"CORAÇÃO, RAZÃO E COERÊNCIA" - ARTIGO PUBLICADO NO JORNAL "PRIMEIRA MÃO"
Artigo de Opinião, da minha autoria, publicado no Jornal "Primeira Mão", de 10/9/2004:
CORAÇÃO, RAZÃO E COERÊNCIA
Os candidatos ao cargo de Secretário Geral do Partido Socialista, não podem, não devem, falar só para as plateias dos militantes mais activos e nomeadamente, a plêiade dos seus dirigentes, mas para todos os seus militantes e anónimos do povo português que vota nas eleições nacionais e europeias. Pelo que defendo um debate entre os três candidatos, mesmo na praça pública, sem medos ou constrangimentos. Dou assim o meu contributo, e a minha voz na defesa do projecto protagonizado por Manuel Alegre.
Li as moções apresentadas. Contudo creio não serem para levar a sério, desde que no último Congresso Distrital do Porto, a Moção vencedora foi para o lixo, e não está a ser cumprida por Francisco Assis, um dos homens da renovação de José Sócrates, segundo o próprio candidato.
Por outro lado, desde que o presidente da Comissão Política Concelhia do PS/Maia, apoiante de Sócrates, me colocou fora da sede do PS de Pedras Rubras, porque é propriedade privada, e anunciou, ainda os candidatos não estavam todos no terreno, que ele, todos os vereadores e secretários-coordenadores de Secção apoiavam aquele candidato (o que não é verdade!), que um tom bafiento soprou dos seus apoiantes, e perpassou o medo. Liquidada é a liberdade e a democracia no Partido Socialista. Que cada um por si apoie o candidato que prefere e defenda o seu projecto, ninguém terá nada a ver com isso, mas que se sirvam dos lugares para que foram eleitos pelo PS, não é correcto. É por isso que como militante hoje aqui escrevo.
Apoio o projecto de Manuel Alegre enquanto candidato a Secretário Geral, por questões de coração, razão e coerência.
De coração, porque sempre me assumi de esquerda, da esquerda dos valores e dos princípios, que está atenta aos sinais do nosso tempo e não tem receio de falar abertamente do socialismo e de um mundo que é preciso construir, pedra a pedra, na ânsia da utopia que se faz realidade, na vida de cada um de nós. E esta esquerda vive, também, da poesia cantada pela resistência. Nada tem de saudosismo, mas do aprender com a história os passos a dar no presente, que se faz passado, para um futuro onde todos tenhamos lugar.
De razão, porque não acredito que existam forças ao "centro político", isso é ilusão e erro político, essas são dum eleitorado flutuante que vota esquerda ou direita, de acordo com a coerência dos seus projectos políticos, sejam cumpridos ou não. Como queriam que os portugueses não "castigassem" o PS, se os seus dirigentes, divorciados do Partido e do Povo Português, se não cumpriram o célebre "Acordo de Legislatura", na sequência dos Estados Gerais, que se viriam a diluir, e a esquecer, por todos nós, eu incluído?.
De coerência, porque ao ler as Moções, verifico que a de Manuel Alegre apresenta claramente uma crítica veemente a todos os socialistas, é que "há um afunilamento da vida partidária. Muitos falam em participação, mas o que acontece é que as pessoas, mesmo que queiram, não têm onde nem como participar." E isto é verdade, o clientelismo partidário, a sucessão, sucessiva, sucessivamente, de cargos acumulados, aí está. O Partido não está aberto a um universo muito mais amplo: o dos seus eleitores e das pessoas que almejam alternativas.
O projecto de Manuel Alegre é claro quando fala no Estado Estratega, na sociedade inclusiva, no crescimento da coesão social e até na globalização e no novo pacto ambiental. Menos claro, como todas as outras, é no referente à excelência das organizações, quando nesta matéria se refere a Educação, Qualificação das pessoas e Inovação, não se coloca a Gestão como fonte importante da Produtividade e da Competitividade; aí é ambíguo porque, ao referir a Responsabilidade Social das Organizações, não concretiza com a ética, a qualidade, o ambiente e a segurança e saúde laboral.
Mesmo assim, pensar que se pode burilar neste aspecto o projecto, ter liberdade de o fazer, e pelas questões de coração, razão e coerência, com respeito profundo por José Sócrates e João Soares, apoio a alternativa Manuel Alegre.
Joaquim Armindo
Militante do PS – Maia
jarmindo@clix.pt
http://bemcomum.blogspot.com
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