terça-feira, junho 6

ARTIGO PUBLICADO NO PRIMEIRO DE JANEIRO

Artigo publicado no Jornal O Primeiro de Janeiro, da autoria de Joaquim Armindo, em 30 de Maio de 2006




MOSCADEIRO


EM UNIDADE, NÃO HÁ LUGAR À INJUSTIÇA



Existem responsáveis políticos, que ao som das trombetas que é necessário preservar a unidade de um partido político, ferem irremediavelmente os conceitos mais naturais das comunidades humanas, quando, por um lado, pactuam pelo silêncio, quando a injustiça se faz sentir, e, por outro, querem constituir unidades, tendo por base o esmagamento da justiça. Ora esta forma de proceder, passa sempre para a história e conivência com injustas posições, e, essas sim, fragilizam o partido que querem defender, a todo o custo, nem que para isso recorram a métodos não ortodoxos. A unidade de um partido constrói-se tendo por base, a capacidade de uma união, numa pluralidade de ideias, e não no mais profundo massacre, quiçá gizado, nos corredores, sempre elegantes, dos poderes instituídos. Nem que um partido esteja no poder, se pode, em favor disso, deixar de incrementar a massa crítica, no sentido do alerta participativo das populações, nas decisões tomadas em nome delas, em seu favor, mas ferindo-as gravemente. Um partido transparente, e que se diz ao lado do povo trabalhador, não pode querer silenciar, os críticos, isto é, aqueles que exercem os seus deveres de cidadania, acima das doutrinas, ocasionais, de uma ou outra tomada de decisão. Dizer a sua opinião, e duma forma pública, não é uma acção terrorista para com o partido, mas o assumir da cidadania, e tornar presente que um partido, democrático, não se devem temer, antes pelo contrário, fomentam-se as opiniões, encarando-as como oportunidades de correcções, demonstrando-se às pessoas, mulheres e homens (que são os votantes), de boa – vontade, que se analisa, discute e apresenta trabalho, tendo por base o bem comum da sociedade. Se assim não se fizer, e por decisões sancionatórias, impuser as “suas verdades”, estamos perante um caso de “inquisição moderna”, o fazer calar, para que a dita unidade, balofa e sem conteúdo apareça como uma demonstração de vitalidade, quando não o é, mas sim de fragilidade política e humana. Por isso, não podemos calar, quando a unidade, tem por base a injustiça.

Quem fomenta a injustiça (e estar calado, é uma forma de fomento!), pode estar certo, que mais cedo, ou mais tarde, o edifício que pretendeu construir, chamando-lhe unidade, não possui os alicerces baseados na seriedade, mas a cedência (por mais que se diga que não!), aos interesses comezinhos de lugares financeiros e individuais, que nada trazem de honesto para quem os pratica. E não vale a pena afirmar que isto não acontece, porque no silêncio das bocas sedentas de justiça, forma-se um cortejo, cada vez maior, daqueles que desconfiam de cada acto praticado pelos dirigentes mais notórios, que pretendem silenciar as situações, como se fosse possível, alguma vez, calar o direito à indignação. Este, quando existe, é uma corrente formada pelos braços humanos de quem não teme, porque também não procura lugares que podem ser oferecidos, para calar, mas não são, nem nunca serão, de honestidade da pessoa, para consigo, e, fundamentalmente, para com a sociedade. Um partido político não está acima destas questões, mas antes pelo contrário, bem no âmago de todas elas; não pode fugir, e o que nele se passa, por muito que se pretenda esconder, não é mais que o descrédito das instituições, perante quem dizem querer servir.

Tudo isto seria retórica pura, e filosofia daquela que é necessário relembrar, se não fosse prática corrente; assumindo, por vezes, contornos diabólicos, que talvez nem ao demo lembraria. O que se passa na Maia, já há anos, no partido socialista (o meu partido), é evidenciador de um processo controverso, e daqueles que, normalmente, terminam arquivados ou desaparecem. As eleições para a comissão política concelhia, foram eivadas de descrédito, erros gravíssimos se passaram, falta de democracia, pressões a todos os níveis, e uma prática trauliteira de que não existe memória, em nome de uma unidade, golpes, sempre na mira, de que quem o poder toma, está mais próximo duma ascendente hierarquização de lugares, que faz lembrar a célebre frase de Salazar: “Tudo pela Nação, nada contra a Nação”, mas a Nação era a dele, dos seus conceitos, e não a baseada nos interesses colectivos das mulheres e dos homens portugueses, que em conjunto com os demais povos, formam a humanidade.

O celebrado parecer duma comissão, designada para investigar os actos passados, naquelas eleições, de opinar como improcedente a impugnação apresentada, sem, que até hoje, uma decisão fosse tomada, os silêncios do “eleito” presidente da nova comissão política, que se apressou a afirmar que não sabia de nada, tomou posse, e até hoje não se consegue saber as suas opiniões, são claros, que os presentes responsáveis tudo pretendem, menos saborear uma unidade, baseada na justiça. Perguntarão os cidadãos, como é possível a apresentação de candidaturas credíveis, quando a oposição queda-se por não oferecer aos maiatos as alternativas politicas que necessitam, e na “sua casa”, oferecem a arrogância, de quem estará certo que nunca exercerá em favor das pessoas a prática socialista, que bane situações deste tipo.

Não existe unidade, sem justiça, e não pode ser imposta mandando calar, como foi apanágio de certas épocas, veja-se Galileu Galilei, , dure o tempo que durar, o caciquismo no PS da Maia, terá que acabar, porque o povo o exige (vejam-se os resultados das ultimas autárquicas e presidenciais, na Maia); e não é um parecer duma comissão que fará silenciar, quem nunca teve medo da polícia política!

Joaquim Armindo

Membro da Comissão Política do PS da Maia

jarmindo@clix.pt

http://www.bemcomum.blogspot.com

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