domingo, dezembro 10

CRÓNICA PUBLICADA NO PRIMEIRO DE JANEIRO

Crónica publicada no Jornal O Primeiro de Janeiro, da autoria de Joaquim Armindo, em 3/10/2006


ÁGUA VIVA

A BÍBLIA DE ALMEIDA


Estávamos no século XVII, quando surge a primeira Bíblia traduzida para o português por João Ferreira Annes de Almeida, no meio de evidentes lutas, dado que a Igreja maioritária, a Católica Romana, não permitia que tais “sacrilégios” se fizessem sentir. Traduzir a Bíblia significava um grande perigo, pois poderia não ser bem interpretada, e era necessário não permitir a sua leitura. Mas este irreverente “protestante”, estudante de teologia, não pensava da mesma forma, porque sempre acreditou que o Espírito sopra quando o onde quer, e não seria com formas ditatoriais de proibir o conhecimento, através da leitura, que a fé se robustece e se torna adulta. Aparece, então, a Bíblia “protestante” de Almeida, para que todos pudessem ter acesso à sua leitura, e com liberdade, mesmo “à luz da vela”. Esta tradução da Bíblia, a que se veio juntar a de Figueiredo, contribuiu para que a beleza e os ensinamentos bíblicos estivessem nas mãos de todos. Mais tarde a Igreja Católica viria a reconhecer a necessidade da investigação bíblica e a divulgar a sua leitura e estudo, como acontece com os Capuchinhos, ao reconhecê-la como verdadeiro e único catecismo, que deve estar na “mesa-de-cabeceira de toda a gente”.

Numa feliz iniciativa do Círculo de Leitores é, agora, publicada uma nova edição da Bíblia de Almeida, com apresentação do professor José Tolentino Mendonça, marcando assim uma oportunidade quase única para termos nas mãos um precioso trabalho, que faz e fez história. E é muito bom possui-la e lê-la, agora quando tanto se fala em substituir a língua vernácula da liturgia, para o latim. Como dizia Almeida “a Escritura Sagrada em vossa própria língua que é a maior dadiva e o mais precioso tesouro, que nunca ninguém, que eu saiba, até o presente vos tenha dado”, assim também a sua leitura e estudo quotidiano, há-de fazer desta Igreja, ora santa, ora pecadora, um precioso alimento para os dias de hoje. Publicar novamente Almeida, é um ícone que se há-de traduzir na reflexão dos caminhos que queremos seguir, para proclamar Jesus de Nazaré às mulheres e homens de hoje, sem medos, nem fanatismos.

Joaquim Armindo

Mestrando em Saúde Ambiental e Licenciado em Ciências Religiosas

jarmindo@clix.pt

http://www.bemcomum.blogspot.com

Escreve no JANEIRO quinzenalmente.

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