segunda-feira, janeiro 15

CRÓNICA PUBLICADA NO PRIMEIRO DE JANEIRO

Crónica publicada no Jornal O Primeiro de Janeiro, da autoria de Joaquim Armindo, em 2/1/2007

MOSCADEIRO


UMA ASSEMBLEIA MUNICIPAL


Uma Assembleia Municipal deve ser um local privilegiado de discussão política, em que os protagonistas e mais fundamentais actores são as populações. O centro de toda a análise e colocação de ideias deve ser focalizado naquilo que, e mal, se designa por público, porque de facto não o é, mas os intervenientes fulcrais de toda actividade concelhia; sem este conceito perde-se o epicentro da democracia participativa, e toma-se como sendo único, o da personalidade de uns tantos, que, e perdoem-me a palavra, se “masturbam” na sua própria incapacidade de entender a política, falando para se ouvirem a si próprios, atrelados a uns quantos pressupostos partidários, que muitas vezes estão nas antípodas dos interesses dos cidadãos. Essa incapacidade advém de um sentido de irresponsabilidade de obediência a factores mesquinhos, tradutores dos seus próprios interesses, como se fossem estes os condutores da vida. E não são, mas personificam a cadavérica forma de entender os “eleitores” como incapazes de formular a política quotidiana, neste caso da Maia. Muitos deleitam-se em figuras de proa, em tiques de requintados ares doutorais, de inteligências insubmissas, porque únicas, e deitam para as veredas aquilo que as cidadãs e os cidadãos mais sentem. Um político que assume funções num órgão autárquico, como a assembleia municipal, deve possuir uma escuta permanente sobre as questões colocadas por quantos deixam de possuir voz, nem vez, depois de os terem eleito. Após isso é o vácuo, e mesmo assim nem isso, porque nem ausências de ar possuem. São peças jogadas de tempos a tempos, para gáudio dos eleitos, esses sim, seres capazes, de encarnarem o título de excelências e senhores da política. Perante um silencioso publico, sempre muito pouco, que para se fazer ouvir espera horas pelos deleites dos senhores deputados, lá vão desfiando o que o aparelho partidário requer nas suas estratégias, ou então as suas incompetências e incapacidades, tornadas durante umas horas, como a beleza da vida. Estão enganados, porque não o são! Mas, e isso sim, a burlesca atitude de uns tantos, que de botão abotoado, quando se levantam, aliás como mandam as regras, se dirigem a um púlpito, tez sisuda, cara no chão, franzindo as sobrancelhas, como sábios, de olhos fechados, ou então, deambulando nesse microfone, sem saber onde estão as mãos, cruzando as pernas, como sabedores do que se passa por esse mundo fora, e, perante, a indiferença dos cidadãos, deleitam-se em ditames, que, vejam bem!, podem ir da Suécia aos países latino –americanos, mas não aos problemas concretos da sua terra, penso mesmo que a “sua terra”, é o seu ser, que permite ditar umas quantas energúmenas palavras.

Estive presente na ultima assembleia municipal da Maia, e o retrato que tentei fazer não se afasta muito das inteligências que por lá compaginam. Saí deveria ser cerca da meia hora da noite do dia seguinte, estafado, farto de ouvir conversa fiada, olhando para o sr. Presidente da câmara, que sem oposição tem a sua tarefa muito dificultada. À minha frente um cidadão, nervoso, com papéis entre as mãos, queria falar, mas suas excelências estavam entretidas com um voto de louvor. Soube depois que acabou a assembleia, depois das duas e meia da manhã, quando nem as excelências já possuíam discernimento, nem os trabalhadores como eu, (ou numa louvável iniciativa os alunos duma escola presentes), tinham pachorra para ouvir. Tanto mais que sendo a assembleia a uma quarta-feira, no outro dia, quem não é reformado, e tem cartão de ponto para marcar e para ganhar o pão, não pode estar impávido como se nada fosse ali. A não ser que suas excelências não precisem dos cidadãos, os dispensem e se sintam muito bem a zurzir uns com os outros.

Lembro-me do assunto do dia, um deputado da oposição, do meu partido, proponha, não sei a que propósito, um voto de louvor a duas personalidades da Maia, (não) comandantes da protecção civil, deixando todo o outro pessoal destes serviços de fora. Fiquei abismado. Sinceramente não compreendi, e eu tenho o direito não só à indignação, como referiu sempre Jorge Sampaio, como à discordância frontal, por não me reconhecer em tal iniciativa, porque, sinceramente, não sei para quê. E também tenho o direito de fazer as minhas conjecturas sobre tal procedimento. Viria, muito mais que o plano de actividades e orçamento, a ser uma questão central, e se Eça de Queirós pudesse assistir faria uma boa e melhor crónica que esta. Para quê excelências, se o assunto nem sequer tinha razão (pelo menos do ponto de vista dos cidadãos!) de ir a tal assembleia (seria por falta de assunto?), para quê, dizia, a discussão que se seguiu? A oposição não possui mais nada para colocar? A maioria nem tem de se pronunciar, porque a fraqueza dos argumentos das minorias são confrangedores e incapazes de contribuírem para uma discussão e análise séria do concreto maiato. E é pena, diz quem já foi deputado municipal, e não faltava a nenhuma visita ao concelho, far-me-ão justiça, enquanto outros trocavam esta forma de contacto com as populações, por outras mais atraentes actividades.

Pobre assembleia, pobre Maia, que nem políticos já tem!

Joaquim Armindo

Membro da Comissão Política do PS da Maia

jarmindo@clix.pt

http://www.bemcomum.blogspot.com

Escreve esta coluna quinzenalmente.

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