sábado, abril 9

ARTIGO PUBLICADO NO PRIMEIRO DE JANEIRO

Artigo publicado no Jornal Primeiro de Janeiro, em 3 de Abril, da minha autoria:
ÁGUA VIVA

A COMUNHÃO FRATERNA



A leitura do livro Actos dos Apóstolos, deste segundo domingo da Páscoa, é particularmente violenta para os dias de hoje, quando o presumível autor do livro, Lucas, aquele que se separou de Paulo, por divergências entre si, caracteriza a comunidade cristã, como sendo gente que era sinal para a sociedade de então.

Tinham tudo em comum, distribuíam o dinheiro por todos, conforme as necessidades, e partiam o pão em suas casas. Se na altura era uma revolução esta forma de viver, de acordo com o que Jesus tinha ensinado, hoje ainda será mais uma espada para cada um de nós, e uma chamada ao verdadeiro sentido de ser cristão.

O partir do pão, na Igreja primitiva, a Eucaristia que hoje vivemos, é de um Senhor que soube encarnar a libertação no seu tempo, e transmitir a catolicidade do seu gesto profundo do viver a humanidade em todos os tempos e lugares. Partir o pão, significa a realidade de uma utopia se concretizar na realidade profunda de sermos comunhão fraterna, e isto é o viver com e em Cristo, e de sermos convicção de que este pão é a fraternidade vivida numa cidade hoje, de como os antigos livros diziam, “mana leite e mel”.

A profundidade do texto do livro dos Actos dos Apóstolos, só pode ser compreendida e vivida à luz, de quem não quer poder, mas serviço. Viver em comum e partir o pão, é o sinal acabado de que o Senhor ressuscitou, e aí está para dar-se na plenitude dos tempos.

Por isso, perante a instalação egoísta da sociedade, e particularmente dos cristãos, que a chamada é violenta porque ameaçadora da correcção política, social e moral, que fere profundamente os nossos hábitos, mas que instala a sororidade e libertação de todos nós.

A fracção do pão, era uma atitude do ritual judeu, durante uma refeição normal, nada de anormal, nem inventado por Jesus, mas a partir da Páscoa, torna-se uma subversiva postura, de quem sofre a morte, para que a comunhão fraterna seja uma constante. Essa constante, não é mais, nem menos, que a nossa propositura de actores intervenientes, na mudança da sociedade, e, no concreto, nos locais onde estamos.

Eucaristia faz-se, mais que no interior das Igrejas, na vida quotidiana, que nos faz ou não construtores da comunhão fraterna. Seremos isso?

Joaquim Armindo
Licenciado em Engenharia e Ciências Religiosas
jarmindo@clix.pt
http://bemcomum.blogspot.com

Escreve esta coluna no primeiro domingo, de cada mês

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