DA MENSAGEM DE NATAL DO CARDEAL D. JOSÉ POLICARPO
5. Nos últimos meses têm sido abundantes as notícias de empresas que fecham, porque não têm viabilidade ou se deslocam, deixando milhares de pessoas sem trabalho. Numa sociedade em que o trabalho por conta de outrem é, para a maioria da população, a forma da subsistência e, por conseguinte, a garantia das condições que garantam viver a vida em harmonia, o desemprego imposto torna-se uma grave forma de exclusão. De repente essas pessoas sentem, dramaticamente, que não há lugar para elas. Aí as razões justificativas são lógicas e implacáveis: as consequências da globalização, as exigências do sistema económico vigente, quase sempre em crise, o direito das multinacionais se deslocarem para garantirem maior rentabilidade. O fenómeno atinge proporções tais na nossa sociedade, que exige politicas de fundo e não apenas soluções casuais. É preciso aprofundar as exigências éticas de todo o processo económico e dos seus principais agentes, adaptando-as à evolução da sociedade e ao bem-estar dos cidadãos. No que à globalização e deslocação das empresas diz respeito, torna-se urgente a adaptação e a criatividade no âmbito do direito internacional. Enquanto os sistemas económicos gerarem pobreza e causarem exclusão, eles não servem o bem-comum da sociedade.
Os sindicatos, legítimas associações de trabalhadores, têm que os defender e promover na busca de soluções criativas e inovadoras. Não podem ficar prisioneiros de ideologias, embora lhes seja legítimo terem princípios inspiradores do modelo de sociedade e das soluções que defendem. Devem ser estruturas de diálogo e não apenas de conflito; devem avaliar a eficácia das acções que desencadeiam, e ser factores de esperança e não de revolta. Numa sociedade justa os primeiros defensores dos direitos dos trabalhadores deveriam ser as empresas e os empregadores, o que não dispensa o papel das associações de trabalhadores, porque não há empresas sadias sem a participação criativa de todos os seus agentes.
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