quinta-feira, julho 14


Saiu o número de Julho/Agosto, de excelente leitura, da Revista Além Mar, deixo aqui o Editorial.

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A dívida à África
O combate à pobreza africana é uma dívida moral que os países ricos têm para com o continente negro.
JOSÉ VIEIRA

Os ministros das Finanças do G8 – os oito países mais ricos do mundo, a saber: Estados Unidos, Canadá, França, Itália, Inglaterra, Alemanha, Japão e Rússia – decidiram perdoar a dívida dos 18 países mais pobres e endividados ao Banco Mundial, ao Fundo Monetário Internacional e ao Banco Africano de Desenvolvimento, num total de 40 mil milhões de dólares (33 mil milhões de euros). Desses Estados, 14 são africanos e os restantes da América Latina. Mais dez países africanos podem vir a ter a dívida cancelada se, entretanto, tomarem medidas concretas de boa governação e de combate à corrupção.O perdão da dívida aos mais pobres – uma gota de água se comparada com os 683 mil milhões de dólares que os membros do G8 investem em conjunto em armamento – fazia parte da sua agenda política desde 1996.
A Campanha Jubileu 2000, lançada no virar do milénio por organizações não governamentais – e apoiada por muitos leitores de Além-Mar e da imprensa missionária em geral –, pedia precisamente o perdão da dívida externa dos países mais pobres, que usavam os seus parcos recursos para pagar os juros de créditos (mal) concedidos a estadistas corruptos. O que os levava a desinvestir em sectores fundamentais como a saúde, a educação ou as infra-estruturas.
O perdão da dívida representa, contudo, um primeiro passo no combate à pobreza global. Para fazer a diferença na vida dos mais pobres – e também para benefício dos países mais desenvolvidos, porque todos ganham com a luta contra a pobreza –, este gesto tem de ser seguido por um aumento substancial e qualitativo das ajudas e pelo estabelecimento de regras comerciais justas, que permitam aos agricultores dos países em desenvolvimento colocar no mercado internacional os seus produtos, nomeadamente o algodão, a cana-de-açúcar, os frutos e a carne. As regras comerciais estão desvirtuadas pelos subsídios maciços com que os Governos dos Estados Unidos e da União Europeia financiam os seus agricultores.
O combate à pobreza africana é ainda uma dívida moral que os países ricos têm para com o continente negro. Primeiro, depauperaram-no das suas gentes através da escravatura. Depois roubaram-lhe as riquezas naturais através da colonização. Agora estão a levar-lhe os melhores cérebros. Mas a reparação é também em proveito próprio, pois traduz-se num investimento na segurança global. A pobreza gera migrações ilegais, violência e terrorismo.A África é um continente suficientemente rico em recursos naturais e humanos para poder sonhar com um futuro melhor. Hoje, 280 milhões de africanos já podem encarar o futuro com esperança, mas continuam a precisar de ajuda para combaterem a pobreza, a malária, a sida e a tuberculose. Se é algo que é devido a qualquer população de um qualquer continente, em relação aos africanos a nossa responsabilidade é maior.
Porque têm o direito de ser ressarcidos de séculos de exploração humilhante e aniquiladora.Os países africanos mais empobrecidos ficaram livres do jugo da dívida que os paralisava. Cabe agora aos seus agentes políticos e económicos enveredar por práticas de desenvolvimento sustentado que tenham em conta o bem comum. A comunidade internacional terá de desempenhar um papel de fiscalização muito importante, para que os pecados do passado, nomeadamente a corrupção e a guerra, sejam erradicados de vez.
Boas férias e até Setembro.

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