sábado, dezembro 25

ARTIGO PUBLICADO NO JORNAL PRIMEIRA MÃO

No passado dia 17/12/2004, foi publicado um artigo da minha autoria, no Jornal Primeira Mão, que aqui deixo:
BRINCADEIRAS de CANELADA !


O Presidente da República dissolveu o parlamento. É óbvio que a situação era tão insustentável, que a decisão do Presidente era a única possível. Diria que o único senão, talvez, é que não teria sido preciso termos vivido estes quatro meses de puro disparate político, tão clara a incompetência do cidadão que tomou posse como Primeiro-Ministro, o que nunca deveria ter acontecido, pois qualquer informado, avisado e lúcido cidadão poderia em Julho ter a presciência do espectáculo de mau gosto circense que aí viria. Por isso, o Presidente tomou agora uma decisão atrasada, porque deveria ter sido tomada há quatro meses. Este período de tempo, de que pouco se aproveita dos actos de governo, vai custar muito caro ao país (a crise continua a aumentar e não se vislumbram sinais de qualquer retoma, apenas em miragens dos salões-oásis de S.Bento!). E o Presidente, apesar desta recente atitude, tão imperiosa, pode ser apontado como co-responsável pela situação.
Enfim, temos na história do pós-25 de Abril o primeiro governo que é demitido pelo tamanho da sua incompetência, descoordenação e subjectivismo delirante. Aliás, este governo é um governo que perde a sustentação (por via da dissolução parlamentar), porque tem um Primeiro-Ministro que prefere as festas sociais à coordenação, que prefere uma noite numa discoteca, ao trabalho no seu gabinete, ou mesmo (inexcedível!) a desprezar a representação protocolar da sua equipa em cerimónias de Estado. Este é o Primeiro-Ministro que vê um ministro e seu grande amigo demitir-se, acusando-o de mentiroso. Fica ainda na memória uma dificuldade de agenda de Pedro Santana Lopes que foi devida ao casamento da filha da sua chefe de gabinete. As prioridades em Santana Lopes são tão surrealistas que só nos fazem ficar estupefactos. Sim, ele foi nosso Primeiro-Ministro durante quatro meses! O pesadelo já passou, mas tão cedo não vamos esquecer-nos dele. O quadro estava traçado (e estará ?), o Pedro e o Paulo nas caneladas ao nosso Povo, beijinhos nas feiras, abrilhantadas pelo candidato a Presidente da Republica ao bombo da Madeira, já que estamos num Carnaval também antecipado.
Para o quadro político ficar ainda mais, digamos, embelezado, Pedro Santana Lopes resolveu demitir-se. Começa a estratégia onde Pedro se sente melhor: a vitimização. Salta à cara que esta atitude, conjugada numa táctica engendrada com o PP, é uma brincadeira de criançada. Senão, vejamos: num dia, vamos ter coligação pré-eleitoral. No outro dia, já é diferente, os partidos vão concorrer sozinhos. Aliás nada mais do que passou enquanto eram Governo, o que neste momento era real, na hora imediata era desmentido por actos ou palavras. Claro que amanhã já não sabemos o que vai acontecer com esta aliança táctica. Mas de uma coisa podemos ter a certeza: a birra destes dois (Pedro e Paulo) vai continuar. Os franco-atiradores estão preparados para apontar ao Presidente. A brincadeira de baloiço ainda não acabou (vão ser ainda mais três longos meses, três !!!!...).
Contudo, para mal de muitos esta paródia não se passa apenas no contexto nacional. Li, com atenção, um artigo de Mário Nuno, vereador da Cultura, na Câmara Municipal da Maia, no último Primeira Mão que me deixou verdadeiramente arrepiado. Diz ele que o PS Maia vai publicar um jornal – chamado "A Verdade" – para fazer a próxima campanha autárquica. E acrescenta que têm corrido boatos sobre algumas inclusões de independentes (de direita) no projecto do PS Maia. Leio, releio e pasmo de voltar a ler. Como é possível que o PS Maia esteja a pensar publicar um jornal – chamado "A Verdade" (?) – e eu, embora que mero militante socialista e pertencente à Comissão Política, sei disso pelos jornais!. Um jornal chamado "A Verdade"? Leio e volto a ler. A Verdade?

Ainda vamos ter muito que discutir sobre a evidência, desta certeza, até porque quando falam em "Projecto", não o descortino, porque ele é tão secreto, tão secreto, que certamente só existirá na cabeça de um qualquer que apenas andará para aí dizendo asneiras, e das grossas.
Não sei qual é a estratégia do PS para o município da Maia. Sou militante, deputado municipal, mas não sei qual é a estratégia, não conheço aquele jornal, nem aqueles pretensos apoios. Vejo a Federação do Porto distante, pouco preocupada. Sei que agora vamos ter outras lutas (também muito importantes: derrotar esta direita no poder nacional é obrigatório), mas vejo que a Câmara da Maia vai ficando para trás, sem uma estratégia clara.
Enfim, o PS Maia está mesmo preparado para entrar, de novo, numa aventura inesquecível, porque ela não vai poder ser esquecida: o PS vai perder na Maia, quando mais podia ganhar. E esta façanha, que parece mais de quem nunca fez política, vai sair cara. O PS perde uma oportunidade histórica e este ruído constante do putativo candidato à Câmara (eu já não tenho dúvidas...) só ensurdece, nos deixa estupefactos como estratégia suicidária. É pena, o PS podia ganhar a Câmara da Maia se isso interessasse à presidência concelhia do meu partido.
Ou o Dr. Mário Nuno anda mal informado, ou onde, pasme-se, chega o PS/Maia !

Sou levado a pensar, que ganharemos as legislativas, mas perdendo depois, autarquias. E isso é mau, muito mau, porque talvez queira dizer governo a prazo.

Joaquim Armindo
Deputado Municipal do PS
jarmindo@clix.pt
http://bemcomum.blogspot.com/

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