domingo, julho 17

OS POEMAS DA VIDA DE JERÓNIMO DE SOUSA



PARASITAS

No meio duma feira, uns poucos de palhaços
Andavam a mostrar, em cima dum jumento
Um aborto infeliz, sem mãos, sem pés, sem braços,
Aborto que lhes dava um grande rendimento.

Os magros histriões, hipócritas, devassos,
Exploravam assim a flor do sentimento,
E o monstro arregalava os grandes olhos baços,
Uns olhos sem calor e sem entendimento,

E toda a gente deu esmola aos tais ciganos:
Deram esmola até mendigos quse nus.
E eu, ao ver este quadro, apóstolos romanos,

Eu lembrei-me de vós, funâmbulos da Cruz,
Que andais pelo universo há mil e tantos anos,
Exibindo, explorando o corpo de Jesus.

guerra junqueiro
[Freixo de Espada a Cinta, 1850-1923]

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