sexta-feira, março 23

CRÓNICA PUBLICADA NO JORNAL PRIMEIRA MÃO

Crónica publicada no Jornal Primeira Mão, em 16/3/2007

A DECLARAÇÃO DO MILÉNIO


Quando as políticas locais não têm em consideração os grandes objectivos da humanidade, e as classes políticas se afastam do “pensar globalmente, agir localmente”, estão completamente à deriva nas estratégias globais que se querem implementar neste nosso cosmos. Não é possível, hoje, em qualquer município entrar-se a sorrir, só porque se afirma que possui mais qualidade de vida, dado que esta é transversal a toda a comunidade envolvente, por isso há que pensar na globalidade e localmente cumprir o que foi determinado. Assim, não mais os partidos políticos podem possuir programas sem aquela visão planetária, concretizada ao nível do país, da região, do concelho ou da freguesia, porque ninguém é uma ilha. Por isso trazer à colação os grandes princípios universais, traduzidos em documentos nacionais tem o condão de alertar a classe política, para as suas distracções, quando encafuam o “local” em redomas de vidro, como se fossem inexpugnáveis e traduzíveis numa incapacidade de compreenderem que tudo passa pelas pessoas; aliás aqui mesmo ma Maia, existe uma coligação que diz “Primeiro as Pessoas”, alguém, no entanto, viu os seus dirigentes com “as pessoas”? Honra seja prestada ao Dr. Vieira de Carvalho que vinha ter com as pessoas, e estava-se “nas tintas” para o partido. Agora não, existe uma torre difícil de escalar, mesmo com sombras digitais! Compreendo que os nossos agentes locais não tenham tempo a perder, com essas estratégicas que vão dando ser à humanidade, mas, caramba!, tanto desconhecimento mete dó, isto pelos documentos que vão dando à estampa, como com as suas atitudes. Acordem senhores da política da Maia, e vejam o que se passa à vossa volta, porque mesmo aqueles que são da esquerda retinta (os do Bloco de Esquerda!), são de uma pobreza franciscana na política maiata.

O documento que hoje trago à lembrança dos maiatos chama-se “Declaração do Milénio”, e foi aprovado em 6 e 8 de Outubro de 2000, sendo o promotor dos desenvolvimentos sustentáveis, agora na política portuguesa, e dos diversos planos, inclusive do QREN, na berlinda, porque dá dinheiro na primeira linha do interesse dos nossos autarcas, esquecendo-se da filosofia fundamental que o enferma. De entre os valores fundamentais, a liberdade, igualdade, solidariedade, tolerância, respeito pela natureza e responsabilidade comum, gostaria de enfatizar a penúltima onde referem os 191 países que aprovaram, “é preciso alterar os actuais padrões insustentáveis de produção e de consumo no interesse do nosso bem-estar futuro e no das gerações futuras”, o que significa sustentabilidade, e não “desenvolvimento e crescimento sustentado”, como define o regulamento da macroestrutura da câmara da Maia; é que são coisas muito diferentes. O documento refere oito objectivos, com metas e indicadores concretos, que deverão servir de orientação local (ao nível do concelho) de todas as políticas de desenvolvimento: como erradicar a pobreza e a fome, atingir o ensino universal, promover a igualdade entre sexos e a automatização das mulheres, reduzir a mortalidade das crianças, melhorar a saúde materna, combater as doenças, garantir a sustentabilidade ambiental e criar uma parceria mundial para o desenvolvimento. A declaração desenha um novo paradigma cultural e determina que “os homens e as mulheres têm o direito de viver e de criar os seus filhos com dignidade, livres da fome e livres do medo da violência, da opressão e da injustiça. A melhor forma de garantir estes direitos é através de governos de democracia participativa baseados na vontade popular”, ora é aqui o fulcro de toda a objectividade das actuações a nível local, a “democracia participativa”, ou seja, os governos, muito mais os de nível local, devem aprender a garantir a eficácia da participação dos que os elegeram, divulgando as suas decisões e fomentando a livre discussão, tornando-se, assim, não em fazedores de pressupostos trazidos por ideias imediatistas, voluntaristas e economicistas, mas baseadas na cooperação económica, social, cultural e humanitária, que focalize uma nova ordem, baseada numa paz justa e duradoura.

Num momento em que na Maia tantos documentos se produzem, e até a transparência de governantes parece colocar-se em causa, será, também numa altura em que todos os olhos se viram para o QREN, de pensar nesta Declaração do Milénio, cujos pontos orientadores são vectores fundamentais para dar prossecução ao “pensar global, agir localmente”, conforme refere a agenda 21, e isso passa definitivamente por subordinar as orientações a um querer colectivo, para que “nenhum indivíduo ou nação possa ser privado da possibilidade de beneficiar do desenvolvimento”.

Joaquim Armindo

Membro da Comissão Política do PS da Maia

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