sexta-feira, julho 8

ARTIGO PUBLICADO NO PRIMEIRA MÃO

Foi publicado no Jornal Primeira Mão, o artigo da minha autoria, em 1/7/2005:


A IDEIA DA MAIA



Uma ideia, é isso mesmo, um conceito, representação intelectual, uma inspiração, desígnio, e é isto que não consigo descortinar no livro do Dr. Mário Nuno Neves, “Uma Ideia para a Maia”. Neste livro, de perto de 40 páginas, leio não “um verdadeiro programa de governo”, como lhe chama o prefaciador , mas aqui e acolá frases que não constituem mais que retalhos, e estes não fazem uma manta, que pretendem traçar o futuro da Maia para uma década.

Se isso fosse verdade estaríamos perante um documento estratégico, estrutural, mas não, aos nossos olhos verifica-se aquilo que parece ser uns saltitos de umas matérias para outras, sem coerência, nem visibilidade de futuro. E mesmo quando o autor do primeiro livro da colecção “Horizontes e Rumos”, pretende ir ao passado para obter as necessárias lições para o futuro, a desilusão é completa.
Bem sei que o meu amigo Dr. Mário Nuno, teve o cuidado de colocar um artigo indefinido antes da palavra Ideia (Uma), mas isso não significa que o autor não pretenda ser a ideia para a Maia, o que não é!, e convenhamos, em todo o livro sente-se uma falta de humildade política, que só lhe ficava bem.
Confunde ideias, ou ideia, com propaganda, claramente político – partidária, ao chamar à colação alguns actores da maioria que governam a Maia, e sem rebuço enumera medidas micro, para serem alavanca de uma década, o que é no mínimo completamente desajustado.
Do Dr. Mário Nuno, que até tem, em parte, sido um bom vereador da Cultura, esperava-se mais, nos conceitos e na arquitectura do livro; é muito pouco ambicioso no perfil da Ideia para a Maia, com banalidades, e sem que se descortine um rumo, um epicentro do seu pensamento, e não deixa que as ideias saiam.
Diz o autor que a sua “Ideia” é ideológica, e eu direi partidária, e talvez nesta simbiose começa a confundir entre o seu partido (CDS) e o outro que com ele faz a maioria, o PSD, daí que mistura realidades e pensamentos diferentes, num atropelamento que é fatal para o livro, de que é exemplo o referente ao Desporto, onde advoga apoios unicamente às modalidades amadoras e escolares. Sem querer afirmar que estou em desacordo com tal afirmação (antes pelo contrário), a prática do Executivo que tanto defende no livro tem sido contrária a esse procedimento. Será que na “década” vamos ter uma inflexão? Não acredito!
A “Breve análise estatística do Concelho”, nem chega a ser breve, porque não é nenhuma, limita-se a enunciar uns quantos números, mas depois não tira partido deles, não os prospectiva, é como ficassem por isso mesmo “números”, e a “ideia” fica esbugalhada na senda duma “difícil tarefa da actual câmara municipal”. Percorrendo o caminho fácil de classificar Portugal como “um país de escassos recursos económicos”, esquece-se da grande verdade que é a gestão eficiente e eficaz e dos seus mecanismos, e do que anteriormente, e bem, afirma que o “nosso maior problema” é “um problema eminentemente cultural”. E se o é, então o fio-de-prumo é esse, e não o refúgio em projectos, como o Maia Digital, que só o serão se mantiverem o seu lado de complementaridade e não de fundamental.
Falta neste livro, ao Dr. Mário Nuno, referir as ideias consistentes que tem para a Maia, como o seu título deixa antever, no referente à macro economia e financeira da Câmara, à estrutura que a suporte, e à consequente estratégia que a consubstancie. As linhas força duma Câmara passam necessariamente por um projecto de gestão, que possua como substância a abertura a pactos de desenvolvimento e emprego, e que forçosamente atraia os parceiros sociais à sustentabilidade. Ora isso significa, que os sectores secundários e terciários sejam presentes, numa harmonia com o primário, pois sem este estaremos perante projectos de “betão”, e não de vida. A Maia tem profundas raízes rurais, e não deve ser em nome de um progresso, controverso, que se sufoque a ruralidade, termo que nem sequer faz parte do léxico do livro em questão.
Os desafios enfrentam-se com ousadia, sem dúvida estabelecendo uma política cultural e educativa, como marca indelével da modernidade, que se adquire apostando num desenvolvimento virado para a vida, e não da cidadania, mas do seu exercício, e esta é uma prática política, que vai para além das estruturas eleitas, mesmo democraticamente, mas que não é explicada.
Tendo como vector fundamental a cultura, educação e formação, a todos os níveis, e em toda a vida, e apostando no desenvolvimento sustentado e sustentável, será possível enfrentar o futuro de uma década, na qualidade de vida, ambiente e gestão transparente, numa visão política fazedora de sociedade, onde o diálogo dará direito à análise e à discussão de todos os intervenientes no Concelho; não poderemos, porém, ficar com medidas avulsas em pré – manifestos eleitorais ou no fundamentalismo radical do partidarismo, por vezes balofo, de quem promete e pouco acerta. Pois que a discussão se dê, e o progresso avance.
É o meu “modo de ver e sentir”.

Joaquim Armindo
Deputado Municipal do PS

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