quarta-feira, julho 5

ARTIGO PUBLICADO NO PRIMEIRO DE JANEIRO

Artigo publicado no Jornal O Primeiro de Janeiro, da autoria de Joaquim Armindo, em 28 de Junho de 2006.

MOSCADEIRO


AS QUOTAS DAS MULHERES

Estava um dia, já lá vão alguns anos, num colóquio organizado, no Centro Ecuménico Reconciliação (Figueira da Foz), pelo Grupo de Mulheres da Igreja Presbiteriana, e onde se discutiam as formas de prosseguir com a libertação da mulher, e a sua integração plena nos assuntos da humanidade, com a dignidade, a inteligência e sensibilidade própria das mulheres, quando dei por mim a disparar, naquela assembleia, que afinal a conquista, legitima, do lugar das mulheres na sociedade, se fará pelos seus próprios movimentos e que os homens não iriam ceder, assim tão simplesmente, a essa propositura, de largar mão daquilo que os faz trabalhar, mas nunca em casa, e serem os dirigentes da política, da igreja, da sociedade, afinal das decisões. Lembro-me que virei os participantes, alguns indignados com aquelas declarações, outros aplaudindo. O certo, é que passados tantos anos, continuamos, nós os homens que detemos as cúpulas das decisões, a analisar como vai ser isto das mulheres. Agora na Assembleia da Republica discutem-se as quotas, isto é, que cada lista eleitoral apresentada, tenha obrigatoriamente de possuir um terço de mulheres, uns aplaudem, outros lembram que o caminho para tirar a mulher de ser a única a passar a ferro, lavar a roupa, tratar dos filhos ou fazer a comida, não passará por aí, até porque a mulher deve afirmar-se pelas suas qualidade, inteligência e não por decisões de decretos; estes têm uma posição lógica, a afirmação pelo ser, só que querem esquecer que a mulher, normalmente, tem dois empregos, um remunerado, o profissional, e outro não, os seus afazeres de “dona de casa”.

A prática num partido, o PS, de em todas as listas terem de existir 33% de mulheres, sendo que em cada três, deve existir uma, tem fornecido dados curiosos, que convém deter, por um lado arranjam-se as tais mulheres, e apresenta-se a lista, mesmo que elas depois venham a renunciar, ou existam outras pessoas de outro sexo que são mais capazes de se darem à luta pelos interesses colectivos, por outro, esta forma de actuação tem de facto trazido para a política uma nova dinâmica, porque existem muitas mulheres que ficam, e que fornecem um grande contributo de sensibilidade que outros não possuem; existem diferenças, mas numa complementaridade que é justo referir. O homem, não é um ser isolado, e as mulheres podem não ser distanciadas da sociedade, existe uma complementaridade de ser; nem um, nem outro, mas ambos. Mesmo neste partido, em que é obrigatório esta coexistência numérica, depois na prática, nas análises, discussões e decisões, nas reuniões, as mulheres ficam em casa, e os maridos não podem faltar às decisões, o que se traduz na palavra hipocrisia, num embuste feito de forma a iludir o próprio progresso.

O jornal “El País”, de sábado passado, logo na primeira página, aflorava a questão de que o governo espanhol aprovou a questão das quotas, a chamada Lei da Igualdade, e dentro de oito anos, pelo menos 40% de mulheres têm de fazer parte dos conselhos de administração de qualquer empresa, esta decisão tem o apoio dos empresários, porque se entende que se devem eliminar as situações de descriminação sexual, principalmente feminina, nos âmbitos público, privado e laboral. Refere o mesmo jornal, em editorial, que as mudanças culturais verificadas no país vizinho, de incorporação da mulher no trabalho e do homem nas tarefas domésticas ou cuidado dos filhos, são insuficientes, para uma igualdade sólida, até porque só 2% das mulheres pertencem a conselhos de administração, isto é, à decisão. É necessário tomar posições de descriminação positiva, bem mais fortes, e colocar a mulher na situação a que tem direito; o governo espanhol fez isso na sua composição, o português seguiu a normalidade cultural, mulheres quase não se vêm.

É acreditável que a mulher vai se impor pela sua eficiência e eficácia, e pela libertação de trabalhos considerados menores, e não remunerados, mas para isso um novo paradigma cultural terá de ser enraizado nas nossas práticas quotidianas. Para conquistar esta posição, é necessário coisas tão simples como esta: será que a mãe deve estar quatro meses em casa, quando de parto, ou não será, que deverá ser dividido com o homem, para que as carreiras profissionais de ambos possam ter um desenvolvimento harmonioso? A igualdade entre mulheres e homens não se faz por decretos, mas que estes ajudam, isso é que ajudam!

Em Portugal, perante numa lei que o Presidente da República reenviou para a assembleia, sobre esta matéria, assiste-se a uma inversão do papel da mulher, e não só isso, da sua dignidade e capacidade de trazer uma nova aragem ao nosso quotidiano, as quotas, quer queiramos ou não, são um contributo essencial, neste momento, para vencermos um atraso de séculos, o de a mulher não estar nos lugares de decisão, e quantas têm dado exemplos de grande doação às causas da humanidade? Se com o Presidente da Republica existiu uma decisão infeliz, pelo menos que nas nossas acções diárias possamos inculcar a verdade de que é imprescindível o papel da mulher enquanto decisora, e a Maia não pode para ser cidade saudável se prescindir disso, por isso o desafio de que em todas as empresas, pelo menos municipais, façamos como os espanhóis, em oito anos, 40% por cento das mulheres nas empresas municipais, e nos órgãos autárquicos. Não é pedir muito, senhores dirigentes políticos.

Joaquim Armindo

Membro da Comissão Política do PS da Maia

jarmindo@clix.pt

http://www.bemcomum.blogspot.com

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