domingo, setembro 3

ARTIGO PUBLICADO NO PRIMEIRO DE JANEIRO

Artigo publicado no Jornal O Primeiro de Janeiro, em 27/8/2006, da autoria de Joaquim Armindo


ÁGUA VIVA

OBRIGADO, SENHOR!


José Manuel de Pina Cabral faleceu. O antigo Professor e Director da Faculdade de Medicina do Porto passou para a mão do seu Senhor, Jesus Cristo, que sempre foi a sua luz em todos os momentos da vida, quando ensinava, exercia a medicina, falava ou brincava, sempre teve os olhos colocados na Vida, e era essa que lhe dava o ser e o fazia caminhar ao encontro de todos, amigos ou inimigos (estes se os tinha!). Homem de uma fé adulta e inquebrantável assumia a sua condição de profeta, com uma contagiante alegria e posicionava-se sempre, com gratidão recordo que em fase difícil da minha vida, foi ele o único a assumir a amizade para comigo, feita de denúncia concreta. Como me dizia a sua esposa no dia do funeral: “tu conheceste-o bem”.

Vejo-o ainda sentado no órgão da Igreja do Torne (Gaia) a tocar hinos de louvor ao seu Senhor, como na compreensão para com todos os outros, de tal forma que fazia do seu ser cristão uma atitude plenamente ecuménica, não só no diálogo com outras religiões, mas com todos os homens e mulheres de boa vontade. Exerceu o seu cargo de Director da Escola do Torne em condições muito difíceis, e do seu bolso saiu muitas vezes o dinheiro para os ordenados dos professores, mas disso não se vangloriava porque sabia não fazer mais do que o Senhor, amado, queria. Vivia sempre o futuro com a alegria com que tocava “Uma âncora temos, /Que a força do mar, /Por muito que ruja, /Não pode quebrar”, ou a cantar “Fica connosco Senhor, neste dia”. Não era um cristão do passado, mas que acreditava sempre no futuro, por isso ele próprio era ressurreição e vida.

Lembrar este meu amigo não significa uma atitude só de gratidão, mas de agradecimento a Deus, por nos ter dado um cristão lúcido e coerente, de uma afabilidade tocante. Escrever sobre ele é ter a certeza que junto a Deus tenho mais um amigo, na comunhão dos santos, que vai estar sempre presente na minha vida. Não me vai esquecer, como não o esquecerei, nesta dimensão da certeza duma comunhão plena. Não perdi ninguém, porque continuamos juntos. Assim são os cristãos.

Joaquim Armindo

Mestrando em Saúde Ambiental e Licenciado em Ciências Religiosas

jarmindo@clix.pt

http://www.bemcomum.blogspot.com

Escreve no Janeiro quinzenalmente.

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