quinta-feira, novembro 24

Cadilhe

«Cavaco é como um eucalipto,

provoca aridez à sua volta»


Em entrevista à Visão, Miguel Cadilhe diz não ter a certeza de que Cavaco ganhe as presidenciais, classifica a saída de Durão como «inqualificável», afirma que votaria contra o Orçamento por este «agravar a difícil conjuntura que vivemos» e considera que o PR não devia ter ficado calado quando Sócrates aumentou impostos

Na sua primeira grande entrevista em anos, Miguel Cadilhe diz não ter a certeza de que Cavaco ganhe as presidenciais, até porque a aritmética mostra que será a esquerda a vencer, e não é brando quando fala do ex-primeiro-ministro e actual candidato presidencial: «É como um eucalipto, provoca aridez à sua volta». O ex-ministro das Finanças de Cavaco classifica como «inqualificável» a saída de Durão para presidente da Comissão Europeia, afirma que a liderança do PSD «há anos que não encontra o seu caminho» e confessa ter «muita dificuldade em concordar com a Ota». Defende também uma descida dos impostos.

Quanto ao Orçamento de Estado para 2006, que, apesar de tudo classifica como «respeitável» por mostrar um «esforço grande do Governo», Cadilhe diz que votaria contra por «razões de orientação da política orçamental, tendo em conta o facto de Portugal estar em recessão grave». Diz o ex-ministro social-democrata que este orçamento «agrava a difícil conjuntura que vivemos».

O ex-ministro das Finanças concorda com a redução da despesa pública, conforme está patente, no Orçamento de Estado para 2006, mas defende que se deve diminuir ao mesmo tempo as receitas fiscais, «senão estamos a agravar a quebra da procura».

Quanto ao aumento de impostos a resposta é clara: «Nunca. Nunca». E quanto a isto considera que o Presidente da República deveria ter dito: «Meus amigos, atenção, promessas solenes e importantes em campanha eleitoral são para cumprir. A promessa de não subir impostos tem de ser cumprida». O Presidente, diz Cadilhe, «pode, e deve, dar uma palavra forte. E não é em privado, mas em público».

Tendo como pretexto o lançamento, segunda-feira, no Porto, do seu livro «O Sobrepeso do Estado em Portugal», Cadilhe justifica nesta entrevista à Visão a publicação do livro nesta altura: «Portugal está numa complicada passagem da sua história e precisa de mudanças fundamentais, de âmbito político». E Cadilhe diz ter «algumas ideias para apresentar».

De saída da Agência Portuguesa para o Investimento, diz que o problema de eficiência e competitividade que o país atravessa se prende com o facto de o euro ser «uma moeda forte de mais para a nossa estrutura produtiva» e do peso do Estado, com uma burocracia «extensa e excessiva».

«O país precisa de um abanão. Politicamente é muito difícil, por isso os políticos preferem ir aos poucos» e «quando se opta pela lentidão acaba-se por não ter velocidade suficiente, nem ritmo, nem profundidade, nem espessura», diz Cadilhe.

O economista reafirma a convicção de que Portugal «só lá vai com uma redução de todo o funcionamento corrente do Estado/Administração Pública». Cadilhe retoma a proposta de criação de um Fundo Extraordinário de Investimento, que iria buscar recursos a uma emissão de dívida pública longa a fundos estruturais e à venda de activos do Estado (ouro do Banco de Portugal). O objectivo seria financiar um regime especial de rescisão amigável que leve à saída dos funcionários públicos dispensáveis.

O ex-ministro das Finanças de Cavaco Silva responsabiliza o antigo primeiro-ministro por o processo, que iniciou em 1989, não ter avançado.

«Tivemos um dos lados, o despesista (o novo sistema remuneratório da função pública), que avançou, enquanto o contrabalanço da produtividade, mediante auditorias e redimensionamentos e reafectações, para reduzir despesa pública, não se realizou», diz Cadilhe.

Recentemente saído da presidência da Agência Portuguesa para o Investimento (API), Cadilhe condena ainda os «erros irreversíveis nas privatizações nos últimos dez anos, e que levaram os centros de decisão para fora do país».

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