sexta-feira, novembro 12

ARTIGO PUBLICADO NO JORNAL PRIMEIRA MÃO , DE 5 DE NOVEMBRO DE 2004

Foi publicado no Jornal Primeira Mão, o seguinte artigo da minha autoria:
OS ESQUEMAS


Data de 1985, um livro de Clara Pinto Correia, (Edições Rolim), que li e reli com muito prazer. De seu título "Um Esquema" contava a história de duas pessoas, que se conheceram e durante vários meses tiveram "um esquema", para algo que "não vai acontecer nem demora nem consequência. É uma radiação que ainda não foi classificada de forma sistemática." E diga-se então "que teve um esquema".

Esta história, com h ou sem ele, só Clara Pinto Correia saberá, saborosa na sua formulação e de uma escrita escorreita, está longe do que agora nos mais variados meios se entende por "esquema", nomeadamente no que diz respeito à nossa política e aos nossos políticos.

Na nossa vivência política, e objectivamente neste Concelho da Maia, algumas das personalidades políticas, deixaram, até com a cobertura de alguns jornais, de recorrer à estratégia e à táctica, para lhe sobreporem os "esquemas", que algum dia destes os coloquem em lugares onde sejam reconhecidos duplamente, quer por Suas Excelências, quer pelos Euros que lhes entrem pelo bolso adentro, sempre em nome do "serviço à coisa pública" e com grande sacrifício pessoal.

É essencial que um partido político tenha a sua estratégia, possua a sua táctica, para fazer frente, não aos inimigos como na guerra, mas aos adversários, mulheres e homens como eles, com o fim próprio de atingir a sua opção de um determinado bem comum, firmando a sua prática em valores e princípios e usando uma táctica, por vezes parecendo utópica, mas reveladora do esmagamento do solipsismo concomitante. E digo utópica, para sublinhar a estratégia e táctica militar, como na Batalha de Aljubarrota, com a Ala dos Namorados, onde contra todas as previsões Nuno Álvares Pereira fez triunfar a utopia. Já não compreendo que se substituam estes legítimos caminhos, por "esquemas", tão distantes da definição de Clara Pinto Correia.

Existem políticos, bem próximos até das minhas cores, que usam e abusam da montagem de esquemas, que nada abonam a favor da sua honestidade política e visibilidade cultural; seja como for, esses "esquemas" são forjados na mais pura burlice da arte de servir os seus eleitores e de os enganarem, por atalhos ditos democráticos, e até de maiorias de votos, intentados numa clara demagogia pretensiosamente impoluta, logo de inverdade política, métodos herdados dos 99% de votos das eleições à Américo Tomás. Que sempre ganhou, embora perdendo.

No momento em que caminhamos para a definição dos candidatos às autárquicas, começam a desenhar-se os "esquemas", que hão-de conduzir alguns a candidatos, mesmo que para isso tenham que ser, ou parecer, inimigos fidagais do poder instituído ou lambe botas desse mesmo poder. E há-os, para todos os gostos.

Há aqueles, que fazem o sacrifício de serem candidatos, montando ao longo de anos "um esquema", que os leve, quais vítimas, a um poder, à força de aturada e não reconhecida oposição. E para isso usam-se do partido, para esmagar quem, porventura, ouse discordar de "programas", que só fazem sentido nas tertúlias de tais "esquemas". E para que a mentira travestida possa parecer verdade (como diz António Aleixo em "Este livro que vos deixo"), monta-se uma teia, em forma de polvo, denegrindo, acusando e vitimizando-se. Esmagam-se amigos ou inimigos, censura-se, corta-se, (não existe um livro fotocopiado a circular, com intervenções do Mestre, feito pelo próprio, como sendo a intervenção única e exclusiva dum Partido da Maia ?) , depois acusam-se os outros, entenda-se Poder, de censurarem e intervirem no esmagamento das opiniões.

Outros há que, com medo, de não serem candidatos pelo seu Partido, a tudo recorrem para obter a benquerença do Poder. E então pateticamente, quando podiam ficar silenciosos, que nada aconteceria aos seus centros cívicos em construção, fazem o haraquiri das suas convicções, se as têm, e produzem discursos de autênticos acólitos de quem pensam que irá vencer nas urnas eleitorais. Aqui também existem "os esquemas" !

Sem pretender ter o monopólio da verdade, entendo que nem uns, nem outros, serão servidores da polis (cidade), porque "os esquemas" a nada conduzem, e o povo, o povo senhores, esse não esquece quem o não quer adormecido, e dos que lutam pela sua participação activa em todos os momentos comuns, e não unicamente no apelo ao seu voto de tempos a tempos.

Os que hoje denunciam, podem perder, mas logo ganharão na serenidade das suas consciências e mais tarde o reconhecimento da verdade, sem "esquemas".

Joaquim Armindo
Deputado Municipal do PS

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