ARTIGO PUBLICADO NO PRIMEIRO DE JANEIRO
Artigo publicado no Jornal O Primeiro de Janeiro, de 11 de Julho de 2006, da autoria de Joaquim Armindo
MOSCADEIRO
FALANDO, AINDA DO HOSPITAL NA MAIA
Confesso que esta questão de um Hospital na Maia, que pode não ser da Maia, não obteve grandes comentários da minha parte, dado que gerou análises e discussões de variadas partes, centrando-se na questão do privado versus público, do interesse da sua existência num terreno cedido por nós, maiatas e maiatos, e se seria ou não útil para os seus habitantes. Ouvimos várias partes, e ficamos sempre com as dúvidas naturais nesta matéria. Acontece que um leitor me interpelou querendo saber o porquê do meu silêncio. Ora perante este interesse, e desde já sabendo não ser a minha área de eleição, sempre como cidadão posso romper os silêncios e, dado que o problema parece esquecido (será porque o líder do Grupo Parlamentar do PS, na Assembleia Municipal, já não está?), dizer do meu pensamento sobre esta questão. E não vou tarde, simplesmente coloco novamente o problema em cima da mesa.
A saúde é um bem e um direito dos mais sagrados que as populações deveriam possuir, e a forma de a exercer também; saúde sem um grande humanismo dos seus profissionais, está votada ao completo fracasso. Não sou favorável a grandes hospitais, não só porque a gestão de pequenas unidades é mais produtiva, mas porque aí as pessoas são tratadas como pessoas. Não me parece, sinceramente, que os problemas de saúde na Maia estejam na construção imediata de um hospital, público ou privado, mas na assumpção de uma cultura paradigmática do entendimento do que se passa na Maia, e concomitantemente no País. Como grandes áreas de prioridade entendo que os serviços primários e os continuados, assim como o apoio aos idosos doentes, e até acamados, são factores decisivos para o desenvolvimento de uma saúde de qualidade. Para já não falar da prevenção como a única via possível de observarmos a doença, antes dela se dar. Um observatório sobre os problemas da saúde na Maia, seria de capital importância para prospectivar o bem-estar dos cidadãos do concelho, ou melhor, numa afirmação de união de esforços com toda a área metropolitana, e só assim será entendível esse esforço.
Mas agora estamos numa situação da saúde muito complexa: por um lado o exercício dos cuidados primários, e por outro dos continuados, tendo como particular ênfase a geriatria. Quem percorre as casas do concelho, há-de convir que no referente aos mais velhos existe uma quase ausência de cuidados e de convívio para quem deu o seu melhor por um país, em que acreditava, mas que lhe recusa o carinho. Quem passa por um hospital tem vontade é de lá sair, dada a ausência de ambiente familiar e tratamentos incómodos ao nível da dignidade das pessoas. As pessoas com mais idade são atiradas de qualquer forma para uma selvática vida, só quebrada aqui e ali por intervenção caridosa de organizações e voluntários que agarram estas causas. As pessoas, e continuam a ser pessoas, não podem ser tratadas como mercadorias que se lançam aos uivos dos lobos, até porque a maioria carece de recursos financeiros para possuir todo o conforto num final de vida, e mesmo este final, também é vida. È desesperante visionar esta questão de pessoas mais idosas atiradas para uma cama, sem terem os cuidados necessários, para viverem, aquela própria vida. Dizemos que nem tudo se pode fazer, mas isto é a negação da nossa própria vida, no tocante à saúde.
Por outro lado os cuidados primários, que são fundamentais para uma vivência, durante horas, de esperas inconcebíveis nos hospitais, onde nada se diz aos doentes, deixando nestes mazelas desesperantes. Quem numa urgência repara na azáfama dos médicos e outro pessoal, que durante vinte e quatro horas, ali estão, bem pode sentir a frustração quer do pessoal, quer dos doentes, que entram com uma doença, e saem com mais. Uma urgência é um serviço de alerta perante situações já dramáticas, mas não existem serviços primários suficientes, e os que funcionam não têm características em que os cidadãos confiem, por isso rumam aos hospitais.
Uma carta de saúde seria a melhor forma de resolver a questão, por um lado bons serviços de cuidados primários, centros de saúde que mereçam este nome, e cuidados continuados e geriáticos bem perto dos cidadãos, é o que me parece de urgência, e de aposta forte no momento, e, que são bem mais prioritários que um hospital, privado ou público. Ignorar esta questão e continuar obcecado por um hospital, só porque tem o nome de hospital, é retardar uma saúde assente na modernidade, e nos ideais socialistas. Não me venham dizer que sou contra a construção do hospital, penso é que as situações devem ser equacionadas de forma a garantir aquilo que se torna fundamental. E uma carta de saúde da Maia, ou da área metropolitana, que envolva todos os actores, desde as autarquias às empresa e organizações, passando pelas IPSS, é a melhor forma para contribuir para a sustentabilidade do sistema, que só existe para ser útil às pessoas, razão primeira da sua existência.
Uma reflexão cuidada desta matéria, certamente levar-nos-ia a declinar um hospital e investir em áreas mais prioritárias. As pessoas, se estão primeiro, precisam que se pense nelas e com elas, o que parece não ter-se passado com a decisão da construção de um hospital privada na Maia.
Joaquim Armindo
Membro da Comissão Política do PS da Maia
http://www.bemcomum.blogspot.com
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