DO PADRE MÁRIO DE OLIVEIRA
Companheiras/Companheiros
É este o meu voto teológico de Natal 2006:
1. Confesso que estou cansado do natal que o Templo e o Império em uníssono insistem em impor todos os anos às pessoas e aos povos em todo o mundo. Já não suporto mais estes natais. Enojam-me. Dão-me vómitos. São hipocrisia a rodos. São mentira que nos oprime e aliena. São natais que nos roubam a alma, a identidade, os afectos, a ternura, o tempo. São natais que nos exploram até ao osso. Inclusive, o pouco dinheiro que ainda conseguimos ganhar com o suor do próprio rosto é-nos extorquido nestes dias com requintes de fina selvajaria pelas blasfemas catedrais de consumo, plantadas em espaçosos e feéricos centros comerciais sem um pingo de humanidade, todos a abarrotar de coisas, a maior parte delas inúteis que compulsivamente adquirimos e carregamos para casa, como uma cruz sem redenção, numa desesperada e inconsciente tentativa de enchermos os buracos da alma que só afectos desinteressados e tecidos com os fios da Verdade e da Graça poderão preencher sem nos ficarem a pesar ainda mais. Temos fome de asas para voar e empanturram-nos com embrulhos de papéis coloridos e reluzentes fitinhas, para que nunca cheguemos a descobrir que é de Projecto e de Utopia que precisamos para ser/viver. Verdadeiramente, estes natais do Templo e do Império são o nosso pesadelo, a nossa desgraça, o nosso inferno. Ou nos livramos deles, já este ano e para o resto das nossas vidas, a fim de nos tornamos pessoas constitutivamente livres e festivas, humanas e sororais/fraternas, ou acabamos reduzidos, aos quarenta/cinquenta anos de idade, abaixo de embrulho, abandonado num qualquer lar de terceira idade, desses muitos que o actual Governo de José Sócrates, pelos vistos, está empenhado em espalhar por todo o país, como bidões de lixo à espera de Godot!
2. Confesso que já não percebo nada. Há dois mil anos, o Templo e o Império uniram-se para matar/crucificar o Homem Jesus de Nazaré que então os perturbava e enfurecia, devido às suas práticas políticas libertadoramente solidárias e fecundamente insurreccionais a favor das inúmeras vítimas que ambos produziam
3. Com as coisas neste pé, eis o meu voto teológico de Natal 2006, em cinco alíneas: a) temos, como Humanidade, de resgatar Jesus, o de Nazaré, das garras mentirosas e assassinas do Templo e do Império; b) temos que aprofundar, com a inteligência e o coração porque é que o Templo e o Império juntos tiveram tanta necessidade de matar Jesus e daquela maneira; c) temos que aprofundar porque é que o Templo e o Império correram depois a fazer de Jesus um mítico deus que os seus sacerdotes e teólogos obrigam todos os anos a nascer e a morrer; d) veremos então erguer-se diante da nossa consciência o Homem Jesus em toda a sua originalidade e singularidade, assim como a sua Causa política, a única que, se for acolhida e praticada pelos povos, humanizará/salvará os seres humanos e a própria Natureza, nossa Casa comum; e) começaremos de imediato a ser mulheres, homens ao jeito do Homem Jesus e, em comunhão com o seu Espírito, prosseguimos a sua Causa política entre as vítimas do Templo e do Império, e com elas. Até que Deus, o de Jesus, nos ressuscite/dê razão, como ressuscitou/deu razão a Jesus!
Fiquem com a minha Paz e o meu Afecto.
Mário, presbítero da Igreja do Porto.
P.S.
Podem, obviamente, fazer chegar este meu voto a outras pessoas das vossas relações. Pede-se apenas que refiram a sua origem.
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