ARTIGO PUBLICADO NO PRIMEIRO DE JANEIRO
Artigo publicado no Jornal O Primeiro de Janeiro, da autoria de Joaquim Armindo, em 12/9/2006
MOSCADEIRO
A POLÍTICA E OS POLÍTICOS
Hoje quando se fala em política normalmente associa-se aos “políticos”, isto é, àqueles que fazem da política uma forma de melhor se governarem, quer no que diz respeito a favores monetários, quer no referente a “uma imagem que se tem de respeitar”, embora não o mereçam. Esta fotografia que se faz da política é, certamente, produto daquilo que os políticos fazem no seu quotidiano; da forma como não respeitam aquilo que dizem ir fazer, de como enganam as populações, do seu agir, e como afugentam quem quer estar ao lado dos novos mundos a construir. Mas nem sempre foi assim neste país, vejam-se as lutas travadas em nome de ideais, que valiam prisões, e se traduziam pelo incremento da cidadania por completo. Lembro-me das lutas travadas antes da revolução dos cravos onde os políticos eram considerados, porque as suas lutas destinavam-se a ser o caminho da liberdade, paz e solidariedade; era um exercício de doação daquilo que se pretendia ser a evolução para uma Nova Ordem Mundial, e passava pela componente holística de cada ser humano, e não uma castradora forma de condução de ideias, que não são mais que geradoras da mentira.
Política não é só uma arte, mas uma atitude de promover o bem comum, ao lado daqueles que são os mais pobres e oprimidos, com eles e neles, forjadora de uma libertação para a liberdade. É mesmo assim: uma autêntica utopia que na sua raiz conduz à realidade mais vivida e consequente. A política é de todos os cidadãos, e por eles conduzida, não pode ser uma anestesia global, porque se o for não é política. A descrença generalizada (e confesso que às vezes me atinge) nas actuações dos “políticos”, como se fossem estes os únicos actores da política, é, de facto, uma verdade, e tão aguçada que é normal dividir-mos a sociedade nos “políticos” e nos “não políticos”, como se fosse possível existir política sem uma actuação participativa em todos os actos que nas sociedades se produzem. Conferir àquela dicotomia credibilidade não é mais que abjurar a nossa condição de mulheres e homens vivenciais, por isso não é possível um caminhar da nossa sociedade para um futuro promissor se não nos assumirmos, com todas as consequências, como políticos, no sentido que enquanto entes assumimos a função de interventores de denúncia, como profetas, e de actuação firme e vigorosa, deixaremos o nosso presente e futuro nas mãos de uns quantos que teimam em dizer-se “políticos”. Assim a sociedade é oprimida e opressora, e ao mesmo tempo deixa de ser sociedade para se tornar num tormento sem fim, nem ocaso. A sociedade que estamos a construir, ou a destruir!, cujo presente é uma ignomínia e o futuro uma destruição, precisa dos braços de quem quer alterar esta situação, e isso passa pela assumpção da política por cada um de nós, aquela que é verdade e justiça, e não um excremento dum número muito limitado daqueles que dizem viver para as pessoas, quando afinal estas, as que vivem à sua sombra, são em número limitado e vivem daquilo que os outros (a maioria !) produzem. São afinal os parasitas do pensar e do ser, aproveitadores do adormecimento dos povos, e mesmo fomentadores de peças que servem de miopia aos outros, como muito bem todos temos esse conhecimento, no quotidiano do nosso viver.
Querer fechar a política aos outros, às vezes em secretíssimos encontros, é rasgar a carta de desenvolvimento de que todos deveremos ser portadores, não é um serviço de vida, mas a incapacitadora mania de calcular que o nosso bem não passa pelo dos outros. Na política não existem ilhas, mas profundidade de actuações relacionáveis em função, sempre, daqueles que nos rodeiam. Uma actuação concreta da política que gera os pobres, os marginalizados, os presos, os sem abrigo, os incompreendidos, os sem saúde, os excluídos, não pode ser política, porque esta é para que não existam, e não os criar e fomentar. Por isso mascarar a acção política não na participação de todos nas decisões, mas em índices económicos, fazendo desta ciência o epicentro de todas as questões, é gravitar numa órbita da não existência de pessoas, mas de uns tantos que necessitam de dinheiro, de saúde e de bem – estar, como se tudo fosse eles, e não o encontro com o outro.
Há necessidade de um outro posicionamento que não seja o poder, mas da fraternidade global, do exercício da política como um bem de todos, do fomento da participação na coisa pública, que se requer seja direccionadora de tomadas de posição claras e sem contributos clandestinos forjados atrás de sumptuosos gabinetes e depois colocados como se fossem uma causa comum. Estas, contudo, não existem se não forem portadoras do sentir e do pensar de todo um povo que com os outros povos caminha não para um mundo melhor, mas sim para um outro mundo caldeado nas lutas pela liberdade e justiça. Tudo que vivemos hoje em Portugal ou na Maia no campo da participação política é um logro, um lamaçal atulhado de “política” e de “políticos” que têm feito da sua vida um belo prazer. Cabe a todos nós erguer a voz da dignidade e saber interpretar os sinais dos tempos desmascarando as situações e os actores e dando voz e vez àqueles que a não têm e sofrem as agruras da vida.
Assim, penso, quero estar a escrever nesta coluna com o meu humilde contributo, de quem não cala e é incómodo para tantos que, isolados, tentam fazer que o nosso povo viva de cócoras.
Joaquim Armindo
Membro da Comissão Política do PS da Maia
http://www.bemcomum.blogspot.com
Escreve esta coluna quinzenalmente.
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