sábado, agosto 19

RESPOSTA A FERNANDA MESTRINHO




Cara Senhora Fernanda Mestrinho,

Antes de mais quero agradecer-lhe a sua resposta. Dado que me acusa de falta de objectividade, aproveito para acrescentar algumas palavras, em complemento à minha exposição de 11 de Agosto corrente. Em primeiro lugar, gostava que ficasse bem claro que o que eu contesto não são propriamente os nomes que figuram na playlist da Antena 1. A razão da minha contestação é bem diferente. O que eu contesto é que alguns deles (Mesa, GNR, Clã, Pólo Norte, Pedro Abrunhosa, Paulo Gonzo, Beto, João Pedro Pais, Delfins, Filarmónica Gil, Xutos & Pontapés, David Fonseca, Gift, Hands on Aproach, ZZ Special) passem com uma frequência acima do razoável e, principalmente, que muitos outros – alguns deles figuras de referência da música portuguesa – sejam marginalizados ou, pura e simplesmente, excluídos. A maioria desses nomes consta na lista que elaborei com base na minha escuta atenta da Antena 1 e a que dei o sugestivo nome de Index da Música Portuguesa. Não será essa lista suficientemente objectiva? E levantará alguma espécie de dúvida a quem se der ao cuidado de ouvir com alguma atenção a emissão da Antena 1 que o género pop é flagrantemente hegemónico e que a música popular portuguesa (tradicional e de autor) e o fado são residuais? Será isto aceitável na rádio do Estado? Convém não esquecer que a rádio pública é financiada por todos os cidadãos e empresas de Portugal e não apenas pelos apreciadores do pop/rock. Por isso, espero que não me venham com o argumento falacioso e disparatado do target porque se algum público-alvo a Antena 1 deve ter é toda a população portuguesa dos 0 aos 100 anos, caso contrário uma parte significativa dos portugueses fica sem uma rádio para ouvir. Aliás, uma das lacunas na programação actual da Antena 1 é não ter um espaço destinado ao público infantil. Assim como também constitui uma lacuna grave não haver um programa dedicado à música popular do passado – portuguesa e latina –, um pouco à semelhança do que era feito nos programas "O Amigo da Música" e "Café Plaza". Se existe um programa – "Ondas Luisianas" – dedicado ao pop/rock dos anos 60, 70 e 80 não se compreende que não exista também um programa dedicado à música popular portuguesa e latina do mesmo espaço temporal onde se pudessem ouvir nomes como José Afonso, Adriano Correia de Oliveira, Fernando Machado Soares, Carlos Paredes, Luiz Piçarra, Amália Rodrigues, Alfredo Marceneiro, Lucília do Carmo, Maria Teresa de Noronha, entre tantos outros. Isto, claro está, sem prejuízo dessa música também constar na playlist, tanto mais pelo peso imenso que os alinhamentos de continuidade têm na grelha. A boa música não tem idade. Caso contrário, hoje já não se ouviriam compositores como Vivaldi, Bach, Mozart ou Beethoven e só ouviríamos Sockhausen, Boulez, Xenakis ou Nono, aliás também eles já ultrapassados e que nalguns casos nos legaram música mais velha que a dos mestres do passado. Velha é a música que não resiste à passagem do tempo. E mesmo no caso da música nova não erudita, será toda ela pop ou rock? Nem por sombras! Por exemplo, por que motivo não está representada na playlist da Antena 1 a música popular portuguesa da nova geração, designadamente da área folk/tradicional? Apresento alguns exemplos concretos: Pedro Jóia, Filipa Pais, Contrabando, Quadrilha, Frei Fado d´El-Rei, Realejo, Danças Ocultas, At-Tambur, Roldana Folk, Mandrágora, Mu, Dazkarieh, Chuchurumel, Popularis e Galandum Galundaina. Se os conteúdos musicais que vêm sendo privilegiados na playlist são, alegadamente, para rejuvenescer o auditório e torná-lo mais urbano, como se explica que fiquem de fora aqueles interessantes artistas/grupos (aliás, aclamados pela crítica) cujos fãs são na maioria jovens urbanos com idades na casa dos 20 e dos 30? Acrescento que o argumento do rejuvenescimento do auditório cai por terra quando nomes da anterior geração como Paulo de Carvalho, António Variações, Heróis do Mar, Sétima Legião, Jorge Palma, Rui Veloso, Sérgio Godinho ou Luís Represas passam com alguma frequência. Devo dizer que não tenho nada contra estes nomes pois até os aprecio genericamente, mas é inegável que eles estão a ser notoriamente favorecidos comparativamente a outros da mesma geração e de igual valia (ou superior) como Fausto Bordalo Dias, Vitorino, Pedro Barroso, José Mário Branco, Luís Cília, Manuel Freire, Luiz Goes, Janita Salomé, Paco Bandeira, Afonso Dias, João Afonso, Amélia Muge, Né Ladeiras, Pedro Caldeira Cabral, Júlio Pereira, Rão Kyao, Brigada Victor Jara, Ronda dos Quatro Caminhos, Vai de Roda, etc.

Com os melhores cumprimentos,

Álvaro José Ferreira

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