"Não é fácil ter de viver este ambiente de espera até ao Natal"
bruno simões castanheira | | Encerramento das instalações da General Motors Portugal afectará o futuro de cerca de 400 famílias só no concelho de Azambuja |
Nuno Miguel Ropio
O encerramento das instalações fabris do grupo General Motors (GM), em Azambuja, apontado para o final do ano, irá provocar o desemprego a cerca de 1100 trabalhadores directos e mais de 600, em regime de outsourcing. Desde Vila Franca de Xira até à Golegã, serão mais de dez os concelhos afectados pela onda de despedimentos colectivos na Opel. A decisão anunciada pelo vice-presidente da General Motors Europa, Eric Stevens, a 11 de Julho, só em Azambuja e segundo dados da autarquia local, promete ensombrarombrar o futuro de 400 agregados familiares, que perdem a sua principal fonte de sustento.
Família Almeida Azambuja
Afonso Almeida, com dois anos, ainda é muito pequeno para perceber a revolta que se instalou na sua família. Já a irmã Ana, de nove anos, acompanha atentamente os pormenores, relatados pelo pai, dos últimos dias no maior empregador da região.
"Ainda são muito pequenos mas apercebem-se do que se passa. Há dias em que chego a casa e não tenho cabeça para ninguém", confessa Jorge Almeida, trabalhador na Opel há 16 anos. A ambição de entrar este ano na faculdade ou o ensejo de umas férias de Verão junto ao mar, não passam agora de sonhos adiados para aquele manobrador de empilhadores, de 39 anos, habitante em Azambuja.
Também Ana Coelho, mulher do trabalhador, não esconde o receio pela aproximação do dia em que o marido entrar desempregado pela porta da moradia uni-familiar, comprada há dois anos. Até lá alguns gastos considerados banais tornaram-se supérfluos num ápice e vão deixando de ser incluídos no orçamento familiar. "As férias são o primeiro exemplo, não sabemos o que aí vem por isso o melhor é prevenirmos", sublinha Ana Coelho, oficial de justiça em Lisboa. Entre o silêncio comedido e uma tristeza perceptível nos olhos, admite que "ir ao cabeleireiro será só para cortar o cabelo".
"Não é fácil este ambiente de espera até ao Natal! Mas até ao final do ano ainda podem mudar as coisas", garante Jorge Almeida. Quais as razões para manter esta esperança? "Ainda não ficou demonstrada a desvantagem dos 500 euros, uma análise da Global Material System considerou-nos os melhores em produtividade, cumprimos o horário sempre que nos foi exigido, estivemos disponíveis para horas extra, chega?", justifica.
Família Maltez Golegã
Mais a norte. Da pequena aldeia de Azinhaga, no concelho da Golegã, diariamente o autocarro disponibilizado pela Opel transporta até às instalações do fabricante norte-americano 20 trabalhadores, dos quais sete constituem a família de Rui Maltez. Pai, tio e quatro primos partilham com o pintor de automóveis a indignação e a incerteza quanto ao futuro.
"O meu pai tem 51 anos e trabalha lá há 28. É claro que é novo para ser reformar. O meu primo também andava com ideias de se casar. E a gente anda com isto tudo na cabeça, entende?", questiona revoltado Rui Maltez, de 30.
Às quatro da manhã já os trabalhadores aguardam pelo transporte no largo da freguesia. Duas horas depois estão em Azambuja para entrar no primeiro turno. "Não se percebe que a Câmara da Golegã ainda não nos tenha disponibilizado qualquer ajuda", queixa-se o pintor, há 11 anos na Opel, que admite não esperar pelo desemprego para garantir a sustentabilidade do seu agregado familiar - composto pela mulher e filho de 3 anos. "Tenho um projecto para não ficar em casa", conta, sobre o projecto com o primo Samuel Pascoal, de 27 anos, que teve casamento marcado para a semana em que decorreu o anúncio oficial de encerramento da GM.
Família Carvalho Vila Franca de Xira
"Colocaram 60 empregados até ao final do ano, por isso não acho que as máquinas desapareçam em Agosto", garante Filipe Carvalho, de 39 anos, trabalhador na linha de acoplagem (trim) e morador em Alverca do Ribatejo (Vila Franca de Xira). Tal como os restantes colegas, o alverquense goza o habitual período sazonal de férias, desde quinta-feira até 21 de Agosto.
Ao JN, o trabalhador enumera os diversos benefícios, concedidos pela empresa, e que pensa não encontrar futuramente. "Médicos, enfermeiros, transporte, farda, lavandaria, comida, é tudo gratuito", salienta.
Filipe Carvalho, casado, tem dois filhos, de 5 e 10 anos. Possui apenas o 6.º ano e espera lançar-se no mundo da distribuição, a partir de Janeiro.
Quanto ao ambiente na empresa não esconde o agastamento. "O ambiente tende a ser cada vez pior. Há avarias com duas ou três horas sem serem resolvidas. Os boatos correm a fábrica e desorientam o pessoal. Enfim!", reconhece entristecido. | | | | |
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