARTA DO CANADÁ
Fernanda Leitão

ARMAS DE ARREMESSO NA NACIONAL PEIXEIRADA

Finalmente, o Presidente da República fez o que a esmagadora maioria do país desejava há meses: dissolveu o parlamento e convocou eleições antecipadas. Fê-lo num discurso em que ficou claro, para os portugueses residentes no país e no estrangeiro, que o chefe do estado e o homem da rua concordam na incompetência, na irresponsabilidade, na leviandade e desrespeito pelas instituições do governo presidido por Santana Lopes. PR e Povo só não estiveram de acordo quanto ao timing porquanto todos teriamos desejado esta tomada de posição há quatro meses atrás.
O governo, posto em sentido e de trela curta, fez o que se esperava: demitiu-se com tiradas melodramáticas de honra por apurar, o que é uma forma solpada de fuga às responsabilidades. E, imediatamente, tirou da cartola as armas de arremesso costumeiras: o caso de Camarate e o desvio de avultadas quantias do Fundo Ultramarino. Esquecido que, quando mataram Sá Carneiro, Amaro da Costa e seus acompanhantes, o governo era da AD, isto é, do PSD e do CDS, como agora, e que uma alta figura do CDS, Freitas do Amaral, apareceu naquela mesma noite na TV declarando, peremptoriamente, que tinha sido um acidente. Ainda sob esse governo, e depois nos governos de Cavaco Silva, todos pudemos testemunhar o deixa andar posto nas investigações e no apuramento total do caso.
Quanto ao Fundo Ultramarino, também em banho Maria durante os governos AD e PSD, ficará para a história como o caso da Moderna. Tudo bem tapado. Porque, se tivessem sido apurados de alto a baixo, sem medo nem preconceito, era o próprio regime que caía como um castelo de cartas. E porque assim era, preferiram arranjar outros processos mais mediáticos, misturados com quintas de celebridades à moda da Reboleira, mais picantes, mais chungosos, de modo a distraír a populaça.
Nas próximas eleições não serão julgados pelo grande tribunal popular apenas Santana Lopes, Paulo Portas e outros ministros que saem desta prova esturricados. Durão Barroso, o fujão maoísta do quanto pior, melhor, e sequazes seus como Martins da Cruz e José Cesário, serão julgados com toda a severidade aquém e além fronteiras. Por isso, e porque estas figuras não primam pela lucidez, se compreende que puxem destas armas de arremesso, insultem tudo e todos. Esquecem-se que os partidos da esquerda, e desta vez aplaudidos pelo povo, podem tornar públicos muitos acontecimentos passados na Figueira da Foz, em Lisboa, na Universidade Moderna, em São Julião da Barra, na Arrábida, em certas empresas. Se os da coligação de direita puxarem muito pela corda da baixaria, até histórias do Parque Eduardo VII varrerão o país de lés a lés. Fosse nos Estados Unidos da América que já os jornalistas tinham contado isso tudo. Mas alguma vez há-de ser. E desta vez bem pode ser. Talvez dentro de pouco tempo Santana Lopes, Paulo Portas, Gomes da Silva, Morais Sarmento, Nobre Guedes e quejandos percebam, na própria pele, que má ideia tiveram ao bater de frente com a comunicação social e ao quererem abocanhar o serviço de informações. Ou eu me engano muito ou se está a preparar uma marrada que porá alguns a morrerem de fome no ar.
Em resumo: depois de um governo de mão na anca e pé na chinela, de canastra vazia sobre a cabeça tonta, segue-se a maior nacional peixeirada que o país já viu. Muitos não sobreviverão politicamente, e até mesmo socialmente, a essa prova. Mas da barrela hão-de sobrar alguns. Oxalá sejam aqueles com a humildade de chamar quem sabe administrar, quem sabe dirigir, quem sabe respeitar o povo que lhes paga e os sustenta.
Mas que há perigo de naufrágio, isso há. Já os ratos começaram a abandonar a barca. Até essa grande ratazana da emigração, Manuela Aguiar, saíu precipitadamente da vida política. Fora os que já estão a abordar outros partidos.
Ora o raio da Repulha que só nos dá vergonhas!

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