domingo, junho 12

ARTIGO PUBLICADO NO PRIMEIRO DE JANEIRO

Artigo da minha autoria, publicado no Jornal O Primeiro de Janeiro, de 5/6/2005:


ÁGUA VIVA


SEGUE-ME !



O livro do Evangelho deste domingo, tem o nome de Mateus, o que não significa que tenha sido este, o publicano, a escrevê-lo; certamente poderia ser um anónimo o seu autor, servindo-se de várias fontes entre as quais as orais, os outros três evangelhos e a fonte chamada Quella. Não existem porém dúvidas que este escrito, date dos anos 70 a 80 da nossa era, da mão de um hebreu e para uma comunidade onde estes pontificavam.

É pois um Evangelho escrito e reescrito, muito bem elaborado, e, sobretudo, catequético, o que retira a possibilidade de ser escrito pelo apóstolo Mateus. No entanto, isto tem interesse para nos conduzir à compreensão das reais circunstâncias das palavras e símbolos expressos, dado tratar-se de um texto redigido a judeus convertidos, e num momento em que o legalismo religioso está a voltar ao de cima, com uma clara instalação comodista e religiosa.

E é neste cenário que aparece Jesus contado, como ferindo essa legalidade e moralidade, não só comendo com pecadores e publicanos, mas fazendo o convite a um deles para o seguir. Estou a ver aquela comunidade bem comportada, querendo seguir o Senhor, mas amarrados a uma tradição moisaica, (séc. XIII a. C.), ouvir esta estória. Talvez fosse um escândalo e muitos, certamente, terão abandonado aquela comunidade.

Os publicanos eram homens desprezados, cobravam os impostos para uma potência que subjugava o povo e os pecadores eram os excluídos de então, aqueles que deveriam ser apedrejados segundo a lei. Nada disto faz Jesus, antes globaliza o amor, e faz o convite “Segue-me”, e eles o seguiram.

Bonita lição para os dias de hoje, onde todos nós desprezamos aqueles que pensamos não estarem a ser moralmente seguidores dos nossos preconceitos, e então nem nos sentamos à mesa com eles, em nome de comportamentos dominantes, e de práticas que erradamente dizemos ser de Jesus.

O Evangelho de hoje impele-nos a uma outra atitude, a de não julgar, convidando todos para a nossa mesa, numa globalização outra, desta feita a do Amor do Senhor.

Seremos, cristãos, capazes disso?

Joaquim Armindo
Licenciado em Engenharia e Ciências Religiosas
jarmindo@clix.pt
http://bemcomum.blogspot.pt

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