segunda-feira, maio 8

ARTIGO PUBLICADO NO PRIMEIRO DE JANEIRO

Artigo publicado no Jornal O Primeiro de Janeiro, da autoria de Joaquim Armindo, em 2 de Maio de 2006


MOSCADEIRO

FORÇA FERNANDA RODRIGUES!

Nem sempre o Moscadeiro serve para denunciar situações, às vezes também temos motivos de regozijo, e esta semana temos um: a nomeação da Doutora Fernanda Rodrigues para coordenadora do Plano Nacional de Acção para a Inclusão. Foi com muita alegria que a recebemos, na certeza que, finalmente, existirá um plano de inclusão das pessoas, para as pessoas e com as pessoas, e não panaceias que desvirtuam uma inculturação forçada em valores, que não são os das pessoas.

Trabalhei com a Fernanda em projectos voluntários, em dinamização de grupos de jovens, na política (quando ambos, também, formamos o MES), na Igreja, na altura a Anglicana, a que ambos pertencíamos, forjamos juntos muitos projectos de libertação quando a ditadura era feroz no nosso país, foi ela minha madrinha de casamento, e sem bem da sua capacidade, inteligência e compreensão. Lembro-me das noites que passamos a conceber estratégias para uma nova ordem mundial, uma humanidade onde pontificasse a fraternidade. Nunca a Fernanda se deu por vencida e em cada combate, aí estava ela, quando o lugar das mulheres era a casa, a caminhar ao lado sempre dos mais desfavorecidos. A sua inteligência é invulgar, sendo considerada a melhor socióloga do nosso país, e é! Mulher de uma têmpera singular, dum aconchego e amizade que não é fácil encontrar; lembro-me que quando a minha casa estava em construção vivi com a minha mulher e filho em sua casa, e nunca me senti deslocado. Fibra tem ela para arrostar todas as dificuldades, que, infelizmente, tem tido na vida; dificuldades que assumiu e venceu, mas é assim a Fernanda Rodrigues, determinada e mulher de corpo inteiro.

Este trabalho deverá ser o mais difícil da sua vida, Portugal mantém o maior fosso entre ricos e pobres, e está a crescer, as minorias étnicas são proteladas e quase esmagadas, os direitos de todos ao trabalho e salário justo é esquecido, as multinacionais e os grandes grupos económicos dominam pelo medo os trabalhadores, centenas de empresas encerram deixando no desemprego milhares de trabalhadores, os sem-abrigo proliferam em qualquer cidade, o esforço de silenciar culturas próprias, para as ditas “ocidentais e de bom senso”, é realizado pelo seu esmagamento. Por outro lado, os velhos passaram a ser mesmo os trapos da sociedade, e são colocados em gavetos, a que chamam os mais variados nomes, sonantes, retirando-lhes a alegria de viver, enquanto milhares de crianças são abandonadas ao seu próprio caminho e as pensões são uma miséria miserável de meios para pagar (quando dão!) os medicamentos.

É esta situação que a Fernanda sabe existir, e quase parece um programa de governo, difícil de gerir porque os meios económicos, rendidos ao economicismo puro, reduzem as pessoas a meras percentagens de variações entre anos, dando-se satisfeitos quando reduzem umas décimas, como se o povo, aquele que trabalha, e quer trabalhar, fosse uma mercadoria, que se usa e deita fora. Esses meios económicos que lhe vão colocar nas mãos, não dão, certamente, para fazer face aos problemas com que vai ver confrontada; serão escassos, mas renda-se homenagem a que este trabalho foi elegido pelo Presidente da Republica, como de primordial importância, e mesmo de desígnio nacional; o governo, por sua vez, considerou-o vital, para o desenvolvimento harmonioso do nosso país.

A própria formação profissional, cujos montantes têm sido elevadíssimos, não tem contribuído decisivamente para um povo mais saudável, crítico e participativo, tem constituído, isso sim, uma almofada para alguns bem dormirem, dado não atentar ao desenvolvimento progressivo da cidadania e do fazer. Esta forma de actuação produz cada vez mais, a exclusão, sendo depois preciso incluir, daí os planos de inclusão. Aqui, neste ponto, deve passar-se da retórica para uma acção consequente, visando criar riqueza para todos, e não um servir-se da formação para enriquecer uns tantos.

Fáceis serão as situações de enumerar, assim como também o é, apresentar um Plano de Inclusão, o difícil, está na sua aplicação, que deve ter ao seu serviço pessoas como a Professora Fernanda Rodrigues. Não filiada em qualquer partido, sabe, porém, bem distinguir quais são os valores e as causas porque sempre lutou, e nunca abdicou, apesar dos convites sucessivos que foi rejeitando, e que poderiam destruir o seu pensamento. Soube resistir, e bem, prosseguindo pelos ditames que aprendeu da sua adolescência e seus pais. Agora seria tempo de agir, não com amarras a projectos que excluem sucessivamente as pessoas, estou certo, mas no prosseguimento duma missão que a si própria impôs.

A Fernanda Rodrigues não verga, é de fibra, e andou bem quem a nomeou, porque ela será a voz daqueles que não a têm, dará a vez àqueles que nunca souberam o que isso era, e fará desta nova vida uma causa porque lutará até à exaustão, mas ela sempre foi assim. Força Fernanda Rodrigues, não só a Maia, mas Portugal, espera de ti o vigor de atender aqueles que são marginalizados pela própria sociedade.

Joaquim Armindo

Membro da Comissão Política do PS da Maia

jarmindo@clix.pt

http://www.bemcomum.blogspot.com

Assina esta coluna quinzenalmente

1 Comentários:

Às 9:58 da tarde , Anonymous Anónimo disse...

Este comentário foi removido por um gestor do blogue.

 

Enviar um comentário

Subscrever Enviar feedback [Atom]

<< Página inicial