ARTIGO PUBLICADO NO PRIMEIRO DE JANEIRO
Artigo, da minha autoria, publicado no Jornal O Primeiro de Janeiro, de 1 de Novembro de 2005.
MOSCADEIRO
SEJAMOS CLAROS
Aqueles que entendem a política como uma arte nobre de melhor servir a sociedade, para uma transformação num mundo melhor, onde valha a pena viver, prosseguem ideais que façam com que os seus restantes concidadãos adiram a uma cidadania participativa, e não só uma democracia onde se arrecadam votos. Sei bem que tenha afirmado isto como quase um dogma, mas é assim que penso, e também que actuo. A política está descaracterizada - um nojo, no dizer de um presidente de Câmara, eleito pelo PS -, porque faltam mulheres e homens que entendem os referenciais da ética politica, das causas comuns, do combate a solipsos, numa palavra, a luta pelo bem comum. Enquanto os líderes políticos, e mais concretamente muitos autarcas, lutarem pelos seus esquemas pessoais para servir o seu ego e as suas carências muitas vezes económicas, estão de facto a não servir nada, nem ninguém, servindo-se unicamente a si próprios.
O apego ao poder, com as características de negócio, levam a que as mulheres e os homens vivam de costas voltados para a praxis politica. É que de facto uma fatia bastante elevada quer o poder, para se servir a si próprios, esquecendo-se que isso é o contrário do ser político, por isso se assiste a uma debandada cada vez maior, do não acreditar naqueles que eleitos, não exercem a democracia participativa. E vemos, sentimos e lemos, parafraseando o poeta, “políticos” de todos os partidos a serem assim, exemplos de velas apagadas, para que os cidadãos não possam assistir aos seus desmandos. Mas também existem outros, que sabendo desta situação permanecem quedos, quais estátuas, por não quererem, dizem, trair o partido. Ora, os partidos só o são quando defendem, contra ventos e marés, a necessidade da transparência, e são colectivos situados para convencidamente darem luta contra interesses instalados a favor dos muitos esquecidos. Isto chama-se ética pessoal, na charneira da ética colectiva. E se assim não for, então os partidos são grupelhos, a favor e à mercê de favores; podem movimentar muitos eleitores passivos, mas não passam na grelha de “serem todos iguais”, como o nosso povo, na sua sabedoria, proclama.
Nas autarquias esta questão coloca-se com uma acuidade mais nítida, porque todos são conhecidos de todos, e o eleitorado pune, quem menos conhece ou conhecendo, sabe muito bem quem são. Perder numas eleições autárquicas, não é, nem pode ser, uma ignomínia, um fim de vida, se nelas lutarmos por causas e princípios em que acreditamos, mas que o povo conscientemente decidiu não aprovar; é altura então da análise, não à custa do sacrifício dos princípios, mas das estratégias empregues, estas sim capazes de serem modificadas. E se assim não for, há que reflectir porque a nossa visão terá sido pródiga na asneira e na mentira, porque assim sendo, não possuem a dignidade de continuação de projectos muitas vezes engendrados numa cabeça, ou num grupo muito reduzido, que até pode fazer alarde duma identidade e unidade, que não existem. Por isso mesmo não ganham eleições autárquicas, onde a evidência da certeza da verdade, é condicionante do caminhar rumo a uma sociedade mais feliz, e com mais qualidade.
Ganhar, até por muitos, uma eleição autárquica, conduzindo o poder com a cegueira de não querer oposição, quando esta sendo forte, é sem dúvida, o motor que gera progresso e entendimento, é por si só, também a estatestesia dos actos e procedimentos imprudentes, e que reduzem uma parte do eleitorado à apatia e marginalidade, mas em democracia, se for assim, teremos a fecundidade do partido único a esboroar-se em pouco tempo. Entendimento, diálogo e decisão, serão certamente os caminhos que os partidos vencedores, devem seguir para com os vencidos, porque estes possuem a dignidade de representar as ideias duma parte do eleitorado, e isso é sagrado e deve ser respeitado.
Estamos na Maia, onde uns ganharam, outros perderem, e todos lutaram. É verdade que uns com mais convicção que outros, mas tentaram dizer ao eleitorado (veremos se participativo se não), as razões da sua esperança. O ganhar ou perder, deve contudo ser analisado na sede dos partidos que se apresentaram, e tiradas as ilações necessárias ao prosseguimento sadio dos combates que conduzam ao bem-estar das populações; o que não se pode é ficar inerte, como se nada tivesse acontecido. E tudo tem que mudar nas atitudes dos que ganham ou perdem. É evidente que quem perde, deve colocar em causa o seu posicionamento, modificar as suas trajectórias e, certamente, alterar os protagonistas; porque não se pode continuar com politicas do passado, quando esse passado é perdedor por referência. A clareza destas posições deve ser meditadas, primeiro do ponto de vista das conjunturas, e depois da natureza pessoal de quem as encarnou.
É que só assim na Maia, poderemos ditar um estatuto, que confira dignidade aos actos e atitudes, que cada um dos actores, em tempo devido, tomou.
Joaquim Armindo
Membro da Comissão Politica do PS/Maia
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