sexta-feira, janeiro 28

ARTIGO PUBLICADO NO JORNAL PRIMEIRA MÃO, EM 21/1/2005

É NECESSÁRIA A MAIORIA


Confesso que ao pensar esta intervenção (medito, sempre antes de iniciar a escrita), dei por mim quase impossibilitado de traçar uma análise que corresponda ao que penso, sobre as próximas eleições legislativas e os comportamentos para a elaboração das listas e dos programas. E de boina na cabeça, por causa do frio deste inverno, pensava nas palavras e no eterno politicamente correcto ou incorrecto. Não que me incomode o segundo, dado que os leitores e, nomeadamente, os meus camaradas de Partido, bem sabem que isso não me faz qualquer mossa: penso, pratico, e acima de tudo amo o bem comum e a verdade, sendo intransigente quando estão em causa os valores e os princípios, que sempre têm regido a minha vida.

E aqui, também confesso, devo esta maneira de ser ao meu pai (felizmente vivo), que sempre os defendeu e ama a liberdade e a democracia, sendo por sua mão que me levava - andava na escola primária - a colar os cartazes do Arlindo Vicente e depois de Humberto Delgado. E quem assim nasce nunca deixa de ser uma pessoa política e civicamente activa.

Por tudo isto, e dada a necessidade de suspender, por alguns meses, a minha actividade de parlamentar na Maia, por circunstâncias pessoais e profissionais, me encontro a um tempo, particularmente constrangido, e noutro sentido por saber da exigência de me manter o mesmo interveniente incómodo.

Não vou falar, porque já o disse, na lógica partidária dos candidatos a deputados e sua enumeração (diga-se, que me sinto honrado pela Paula Cristina, ser da Maia, em lugar ilegível), nem nas mentes iluminadas que aparecem quando cheira a poder e aí fazem as suas análises, às vezes sem perscrutar o sentir do nosso povo; afinal todas estas coisas se disseram já, com pompa e circunstância, nos jornais e mais meios de comunicação, e ficamos entendidos. Mas na necessidade de o próximo governo (creio que chefiado por José Sócrates, embora as surpresas apareçam), embora devendo possuir uma maioria para governar, não a tenha com os ouvidos de mercador que outros o fizeram, e o farão se obtiverem o poder.

A oposição deve ser sempre ouvida, lá também há boa gente, e em matérias essenciais deve existir um consenso alargado, para que a seguir a um governo, não volte tudo ao princípio. Temos e devemos de ser humildes no exercício do poder, porque este corrói e mata, se não tivermos a capacidade e reconhecimento de ouvir activamente; e esta noção quer dizer "ser com", "estar com", governar sem a tentação de ser o Senhor de Tudo, quando ninguém o é.

Portugal atravessa um período difícil, dificílimo para os mais pobres, aqueles que não têm voz, nem vez, por isso há que actuar com serenidade e trabalhar principalmente para estes; é assim que entendo a social-democracia e o socialismo, por isso o sou. E o governo, se for essa a vontade do nosso povo, que seja socialista, não pode deixar de ter tal pensamento como pilar fundamental da sua actuação. O diálogo com as forças da esquerda, o Partido Comunista, o Bloco de Esquerda e outras forças destas áreas deverá ser privilegiado, sem esquecer que milhares dos votantes PSD, são mesmo sociais- democratas, independentemente da sua direcção não o ser.

Não tem o Partido Socialista o condão de possuir toda a verdade, e até ser consequente com a solidariedade e fraternidade que tanto proclama, por isso deverá ser um ouvinte atento de todas as forças, principalmente daqueles que não têm força, para ter forças, e com a humildade, que caracteriza as mulheres e homens de bem, e firmeza ser o Governo dos Portugueses.

Convenhamos que José Sócrates não tem passado incólume nesta pré-campanha, e algumas das posições têm aparecido contraditórias ao cidadão comum; é por isso preciso definir e explicar o que se pretende fazer, qual o projecto, e depois cumpri-lo, para bem da política e da honradez da palavra dada.

Os nossos adversários são-no na medida que vão apresentar ao País, uma outra maneira de quererem sair da situação, agravada por um governo, que nem sequer o foi, de Santana Lopes em conluio com Paulo Portas, e, curiosamente, agora se vê que estas duas forças não estavam assim tão unidas, e que a maioria que proclamavam era mais um pretexto de exercer o poder, para o ter, não para o servir Portugal no seu todo.

Uma maioria é necessária, desde que atenta, que não despreze o outro só porque não ganhou desta vez; por isso ao apelar no voto dos eleitores da Maia no Partido Socialista, como seu militante, me comprometo a ser consciência crítica do governo do meu Partido, se ganhar, esteja em maioria ou minoria.

É o que penso fazer, e disto queria dar testemunho.


Joaquim Armindo
Membro da Comissão Política do PS da Maia
jarmindo@clix.pt
http://bemcomum.blogspot.com

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