ARTIGO PUBLICADO NO PRIMEIRO DE JANEIRO
Artigo publicado no Primeiro de Janeiro, em 16 de Julho de 2006, da autoria de Joaquim Armindo
ÁGUA VIVA
A IGREJA E O
PROTOCOLO DE ESTADO
Temos vindo a assistir a uma discussão sobre os lugares no protocolo de Estado, em que são retirados à Igreja Católica nas várias cerimónias políticas. A Igreja penso tem mostrado maturidade na análise da questão, relegando esse problema para o lugar que merece: o de não ter interesse nesta matéria. E ainda bem!
O sentido da Igreja em Portugal, da pronúncia sobre variados factores, distingue-se por não dar a sua bênção, com a sua presença nas cerimónias oficiais, mas de distanciar-se disso, até porque não precisa, e confere-lhe a característica profética da denúncia. A sua presença, seja em que lugar for, fá-la conivente com os podres instalados perante determinada acção do Estado, melhor é ignorar os lugares de honra, e ter a dignidade de estar onde as populações carecem de si, e este sim tem no protocolo da vida o lugar primeiro. Os representantes da Igreja não devem querer sentar-se naqueles cadeirões especiais, destacados para conferir que o serviço da Igreja está com o poder instalado, seja ele qual for.
E da mesma forma, o poder político terá de entender que também não deverá ter lugar, a não ser as pessoas como cristãs, nas manifestações da Igreja; é trágico, verificar os vários poderes, desde o central ao autárquico, tomarem lugares de honra nas procissões ou nas mais diversas realizações religiosas, para se mostrarem às populações, afim de ganharem votos, usurpando a centralidade da Fé, até porque muitos nem sequer querem saber da militância cristã, e são não crentes.
Para nós cristãs e cristãos, que não temos medo de estar no mundo, e de dar lugar ao nosso contributo à humanidade, para que seja outra, estaremos mais libertos, se as amarras dos poderes não nos derem lugares de honra ou protocolares nas acções políticas; mais, devemos mesmo rejeitá-los, e fazer como Jesus, que distinguia bem o seu papel no mundo. Os poderes políticos do seu tempo o único lugar protocolar que lhe deram foi o da cruz, e com ele o da ressurreição da humanidade. Também será esse o único lugar protocolar que devemos querer, o da intervenção activa, nomeadamente ao lado dos que não têm vez, nem voz.
Deixemos os lugares de honra do mundo, porque deles não precisamos mesmo para nada, são contrários à nossa vivência.
Joaquim Armindo
Mestrando
http://www.bemcomum.blogspot.com
Escreve no JANEIRO, quinzenalmente, ao domingo
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