terça-feira, janeiro 25

ARTIGO PUBLICADO NO JORNAL PRIMEIRO DE JANEIRO, EM 18/1/2005

MOSCARDEIRO



MAIA: E O CINEMA ?

Os tempos têm sido difíceis para a cultura nestes três anos de consulado liberal e popular. Vilipendiando todo o trabalho dos governos de António Guterres, a actual maioria desbaratou todo o esforço na construção de um Portugal diferente, mais cosmopolita. Tudo isso se foi perdendo e só as grandes instituições (como Serralves ou o CCB) se mantiveram (apesar das dificuldades) com programações regulares e com alguma vitalidade cultural. Isso ainda foi mais sentido na região do Porto, com uma política diletante, assente na célebre expressão "Quando ouço falar de cultura, puxo da calculadora". Era uma nova forma de fazer política, e de mandar às malvas a cultura.

Contudo, apesar do poder central ter abandonado ou atrasado muita da produção portuguesa, nos últimos tempos, algumas câmaras municipais têm sabido ultrapassar esses problemas e apostado elas próprias em acontecimentos culturais diversos e interessantes. Muita da boa produção portuguesa tem passado, por isso, em muitos locais de Portugal. Este desenvolvimento trouxe, sobretudo, uma nova dinâmica cultural, agora assente em produções locais e equipas novas. Esse movimento foi também ponderoso.

O campo cultural tem sido um objectivo específico da Câmara Municipal da Maia. Principalmente devido ao facto de se pensar a cultura como um eixo fundamental do crescimento das pessoas, embora na actual gestão autárquica se tivesse invertido essa tendência, e colocado os défices no epicentro da sua actividade. E esta práxis não é correcta. De facto, sem uma construção cultural homogénea, nunca teremos concelhos desenvolvidos e conscientes para uma participação cívica activa. A cultura faz parte dessa consciência. Na oferta cultural maiata há um pormenor que tem sido ostracizado frequentemente: o cinema. Apesar das sucessivas intenções não tem havido nenhuma actividade de especial relevo. Alguns pormenores são necessários detalhar.

Vivemos em Portugal um movimento contraditório: há cada vez mais salas de exibição cinematográfica, mas com cada vez menos filmes. Na Maia, por exemplo, há oito dessas salas, mas apenas podemos ver as obras que nos são oferecidas por uma distribuidora. O que falta em termos de diferentes propostas é a diversificação de distribuidoras, logo das cinematografias variadas, quer nas suas origens, quer no seu aspecto temático. Para os habitantes da parte ocidental da Maia, que pretendam obras de outros contextos, é mais simples irem até outros concelhos ver cinema do que na Maia (aonde é longe e complicado ir).

Sim, há falta de diversidade no cinema da Maia, assim como há falta de o trazer para o centro (não deixa de ser irónico que não haja, agora, nenhuma sala de cinema nas imediações da praça central da Maia). Vamos desembocar, finalmente, à questão do cinema Venepor. Foram pensados alguns projectos, mas a sala continua fechada e à espera de espectadores. Era aí que se poderia criar um pólo novo, com um risco novo, para poder mostrar aquilo que não pode ser visto na Maia. Esse tipo de cinema, que se iria suportar nos filmes que podemos ver em Portugal (mas que não chegam à Maia), poderia dar um salto qualitativo e um novo alento à leveza dos filmes que nos são impostos.

Há vários pólos que a Maia foi construindo. Um deles é o Fórum da Maia, onde a maior parte das grandes exposições acontecem, e onde são feitos diversos colóquios, apresentações e seminários. A revitalização do cinema Venepor poderia ser mais um passo para a transformação do centro da Maia no pólo vital de desenvolvimento cultural. Assim, a cidade poderia reclamar uma palavra na exibição cinematográfica (que, apesar dos recentes sinais de revitalização, continua a ser uma panorama pobre na região do Porto) e trazer os circuitos independentes aos olhos dos maiatos.

Os responsáveis autárquicos que continuam preocupados com outras coisas e enredados com o défice camarário, bem poderiam começar a pensar seriamente que a cultura é a centralidade e motor da capacidade realizadora das pessoas. E isso também passa pelo cinema, não é correcto ignorar esta forma poderosa de formar ou deformar as pessoas.

Uma política cultural assente em pilares prospectivos, não pode, nem deve, porque é crime, deixar um cinema – o Venepor – propriedade da Câmara, com uma única função: a de estar fechado, quando a oferta na Maia é pobre. Haveria que ser ousado para vencer inércias e apostar com garra, também neste domínio, no sentido de dar ocupação àquilo que se adquiriu. Ou vamos continuar a ignorar o que temos, e a que não damos ocupação, porque a nossa preocupação não almeja para lá do défice dos euros, e as pessoas só existem quando lhes pedimos o voto?

Quando abres Venepor ?

Joaquim Armindo
Membro da Comissão Política do PS da Maia
jarmindo@clix.pt
http://bemcomum.blogspot.com/

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