quarta-feira, novembro 17

SANTANA LOPES

Santana é bom Santana Lopes é bom, mesmo muito bom, quando larga os discursos escritos efala de improviso do alto do púlpito, muito alto, mas lentamente, para não deixarsaltar saliva como fazia o Eng. Mira Amaral.
Foi isso que aconteceu no congresso do PSD, que o entronizou como líder dos liberais, pretendidos sociais-democratas. Mas por muito bom que seja a falarde improviso, há factos que mesmo o mais inflamado discurso não consegue apagardos registos político-históricos.
Santana Lopes fez a defesa acalorada do Orçamento do Estado para 2005. Disseque há consolidação orçamental, que a despesa baixa, que o défice estruturalse reduz. Tudo isto pode ser dito com maior ou menor convicção. Depende doactor.Mas, infelizmente para Santana, tudo isto mesmo que bem representado, serásó uma meia trite verdade. A verdade toda é que, havendo alguma consolidação orçamental, ela se reduzem relação aos dois anos anteriores e é inferior ao meio ponto de redução do défice estrutural que foi acordado com Bruxelas.
É um dos critérios que não será cumprido em 2005, como até o comissário europeu, Almunia, já deu nota. A verdade toda é que a despesa baixa, mas apenas à custa da insuficiência dedotações para certas áreas (a educação e a saúde são os casos mais flagrantes) e da desorçamentação escandalosa na saúde (600 milhões de euros) e doInstituto de Estradas de Portugal (400 milhões de euros). O mais certo é que terá quehaver e haverá provavelmente um orçamento rectificativo na segunda metade de 2005. A verdade toda é que a dívida pública cresce de 60 para 62%, deixando Portugal de cumprir outro dos critérios que Bruxelas vai impor para avaliação orçamentalno próximo ano.
A verdade toda é que este Orçamento estimula o consumo a acreditar no impacto da(descida do IRS) em detrimento do investimento: congelamento do investimentopúblico, e anulação da única poupança (fim dos PPR, CPH, PPA). A verdade toda, para infelicidade de Pedro Santana Lopes, é que até o circunspectogovernador do Banco de Portugal, Vítor Constâncio, considerou este Orçamentoinsuficiente em matéria de consolidação orçamental (que é a inscrição detodas as rubricas que lá deveriam estar, e pelos vistos não estão).
A verdade toda é que duas agências internacionais anunciaram que descerão o «rating>
da República em 2005, se não houver correcções na política económica e no Orçamento
do Estado para 2005. A verdade toda é que a Confederação da Indústria Portuguesa e a Confederaçãodo Comércio Português consideram este Orçamento como errado e errático e que muitos economistas, das mais diversas áreas (Teodora Cardoso, João Salgueiro, Miguel Beleza, Vítor Bento, João Ferreira do Amaral) se mostraram muito críticos
em relação ao documento.
Mas então não há ninguém que defenda o OE 2005 para além de Santana Lopes e Bagão Félix? Há. Chama-se João César das Neves, que foi assessor de Cavaco Silva e que faz constar de ser um reputado economista e ainda melhor "entertainer".Tal como Miguel Beleza, no tempo do Cavaco.Mas é pouco, poucochinho, porque apenas nos faz lembrar a história daquelamãe que, orgulhosa, ao ver o nabo do filho a marchar com o passo trocado na paradamilitar, diz toda contente para a vizinha:
- «Olha, só o meu Pedrinho é que vai com o passo certo!»

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