terça-feira, dezembro 26

CRÓNICA PUBLICADA NO PRIMEIRO DE JANEIRO

Crónica publicada no Jornal O Primeiro de Janeiro, da autoria de Joaquim Armindo, em 19/12/2006.

MOSCADEIRO


OS CÓDIGOS DE ÉTICA


Existem políticos, e aí estão algumas declarações públicas, que reduzem a sua função a meros executores de gestões económicas, como se isso fosse o primado da vida. E então analisam os Planos de Actividades e Contas, como no caso da Maia, a um deve e haver, como se isso constituísse, em si, o desenvolvimento, o que é errado e não possui nenhuma perspectiva do caminho para uma sociedade fraterna e solidária. A capacidade de um povo ter a sua identidade e, logo, ser capacitador do seu futuro, se estivesse centralizado na economia, seria um engano, porque isso é castrador da vida. Aliás, como tenho vindo a afirmar, o desenvolvimento ou é sustentável, e existe uma harmonia, entre a economia, o ambiente e a coesão social, logo uma aposta forte na cultura vivencial, como o próprio governo português reconhece, ou bem podem os financeiros, ou aprendizes disso, andar a pregar. O que têm conseguido não é mais que alargar o fosso entre aqueles os detentores ou não da riqueza. A sociedade não se desenvolve por “contas”, mas pelo assumir das presenças das mulheres e dos homens na definição do seu futuro colectivo. Fico sempre furioso quando leio e vejo muitos políticos da Maia preocuparem-se só, e somente, com os défices do dinheiro do orçamento esquecendo-se que para além disso também os há, ao nível da cultura, do conhecimento e da ética, que são os motores fundamentais para a superação de quaisquer problemas ao nível da economia. Esta não pode ser um fim em si mesmo, nem ser o principal motor da vida, pois se assim acontecer, subjugamos a vida humana a quaisquer ditames da inconsciência e do absurdo. O que vemos deixa-nos muito preocupados: a partir de pretensos saneamentos económicos, onde as principais vítimas são as pessoas, e isso não é prospectivar, mas governar a curto prazo, uma miopia tão grave, que coloca em questão o próprio desenvolvimento humano e o crescimento harmonioso da vida. Não estamos a con-criar, mas a ser abjectos artífices duma eutanásia social, e não é essa a missão das pessoas, e muito menos dos políticos, quiçá já endeusados e bem nutridos, que deveriam pelejar por serem exemplos de cidadania e solidariedade.

Tudo isto a propósito do recente código de ética aprovado em sessão da câmara municipal da Maia, e do menosprezo que alguns têm para com ele. Quase que dizem ser um entretimento de alguns, está bem!, mas sem tradução ao nível concreto das vidas, porque se gastam páginas a falar do dinheiro, deixando para trás documentos tão importantes como um Código de Ética. Pode-se discutir se será o melhor, se traduz bem a responsabilidade social, se é de conduta e menos de ética, mas nunca colocar em causa a importância da sua elaboração, porque ela fará traduzir o relacionamento entre as pessoas e destas com as organizações. Ora a prática dos relacionamentos é fundamental para a superação de quaisquer crises económicas, e não é o puro economicismo que constrói uma cidade saudável, antes pelo contrário. Daí que o aparecimento, creio na primeira câmara do país, dum documento destes, incompleto, é verdade, seja de saudar e encorajar a sua melhoria, que forçosamente tem de ser contínua, a par de toda uma caminhada cultural de definição dos valores antecedentes. Mas o que li, foi um desprezo para com tal documento, e mesmo sendo da oposição, não poderei deixar de afirmar que tais declarações são incaracterísticas e inconsequentes com uma estratégia de valores socialistas. Faz a todos muito bem andarem nestes meandros da ética e da responsabilidade social, mas muito mal querer ignorá-los.

A publicação recente do projecto de Norma prNP 4460-1:2006 – Ética nas Organizações, que está em inquérito público, durante os próximos trinta dias, vem acentuar a urgência deste debate. Por outro lado aparece a fornecer “linhas de orientação para o processo de elaboração e implementação de códigos de ética nas organizações”, o que se traduzirá, a muito curto prazo, numa revisão do código de ética da câmara municipal da Maia, dado que ele não pode ser definido só por alguns, mesmo eleitos, mas pelo conjunto das partes interessadas. Partindo da próxima norma internacional sobre esta matéria (ISO 26000), a ser publicada em 2008, baseia-se, também, nas decisões das Nações Unidas e Organização Internacional do Trabalho e afirma “ter um papel fundamental na credibilidade do trabalho e, nomeadamente, na manutenção de relações de confiança entre parceiros de uma cadeia de valor”. A filosofia desta norma acentua o conhecido PDCA (Plan, Do, Check, Act),e faz depender o seu funcionamento de todos os parceiros que entram no negócio, numa câmara municipal dos trabalhadores, clientes, fornecedores, sociedade, associações patronais e sindicais e outros interessados. Toda a leitura da norma ajudará a definir melhor o que é proposto ao nível da ética e responsabilidade social das organizações. O próprio conceito de auditoria interna e externa aí está, na verificação da credibilidade dos efeitos do código de ética.

Que esta crónica faça pensar os decisores e aprovadores do código de ética, da câmara municipal da Maia, da valia que existe em escutar todos os cidadãos, em matérias tão sensíveis.

Joaquim Armindo

Membro da Comissão Política do PS da Maia

jarmindo@clix.pt

http://www.bemcomum.blogspot.com

Escreve esta coluna quinzenalmente.

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