terça-feira, fevereiro 22

ARTIGO PUBLICADO NO PRIMEIRO DE JANEIRO

Artigo da minha autoria publicado no Jornal Primeiro de Janeiro, em 15/2/2005.
MOSCARDEIRO


AS OMISSÕES E AS TRAPALHADAS



Nesta campanha eleitoral que varre o País, temos assistido a todos os truques e malabarismos não só no sentido de garantir os indefectíveis (?) apoiantes, mas o de tentar angariar de qualquer forma mais uns votos. É assim em todas as campanhas, elaboram-se programas, promete-se, e depois, pouco ou nada se cumpre.

Todos nós o sabemos, sobretudo os que já andámos nestas actividades eleitorais em que fomos candidatos; o que não percebemos são as atitudes e comportamentos de quem sabendo que desta vez pode perder, o que ontem ganharam, de tudo se servem, da maledicência à invenção desapoderada. Até ao ponto de se servirem de expedientes, de um tal mau gosto, que até os seus filhos sofrem por isso.

Não vou falar naquela figura sinistra, com silhueta zangada, voz altiva, nariz empinado, que gostaria de enviar dezenas de submarinos, mar alto, contra um mini cargueiro, albergando menos de meia dúzia de pessoas; desse não me apetece, lembra-me alguém, de má memória, que em nome duma “moral pátria” a todos subjugava. Deste nem sequer falo, deixo-o com os seus fantasmas a esgrimir contra moinhos de vento, mas não o comparo a D. Quixote, pelo apreço que tenho a esta figura e a Cervantes.

Dum outro, que se diz social-democrata, defensor dum PPD/PSD, hoje irreconhecível, com um discurso de permanente vítima, quando é ele próprio que vitimou o nosso povo, durante poucos meses, é certo, mas que daria cabo disto tudo; sempre em nome de princípios e de valores, que proclamados até parecem ser verdadeiros, em defesa dos mais carenciados.

Na sua incapacidade de estadista, omissões e trapalhadas com que tem, incompreensivelmente - ou talvez não -, atulhado a discussão política e metido figuras na senda eleitoral, as quais, por direito, preferem estar caladas, é que não posso esquecer, até pela compreensão e amizade que me merecem os verdadeiros sociais-democratas. E com estas atitudes afasta, cada vez mais, as pessoas e descredibiliza aqueles que mais atentos estão à causa pública. Os políticos servidores, sabem que a vida não é só subsistir da política, mas trabalhar e dar de si aos outros, o que de melhor detenham. O pior é que alguns mais não sabem fazer do que sobreviver de intrigas e dos nossos impostos, para alcançarem “futuro” e sejam, quais mercenários, combatentes da causa do sua própria conveniência, ou servir a casta de interesses instalados, que lhes dão berço.

Cavaco Silva foi chamado à liça nesta campanha - todos sabem das diferenças que nos separam, e de que nunca o apoiei - ele teria confessado que uma maioria absoluta do PS, o único partido que a poderá obter, reforçaria a credibilidade e daria força à governação de quatro anos, para que o nosso povo pudesse depois pedir contas. Logo, aquele que vive à custa do Orçamento de Estado, cujos grandes feitos são sustentados pelos “colonizadores” do “rectângulo” veio em altos berros, como sempre, pedir no seu tom destemperado, a cabeça de um tal senhor Silva. Mas o professor não falou, fez constar que não estava a falar de apoio ao PS, mas a uma necessidade nacional. Ora este “não falar”, é o falar por omissão, é o não estar calado, quer se queira, quer não, este fazer “constar”, nem que seja, como o foi, através de “pessoas chegadas”, não é mais que sublinhar, no momento, o apoio ao PS, e à maioria que pretende obter.

De passagem, lembremos que aquele tal Sr. Silva, decerto o Prof. Cavaco Silva, foi talvez o único primeiro-ministro que mais se opôs às birras do presidente do governo regional da Madeira, nas suas megalómanas exigências de transferências financeiras e de autonomias inconstitucionais. É de realçar igualmente, pelo que vale na apreciação aos posicionamentos políticos do senhor dr. Alberto João, este hoje estar apoiando a vitimização do seu candidato laranja pelos pretensos grupos financeiros, quando é o próprio que dá, com largos proveitos, albergue a um paraíso fiscal...

Miguel Cadilhe, um dos conceituados economistas do Porto, também esteve na primeira linha das investidas da “vítima”, ao ser proclamado como certo num futuro governo do PSD (ou do PSD/PP ?). Mas este, também, fez saber que não, (ver Expresso da semana passada), dado não estar de acordo com a coligação com o ex-Independente. Esta posição, muita clara, é de quem não apoia a política, as atitudes e os comportamentos da actual liderança do PPD, e prefere manter-se afastado. Não falou, mas também “fez constar”, por omissão, que não pode apoiar a desastrada conduta do seu Partido. E fez bem !

Como disse, por omissão também se fala, e estas são, de facto, duas omissões que falam. Só se conseguem compreender, dentro das trapalhadas, de alto astral decerto, em que o actual timoneiro do PPD é pródigo.

Em cada dia do seu governo, mesmo agora que se demitiu, quando acordo, ao som da rádio, eis mais uma trapalhice, o que acabou por ser natural. Não venha, então, armar-se em vítima, quando o não é. As suas confusões deram lugar a um conjunto desastrado de discursos, e por isso o Povo Português, e em particular o maiato, não lhe pode dar o mandato, sejam militantes, simpatizantes, ou mesmo votantes, do seu Partido. É necessário que se diga, com muita clareza não estar com ele(s).

Por isso mesmo, votar em massa no PS, conferir-lhe a maioria absoluta, é uma questão de sobrevivência nacional, e um dignificar a vida política. Para que não existam omissões, nem mais trapalhadas, e se existirem lapsos cá estaremos para cobrar, criticando.

Joaquim Armindo
Membro da Comissão Política do PS/Maia
jarmindo@clix.pt

http://bemcomum.blogspot.com/

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