terça-feira, junho 21

A REVISTA ALÉM MAR DE JUNHO


Aí está a Revista Além Mar de Junho, dos Missionários Cambonianos, este número sobre a Amazónia. Aqui deixo o Editorial.
Santuário da humanidade
O nosso futuro depende da gestão sustentada que se fizer do pulmão verde do planeta.
JOSÉ VIEIRA

A floresta da Amazónia – uma extensa mancha verde de quase sete milhões de quilómetros quadrados – está a sucumbir à pressão da indústria mineira, da agricultura intensiva e da acção dos madeireiros. Até 1970, a floresta gozou de boa saúde. A partir daí intensificou-se a sua exploração e, segundo alguns analistas, perdeu cerca de um quarto da sua extensão.
O Governo brasileiro – que controla cinco milhões de quilómetros quadrados – diz que só desapareceu um oitavo da sua área.As provas, contudo, estão aí. Imagens de satélite revelam que, só entre Agosto de 2003 e Agosto de 2004, a Amazónia ficou sem mais de 26 mil quilómetros quadrados.
Um ritmo que se tem mantido desde a segunda metade da década de 90. Por este andar – e segundo um modelo de análise publicado na revista ScienceHá, contudo, algumas boas notícias. Em 2004 foram abatidas menos 700 mil árvores. Por outro lado, a área dedicada ao desenvolvimento sustentado na bacia do Amazonas está a crescer. Em 1987, tinha à volta de 80 mil hectares. No ano passado, já chegou aos 1,8 milhões. Depois do recente assassínio de Dorothy Stang, uma missionária americana que dedicou 37 anos à Amazónia e aos seus trabalhadores rurais, o Governo de Lula da Silva introduziu um pacote legislativo mais restritivo.
O registo de propriedade, por outro lado, veio repor alguma ordem numa situação caótica. A importância da mancha verde da Amazónia no equilíbrio do ambiente global é inegociável. A floresta gera 20 por cento do oxigénio da Terra e a bacia do Amazonas, habitada por 20 milhões de habitantes – entre os quais milhares de povos indígenas –, alberga 30 por cento de todas as espécies de animais e plantas conhecidas.
Um quinto do caudal mundial de água doce corre no leito do Amazonas. Trata-se, portanto, de uma reserva de biodiversidade sem paralelo.O Brasil precisa constantemente de dinheiro fresco para cumprir as obrigações económicas decorrentes das dívidas astronómicas contraídas por governos sucessivos desde a ditadura militar junto do sistema financeiro internacional. E a floresta amazónica, esse «tesouro escondido», está a ser sacrificada para ajudar o país a pagar os juros e a crescer.
Porque a Amazónia é demasiado importante para o mundo e para o equilíbrio ecológico do planeta, é indispensável que se torne um santuário natural da humanidade. Mas, para isso, é preciso que o mundo a assuma como sua e aceite ajudar a pagar, em troca dos inúmeros benefícios que lhe concede e que lhe reserva, uma boa parte dos custos que a sua defesa comporta.
O nosso futuro depende em grande parte da gestão sustentada que se fizer daquele pulmão verde. Se ele desaparecer, lá chegará o tempo em que todos descobriremos que não se respira dinheiro, não se come dinheiro, não se bebe dinheiro.

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