Exmo. Senhor Sr. Rui Pêgo,
Foi com imenso agrado que me dei conta que o programa "Lugar ao Sul" voltou a ser emitido a partir das 09 horas da manhã de sábado. Aplaudo a decisão do Sr. Rui Pêgo, enquanto novo director de programas da RDP-Antena 1, de ter o bom senso de atender às solicitações que os ouvintes vinham fazendo com insistência. Mas a redução da duração do programa, de duas para um hora, causou-me enorme tristeza e perplexidade. Estava à espera que a emissão terminasse às 11:00h e, por isso, não me parece razoável que a segunda hora tenha sido sacrificada. Não está em causa o "Mil e Uma Escolhas", que considero um excelente programa e do qual também sou assíduo ouvinte, mas não havia necessidade de o mudar porque tinha um bom horário (14:00-15:00h), espaço que assim fica sem um programa de interesse. Aliás, a grelha da Antena 1 não é abundante em programas de autor, havendo muitos buracos por preencher, o que torna ainda mais descabida e incompreensível a medida de reduzir uns programas para dar lugar a outros. Mas se o Sr. Rui Pêgo prefere dar-nos, à hora de almoço, um banal e entediante alinhamento musical e faz questão que o programa de Madalena Balça seja emitido da parte da manhã, do mal o menos, ponha o "Lugar ao Sul" a começar às 08:00h e acabar às 10:00h. Os ouvintes que não dispensam as conversas sabiamente conduzidas por Rafael Correia, pontuadas com o melhor da poesia popular e da música tradicional, repudiam a decisão de amputar o "Lugar ao Sul", e jamais se conformarão com ela. A emissão de sábado passado foi sobre ostras e amêijoas. Pois deixe-me dizer-lhe que os comensais que se deliciam com as iguarias magnificamente confeccionadas por Rafael Correia não ficam satisfeitos só com meia dose. Corrigiu-se uma injustiça e ao mesmo tempo praticou-se outra. Fica-se com a ideia que o "Lugar ao Sul" é um programa malquisto por quem tem poder de decisão na RDP. Estou até convencido que os ataques de que o "Lugar ao Sul" tem sido alvo se inserem numa estratégia concertada de boicote à música tradicional portuguesa na emissão da Antena 1, justamente na rádio que devia ser a mais portuguesa de todas as rádios. Se por absurdo, o Sr. Rui Pêgo, acha que a cultura tradicional tem um peso excessivo na rádio pública, seria menos grave se encurtasse o "Passeio Público", sobretudo nos tempos que os presidentes das câmaras municipais utilizam para auto-promoção política. Não tenho nada contra o "Passeio Público" e, muito menos contra Edgar Canelas, um profissional que estimo por também acarinhar a música portuguesa, mas é inegável que o "Lugar ao Sul" é um programa único graças à marca magistral de Rafael Correia. A este propósito, recomendo-lhe a leitura de um texto lapidar escrito pelo Prof. Manuel Pinto, docente do Departamento de Ciências da Comunicação da Universidade do Minho e Provedor do Jornal de Notícias, que se pode ler na página ( http://www.alquimista.net/htm/public2.htm) e de que junto cópia em anexo, com a devida vénia ao seu autor. Nunca é de mais lembrar que Rafael Correia já foi distinguido com vários prémios de prestígio, um dos quais o Prémio Gazeta atribuído pelos seus pares do Clube de Jornalistas, em 1999, o que prova que o programa é reconhecido por muita gente de reconhecido mérito profissional e deontológico. Mas o maior de todos os prémios é o afecto que o público lhe continua a dedicar, um público tão heterogéneo que vai do humilde rural ao professor universitário. Mas, absurdamente, a mais valia do serviço público que se chama Rafael Correia não tem sido devidamente reconhecida e potenciada pelos altos responsáveis da RDP-Antena 1. Presumo que por falta de meios e de apoio, a área geográfica percorrida por Rafael Correia tem vindo gradualmente a reduzir-se, a ponto de se restringir, neste momento, ao Algarve e Baixo Alentejo. Eu e muitos outros ouvintes teríamos todo o interesse que Rafael Correia contemplasse também outras regiões do sul do país como o Alto Alentejo, o Ribatejo e a Península de Setúbal. Apesar do programa se chamar "Lugar ao Sul", nada obstaria que outras regiões mais setentrionais também pudessem ser contempladas. Passaria a ser um "Lugar ao Sul" do rio Minho. Não sei se Rafael estaria disponível para percorrer todo o território português, mas se ele não puser objecções à ideia de voltar a fazer incursões a norte do rio Tejo, isso também seria bem acolhido por muitos ouvintes.
Em declarações prestadas à Alta Autoridade para a Comunicação Social, o Sr. Rui Pêgo afirmou que é seu propósito reforçar na Antena 1 a programação de proximidade às pessoas. Quer um programa que melhor faz jus a este conceito do que o "Lugar ao Sul", que todas as semanas vai ao encontro das gentes do Portugal mais profundo? Portugal esse que os poderes instituídos e os media seus serventuários marginalizam e mantém escandalosamente na sombra (remeto-o novamente para o texto do Prof. Manuel Pinto). Efectivamente, o facto de uma parte significativa da nossa população ter sido mantida à margem pelo poder oficial e pelo sistema de ensino, fez com que ela tivesse permanecido analfabeta ou semi-analfabeta e, por isso, não tenha sofrido o processo de aculturação da faceta erudita da cultura. Mas isto não significa que o povo tenha permanecido ignaro e inculto, porque o homem que vive em sociedade é um ser cultural. Acontece que a transmissão dos saberes se foi fazendo por via oral, o que explica que Portugal seja um dos poucos países europeus que ainda conserva uma razoável cultura tradicional. Mas toda essa riqueza desaparecerá se não for divulgada, estimada e apreciada. Nas culturas de tradição oral quando morre um ancião é como se ardesse uma biblioteca e, por isso, urge que seja feito o resgate do n osso património imaterial de uma morte anunciada. Rafael Correia é dos poucos homens, entre os que trabalham nos media a ter perfeita consciência disso, e como tal, o trabalho dedicado e empenhado – que sabe fazer como ninguém – deve ter o devido reconhecimento e apoio daqueles a quem o povo português delegou poderes para o representar. Como os decisores da rádio pública foram nomeados pelos representantes do povo, não podem alhear-se do sentir e da vontade popular, sob pena de crescer o descrédito neste sistema e se criar um clima propício ao advento de um regime ditatorial o qual, apesar disso, o povo até pode considerar servir melhor os seus interesses.
Em cumprimento de um dever de cidadania, aproveito a ocasião para lhe apresentar algumas sugestões e propostas construtivas para enriquecimento da grelha e melhoria do serviço prestado pela Antena 1, e sem acréscimo de custos orçamentais. Tal como o "Lugar ao Sul", o programa "Viva a Música", de Armando Carvalheda, que agora comemora o 10.º aniversário, merece mais destaque e projecção na emissão da Antena 1. O programa é transmitido em directo às quintas-feiras, pelas 16:00, hora que passou a constar na agenda de muitos ouvintes que não gostam de o perder. Mas acontece que há muitos ouvintes, amantes da boa música portuguesa, que devido à sua vida profissional não tem disponibilidade para o ouvir àquela hora. Por isso, proponho-lhe que ponha no ar a gravação do programa num quadrante horário não laboral, por exemplo, nas tardes de sábado, as quais são neste momento um imenso buraco na grelha. Na RDP-África, há um programa de autor de grande qualidade dedicado à poesia lusófona e à melhor música africana. Chama-se "A Hora das Cigarras" e é da autoria do aclamado escritor angolano José Eduardo Agualusa. Este cantinho de sonho e magia, já passou nas ondas da Antena 1 e deixou muitas saudades a muitos ouvintes que aplaudiriam o seu regresso à antena. Há ainda outro programa, este de produção externa, mas que é disponibilizado graciosamente às rádios que o desejarem receber e que é um bom exemplo de serviço público. Trata-se do "Agora Acontece", apresentado e realizado por Carlos Pinto Coelho, com o patrocínio do Ministério da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior, que passa actualmente em algumas rádios locais. Lamentavelmente, nem todos os directores das rádios locais têm a sensibilidade para se aperceberem que o "Agora Acontece" seria uma mais valia das respectivas grelhas, sabendo nós como é paupérrima a programação da maioria delas. Sendo assim, há ouvintes de muitos concelhos deste país que estão impossibilitados de ouvir um programa de inegável interesse. Neste contexto, a inclusão do "Agora Acontece" na grelha rádio pública, além de a enriquecer e a custo zero, tornaria possível a sua audição por muitos ouvintes interessados.
Outro ponto que deverá merecer a atenção do Sr. Rui Pêgo diz respeito aos conteúdos dos alinhamentos musicais de continuidade da Antena 1. A música anglo-americana, além de ser excessiva, é em termos gerais de má qualidade, o que é incompreensível por haver muita boa música de língua inglesa nos diversos estilos, inclusive nas áreas da pop e do rock. A música portuguesa, além de não ter o peso recomendável numa rádio pública, tem uma representatividade muito desequilibrada não só em termos de artistas como de repertório. Há muitos artistas de reconhecida qualidade que foram banidos, alguns passam muito esporadicamente, enquanto que outros têm uma presença constante com temas que são repetidos vezes sem conta. A título exemplificativo, junto abaixo (e em anexo) uma lista de artistas banidos das "play lists" da Antena 1 em que, como pode ver, constam muitos nomes de primeira grandeza do nosso meio musical. Presumo que a discoteca da RDP tenha no seu acervo a discografia essencial da esmagadora maioria desses nomes. Mas mesmo que haja lacunas no tocante a alguns deles, isso não é razão para não serem incluídos nas 'play lists', porque as editoras e creio mesmo que os artistas (no caso dos vivos) não se importariam de ceder gratuitamente os seus CDs à RDP. Espero que o Sr. Rui Pêgo se debruce sobre este problema porque não é admissível que a rádio pública portuguesa que é financiada por todos os cidadãos e empresas de Portugal continue a marginalizar os artistas que mais têm contribuído para o enriquecimento do património musical português. Também me causa muita estranheza que os nomes emergentes do fado e da música folk e tradicional que, uma vez por outra actuam no "Viva a Música", não tenham lugar nas 'play lists', ao contrário do que acontece com os nomes da área da pop portuguesa que também são convidados de Armando Carvalheda. A situação é de tal modo bizarra e surreal que já ouvi no canal onde menos esperava – na Antena 3 - alguns grupos da folk portuguesa, justamente os mesmos que são censurados na irmã mais velha onde seria suposto eles terem lugar garantido. Quem é o responsável por tudo isto? A forma como as 'play lists' são feitas não pode deixar de levantar suspeitas de eventuais cumplicidades, de quem as faz ou manda fazer, com determinados artistas, agentes ou editoras. Esta é uma situação insustentável que urge alterar. A bem do serviço público de rádio!
Com os melhores cumprimentos,
Álvaro José Ferreira
Anexos:
- Lugar ao Sul – Manuel Pinto
- Banidos da play-list da Antena 1
Banidos da pay-list da Antena 1
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Adriano Correia de Oliveira | José Peixoto |
Afonso Dias | Júlio Pereira |
Alfredo Marceneiro | Laurent Filipe |
Almanaque | Lua Extravagante |
Amália Rodrigues | Lucília do Carmo |
Amélia Muge | Luís Cília |
Anamar | Luiz Goes |
Ana Moura | Lula Pena |
Ana Sofia Varela | Mafalda Arnauth |
António Chaínho | Mafalda Veiga |
António Emiliano | Maio Moço |
António Pinho Vargas | Mandrágora |
António Pinto Basto | Manuel Freire |
Argentina Santos | Mare Nostrum |
At-Tambur | Maria Ana Bobone |
Banda do Casaco | Maria Viana |
Bernardo Sassetti | Mariza |
Brigada Victor Jara | Marta Dias |
Camaleão Azul | Mendes Harmónica Trio |
Canto da Terra | Mísia |
Canto Nono | Moçoilas |
Carla Pires | Naná Sousa Dias |
Carlos Alberto Moniz | Navegante |
Carlos Barretto | Né Ladeiras |
Carlos do Carmo | Negros de Luz |
Carlos Martins | Nem Truz Nem Muz |
Carlos Mendes | Nuno da Câmara Pereira |
Carlos Paredes | Nuno Guerreiro |
Carlos Zíngaro | Ódagaita |
Célia Barroca | Orchestra Nova Harmonia |
Ciganos D' Ouro | Paco Bandeira |
Corvos | Paulo de Carvalho |
Danças Ocultas | Pedra d´Hera |
Dar de Vaia | Pedro Barroso |
Dazkarieh | Pedro Caldeira Cabral |
Duo Ouro Negro | Pedro Jóia |
Eduardo Ramos | Pilar |
Fernando Farinha | Quadrilha |
Fernando Girão | Quarteto 1111 |
Fernando Machado Soares | Quinteto Amália |
Fernando Maurício | Quinteto de Jazz de Lisboa |
Fernando Tordo | Quinteto Lusitânia |
Filarmónica Fraude | Raízes |
Filipa Pais | Rão Kyao |
Frei Fado d´El-Rei | Real Companhia |
Francisco Naia | Realejo |
Gaiteiros de Lisboa | Rio Grande |
Galandum Galundaina | Roldana Folk |
Isabel Silvestre | Ronda dos Quatro Caminhos |
Janita Salomé | Rosa dos Ventos |
Joana Amendoeira | Samuel |
João Braga | Segue-me à Capela |
João Chora | Teresa Silva Carvalho |
João Lóio | Terrakota |
Joel Xavier | Tet Vocal |
Jorge Rivotti | Vai de Roda |
José Afonso | Vá de Viró |
José Carvalho | Vicente da Câmara |
José Mário Branco | Zeca Medeiros |
TODA A MÚSICA DE COIMBRA |
Passagens esporádicas e quase sempre o mesmo tema
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Ala dos Namorados | Maria João e Mário Laginha |
Aldina Duarte | Marta Plantier |
António Variações | Naifa, A |
Belle Chase Hotel | Paulo Bragança |
Camané | Quinta do Bill |
Cristina Branco | Rodrigo Leão |
Eugénia Melo e Castro | Sérgio Godinho |
Fausto Bordalo Dias | Sétima Legião |
Heróis do Mar | Sheiks |
Jáfumega | Sónia Tavares |
João Afonso | Trovante |
Kátia Guerreiro | UHF |
Luís Portugal | Vitorino |
Madredeus | Vozes da Rádio |
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