terça-feira, maio 31

ARTIGO PUBLICADO NO PRIMEIRO DE JANEIRO

No dia 24 de Maio, foi publicado no Jornal O Primeiro de Janeiro, o seguinte artigo da minha autoria:

MOSCADEIRO


COLECTIVIDADES DA MAIA




Aprendi desde muito novo, talvez pelos meus 13 ou 14 anos, o valor das colectividades, de bem fazer, de recreio, desporto e cultura; nessa altura, lembro-me, que em Vila Nova de Gaia, onde vivia, por todo o lado existiam os espaços das mulheres e dos homens que tudo faziam para se encontrar e voluntariamente darem as mãos, e enfrentarem aquilo que a sociedade de então não permitia, desconfiava e o governo atacava. Só uma referência para as Sociedades Columbófilas, que às dezenas existiam, o que achava de muito bom augúrio.

Não estamos hoje nesse período, certamente muitas esvaziaram, por muitos motivos, entre os quais o galopante solipsismo de que a sociedade é pródiga, mas reconheço não faltam ainda aqueles que com prejuízo do seu descanso, colocando dinheiro do seu bolso são capazes ainda de servir a comunidade onde se inserem, só pelo facto de sentirem a necessidade do serviço, compaginado, é evidente, pelas relações de amizade e companheirismo que se forjam ao serviço das colectividades, e consequentemente dos cidadãos, mesmo que muitos andem afastados, como que distraídos.

Quando vim residir para Terras da Maia, apercebi-me que também aqui as colectividades borbulhavam como em Gaia, e centenas de cidadãos orgulhavam-se de o fazer; aparte uma ou outra freguesia, como o caso de Barca (onde nada existe), há um movimento inusitado de clubes desportivos, culturais, lazer, bem fazer, que sempre que sou convidado, visito e inteirando-me das suas actividades. Sabem bem os seus dirigentes que é assim, orgulhando-me de ter na minha terra o acervo que elas nos prodigalizam. E digo, bem hajam mulheres e homens de fé, por ainda acreditarem que é com a união de esforços que se consegue dar alento à fraternidade, tão arredia do nosso quotidiano, feito agora não com o trabalho gracioso e doado, mas à frente do “trabalho” do que a televisão nos vai trazendo, nos requintados sofás do nosso (desa)sossego.

Vem tudo isto à baila nesta crónica, pelo apego do poder político ao público, que estas colectividades conseguem gerar, e na ânsia de colectar uns tantos votos, há que usar os movimentos sociais como arma cativante, e, porventura, não destruir aquilo que existe mais de belo, os ideais nobres que os enformam.

O poder político, também na Maia, “dá” às colectividades subsídios para a sua sobrevivência, oferece sedes, faz obras nas suas instalações. E digo “dá”, porque efectivamente o verbo aqui não é correcto, dado que o que o poder municipal faz não é mais do que devolver os impostos que recebe, dos próprios cidadãos, em forma de multas, coimas ou impostos.

A questão que se coloca na Maia, a par duma homenagem aos dirigentes das colectividades, por parte da maioria que governa a Câmara, não é, do meu ponto de vista, a centralidade da discussão ao nível do político, mas sim ao de como se distribuem os tais subsídios, envolvendo esta situação o “favor” (que não é favor), do político desenvolver as suas actuações, com a tentação de imposição dum paradigma ideário partidário, de “ou me apoias, ou não levas nada”. Aqui reside toda a questão, a que a oposição deverá dar a sequência de abertura de como irá fazer no futuro (se o tiver!), quando for poder; ou então porque até agora não colocou como epicentro desta matéria, as suas desconfianças.

Sempre tenho referido que a questão não se resolve por subsídios, que podem, é verdade, levar ao beija-mão aos “coronéis”, mas por práticas de transparência, consubstanciadas em contratos – programa e Planos de Actividades devidamente fundamentados, e que seriam cumpridos por ambas as partes. Sem dependência, nem favor, mas antes colaborando, naquilo que às vezes pertence ao poder político fazer, mas que não faz.

Urgente seria que todas as colectividades da Maia, tivessem um Fórum, onde se discutisse e analisassem os seus programas para o ano seguinte, se definissem prioridades, e após isto, perante a existência dos dinheiros, se distribuíssem anualmente, em tempo útil, e que os maiatos o soubessem com clareza, quais os projectos apoiados, o montante e os objectivos, afim de ser medida a sua eficácia, e corrigidos os contratos – programas, não como subsidodependência , mas colaborando para o bem comum..

Enquanto esta forma de proceder não se enraizar nas mentes duns e doutros, mais dos políticos, teremos desconfianças, corridas a votos, frases infelizes e tentações nada democráticas.

E quanto à homenagem aos dirigentes das colectividades, deixá-la realizar, não será por isso, que o povo da Maia, se vai deixar influenciar no dia do voto. Ou não confiamos na sabedoria popular, que, nesse dia, pune sem agravo, por mais promessas que se façam, e ousa, na participação activa, colocar aqueles em quem tem mais confiança ?

Por mim, confio, sempre, nessa sabedoria!

Joaquim Armindo
Deputado Municipal do PS
jarmindo@clix.pt
http://blogspot.bemcomum.pt/

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1 Comentários:

Às 7:43 da tarde , Anonymous Anónimo disse...

Caro Amigo:

Conheci o seu blogger hoje e quero dar-lhe os parabéns pela iniciativa.
Muito interessante. Os meus parabéns.

Hugo Campos

 

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