sexta-feira, novembro 24

CRÓNICA PUBLICADA NO JORNAL PRIMEIRA MÃO

Crónica publicada no Jornal Primeira Mão, em 17/11/2006, da autoria de Joaquim Armindo

CONGRESSO DO PS: AS MINORIAS


Aquando das últimas eleições autárquicas, lembro-me como fiquei não só em minoria, mas também isolado, e as críticas que dirigi ao “programa” do PS da Maia, assim como à escolha do candidato, foram cilindradas por todos; um acordo previamente feito, entre as duas “facções”, deixavam um entendimento de unidade, mas a particularidade de eu, e o Pinho Gonçalves, não poder concorrer em qualquer lista. Era a vingança, de quem nunca desculparia, nem desculpará, que alguém lhe faça frente, de forma pública e clara, e de ter reagido, e hoje ainda, aos insultos proferidos em jornal diário. É o preço, que em política, ou em outras matérias, que paga quem é frontal e leal. Era uma minoria (um!) e um isolamento total, o que diga-se ficaria mal num partido que se quer solidário e fraterno. Mas são opções, marcadas pela dignidade humana de quem, até agora, ainda não se vendeu, nem por alvíssaras, nem por lugares. Aliás, era sintomático quando membro da assembleia municipal, ousei enfrentar todo um grupo parlamentar, que ao mando do presidente da comissão política, disciplinadamente, colocou o PS numa situação inédita, a de ter um deputado na sua bancada, expulso do consultório, quando se preparava a assembleia municipal, com o argumento, (não é sr. Dr. Hélder?), de que estava em propriedade particular. Nessa altura foi duro, só, isolado e minoritário, embora pela calada, sem que o chefe soubesse, aliás tal qual hoje!, (embora já não tenha o nome de chefe, mas de comandante em chefe), nas vielas mais recônditas me dissessem que não concordavam, até o líder da bancada o fez. De facto era minoritário, e mais do que isso, estava completamente isolado. Esta posição, porém, seria maioritária e nunca mais isolada, porque o povo da Maia deu razão, não era aquele o “programa”, nem era aquele o candidato, eleito por mais de noventa por cento, na comissão política, depois de ter sido obrigado a demitir-se, porque razões? da comissão oficial de que fazia parte, e esmagado pelo querer e o sentir das mulheres e dos homens da Maia, em votação livre e democrática; o mesmo se passaria em Vila Nova da Telha, onde reside, a lista apoiada por si, e com elementos válidos, foi liquidada, na maior derrota eleitoral desta freguesia. Assim será em todas as candidaturas que apoie. As maiorias são sempre relativas, assim como as minorias, e não é por estas serem desprezadas e estarem isoladas que porventura deixam de ter razão. Pode a um tempo isso não suceder, mas a outro logo se vê o veredicto, de quem mais ordena.

Este é um exemplo típico do que se passou com o recente congresso do PS. O secretário-geral foi eleito, com um número de delegados conseguido que lembra regimes de ditadura. Não digo que os militantes do PS, ou ele próprio, sejam culpados de algumas situações não democráticas, como o caso da secção de Pedras Rubras, mas um partido que assim se regue, por muitas maiorias que possua, e enfrente um coro de delegados bem afinado, depressa cairá, porque não é assim que se constroem as alternativas. Só, porque assim é a esquerda socialista, no debate, onde as minorias tenham voz, se pode gerir um partido, ou mesmo um país. O autismo arrogante e triunfante, é antecessor de derrotas, porque não é possível afirmar que tudo vai bem, quando à nossa volta, vemos no quotidiano assim não ser. Para um socialista de esquerda, como eu, não é possível concordar com a assumpção de paradigmas que colocam no seu centro os défices económicos, e não os défices das pessoas. Dizer isto significa, tão só, ser minoria, agora não isolada, mas minoria sem sequer ser ouvida. Ora este procedimento não é de esquerda, mas sim sucedâneo de práticas ortodoxas, que de renovador nada possuem. A esquerda moderna não esquece, e ouve activamente as forças que se movimentam, sejam sindicais, patronais, políticas ou culturais, e coloca como esqueleto fundamental o pulsar do povo para quem governa. O contrário é ser conservador, imbuído de parasitismo trôpego e sem vento, aquele que sopra e traz aragens novas.

As maiorias, que se passeiam por passadeiras vermelhas, e escarnecem daqueles que profeticamente, parecendo tolos e paranóicos (não foi isso que me chamaram?), ousam chamarem a atenção que algo corre mal, em nome dos princípios de uma nova ordem mundial (ouçam o discurso, pouco aplaudido de Almeida Santos, o de Helena Roseta ou mesmo de Manuel Alegre), são suicidas, na medida em que, em nome de poderes, às vezes inconfessáveis, trocam o que de mais belo existe na acção humana, a política, por simulacros, cujos cenários, devidamente montados, não passam de esquemas. Como socialista e de esquerda não posso pactuar com atitudes, na Maia, ou no País, que pouco abonam a favor de uma cristalina água que jorra da fonte e dá de beber aos sedentos. Aqui na Maia (sem medo a processos, que já estão a ser levantados a militantes de Vila Nova da Telha), penso que encarno esta minoria, agora já não sozinho (veja-se o processo kafkiano, a Andrade Ferreira, habilmente montado), mas, de livre vontade, ainda tenho forças para dizer um não a todos os neoliberalismos e práticas prossecutórias que os senhores das maiorias alegam ser socialistas.

Joaquim Armindo

Membro da Comissão Política do PS da Maia

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