sábado, dezembro 24

ARTIGO PUBLICADO NO PRIMEIRA MÃO

Artigo de apoio a Manuel Alegre publicado no Jornal Primeira Mão de ontem:

UMA VOZ CONTRA A FALTA DE MEMÓRIA

Mário Nuno Neves

Vereador do Pelouro da Cultura da

Câmara Municipal da Maia

O sucesso que a candidatura do Prof. Cavaco Silva está, indiscutivelmente, a ter junto da população portuguesa, traduz a proverbial falta de memória recente que nos caracteriza muitas vezes, demasiadas vezes.

As pessoas, parece que já se esqueceram de como foram os últimos anos do cavaquismo. Eu esforço-me por não me esquecer.

Foram anos insuportáveis, que corresponderam ao início da perda de confiança nas instituições.

Foram anos em que a importância do “aparelho partidário”, como máquina inquinadora e controladora dos processos e comportamentos atingiu níveis absolutamente sufocantes, em que os curriculum eram acompanhados da fotocópoia do cartão de filiado.

Foram anos em que a arrogância desmedida e a confiança cega na lógica de um mercado feroz distorceram os propósitos da democracia conquistada, fracturando a sociedade portuguesa de uma forma dramática.

Foram anos que permitiram a emergência dos populismos demagógicos de direita e de esquerda. Foi o Professor Cavaco Silva que, directa e indirectamente, fabricou quer a reconversão do CDS em “Partido Popular” quer as condições para a emergência do Prof. Francisco Louçã, que acalenta um subliminar sonho norte-coreano, que surgiram como uma reacção e uma esperança a um “centrão” neo-liberal, camuflado numa fina patine social-democrata, que esgotado o filão das obras públicas e passada a alienação bolsista, que o próprio cavaquismo fomentou, tornou-se incapaz de proporcionar qualquer resposta de qualidade, qualquer resposta sustentável, para o desenvolvimento do País.

Mesmo dentro da dita família social-democrata, a memória dos tabus constantes, a memória do processo de sucessão do Prof. Cavaco Silva, em que pessoas como o Dr. Fernando Nogueira, foram transformadas, num dia para o outro, em vítimas do pior dos algozes, que são sempre aqueles em quem mais confiamos, parece que se desvaneceu. Hoje a perspectiva histórica devia levar toda essa dita “família” a concluir que o “cavaquismo” foi, todo ele, uma clara negação da herança de Francisco Sá Carneiro.

Essa falta de memória colectiva é um dos mais gritantes sintomas da crise que a nossa democracia atravessa. Mais uma vez, perante as dificuldades, temos a tendência de nos agarrarmos a qualquer esperança, qualquer que ela seja, desde que traduza uma solução providencial de todos os males nacionais. Essa atitude, que é própria de um Povo com claro “deficit” de cidadania não é, infelizmente nunca solução para nada, é apenas uma fuga em frente que agrava todos os problemas.

O Prof. Cavaco Silva foi o “pai” do “cavaquismo”. Muito provavelmente foi um “pai” inconsciente, na medida em que, se calhar, nem ele próprio percebeu o que construiu, o que não deixa de acrescentar dramatismo a toda a questão, sobretudo quando ele é agora candidato a Presidente da República. Um Presidente da República tem, antes de tudo o mais, perceber a natureza do seu próprio Povo, e contribuir activamente para optimizar as suas qualidades intrínsecas e não ser um catalizador dos seus mais mesquinhos defeitos. E nós Portugueses temos muitos defeitos. Defeitos que, muitas vezes, afogam as nossas qualidades.

Nós, que somos um povo corajoso, um povo criativo e um povo generoso, andamo-nos a comportar como se fossemos covardes, brutos e mesquinhos, resignados a um “é a vida”, quando tudo isso não é mais do que, precisamente, falta de vida. De vida colectiva com propósitos claros de desenvolvimento integral.

O Dr. Mário Soares não tem quaisquer condições de ser o contraponto ao advento do “cavaquismo”, agora reposicionado em corte presidencial. O seu tempo já passou e não passou por causa da sua idade mas sim por causa da sua atitude, caracterizada por um paternalismo arrogante e birrento. O Dr. Mário Soares não resistiu à tentação de ser uma espécie de General De Gaulle mesclado com François Miterrand, um “Pai da Pátria” que no seu íntimo pensa que os seus filhos são uns incapazes que sem ele nada percebem e nada conseguem e que para além dele próprio “só o Dilúvio”.

Enganou-se profundamente e esse engano vai acarretar-lhe que amanhã, quando esta “História” for escrita, o único capítulo que a ele dirá respeito e que servirá de memória às gerações vindouras, será precisamente a referência a este seu engano monumental, o que não deixa de ser uma pena, uma enorme pena.

Manuel Alegre aparece neste combate não como um paladino de causas extraordinárias, mas sim como uma voz. Uma voz daqueles que não têm memória curta. Uma voz daqueles que sabem que o País está doente, que se importam, mas não acreditam em curas milagreiras. Uma voz daqueles que não estão condicionados por mais nada do que pela sua própria consciência e pela vontade de serem úteis.

A sua candidatura resulta de um acto de liberdade, num contexto processual muito difícil e surge como uma pedrada no charco de muitas inevitabilidades, secularmente instituídas.

É uma candidatura nacional, suprapartidária, que não é conveniente a nenhum dos muitos poderes ocultos vigentes.

Manuel Alegre é um Homem de Cultura e que acredita nos vínculos que a mesma cria para sedimentar uma comunidade que tem que ser integradora e aberta à manifestação e vivência de todas as diferenças.

Manuel Alegre é um dos construtores do regime, mas não é seu prisioneiro. Entende que o mesmo se encontra numa encruzilhada que ó a conjugação da vontades dos cidadãos poderá dar bom rumo.

Manuel Alegre é capaz de intervir na sociedade, transversalmente, introduzindo novas matrizes no imprescindível debate político que está por fazer, sem que para isso se transforme em contra-poder ou força de bloqueio. Sem que para isso seja sequer poder, mas sim alguém que exerce poderes constitucionalmente consagrados.

É alguém que fala sem qualquer rebuço da “Pátria”, não porque a queira para si mas sim porque sabe que é um dos seus filhos.

Manuel Alegre tem todas as condições para ser uma força centrípeta das boas vontades, muito especialmente dos mais jovens que estão fartos. Fartos de circunstancialismos que lhes castram o futuro e que lhes impõem um gigante “MAS” a tudo o quanto se dispõem a construir.

3 Comentários:

Às 4:39 da tarde , Anonymous Anónimo disse...

Obrigado Dr.Mário Nuno Neves, por tão lúcido artigo, tão grandes clareza, frontalidade, coragem e acima de tudo tão bonito exercício de cidadania!
A falta de memória parece ser um mal nacional, que se cola ás pessoas como se de uma segunda pele se trate.
Ainda bem que há pessoas como o Senhor para ligar o despertador da memória!
Portugal merece!
Obrigado.

 
Às 11:20 da tarde , Anonymous Anónimo disse...

o mnn sabe à brava... está-se a fazer descaradamente ao PS. Não tem hipótese!´Vira-casacas já cá temos muitos no PS. E, então, no PS Maia nem se fala, é só paraquedistas...
Põe-te ao largo MNN, junta-te ao proxeneta da política maiata, o moreira de sá, que aí é que estás bem!!!!

 
Às 1:46 da tarde , Anonymous Anónimo disse...

Se o Dr. Mário Neves se tivesse a fazer ao PS apoiava era o Mário Soares. Aposto que se ele quisesse aderir ao Partido Socialista até lhe esticavam uma passadeira vermelha. O autor do post anterior deve ser daqueles socialistas que se revê no actual PS e na sua Direcção, que nos envergonharam a todos nas ultimas eleições autárquicas. Deve ser daqueles que preferem um PS fechadinho e imune a estranhos, que possibilita que Jorge Catarinos e quejandos se perpetuem e com isso mantenham o PSD no poder.

 

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