DE UM LEITOR IDENTIFICADO
A Caixa Geral de Depósitos (CGD) está a enviar aos seus clientes mais
modestos uma circular que deveria fazer corar de vergonha os
administradores - principescamente pagos - daquela instituição bancária e
os governantes deste país que pretendem explorar.
A carta da CGD começa, como mandam as boas regras de marketing, por
reafirmar o empenho do Banco em «oferecer aos seus clientes as melhores
condições de preço/qualidade em toda a gama de prestação de serviços»,
incluindo no que respeita «a despesas de manutenção nas contas à ordem».
As palavras de circunstância não chegam sequer a suscitar qualquer tipo de
ilusões, dado que após novo parágrafo sobre «racionalização e eficiência da
gestão de contas», o «estimado/a cliente» é confrontado com a informação de
que, para «continuar a usufruir da isenção da comissão de despesas de
manutenção», terá de ter em cada trimestre um «saldo médio superior a
EUR1000, ter crédito de vencimento ou ter aplicações financeiras»
associadas à respectiva conta. Ora sucede que muitas contas da CGD,
designadamente de pensionistas e reformados, são abertas por imposição
legal.
É o caso de um reformado por invalidez e quase septuagenário, que sobrevive
com uma pensão de EUR343,45 - que para ter direito ao piedoso subsídio de
EUR
na CGD por determinação expressa da Segurança Social. Como se compreende,
casos como este - e muitos são os portugueses que vivem abaixo ou no limiar
da pobreza - não podem, de todo, preencher os requisitos impostos pela CGD
e tão pouco dar-se ao luxo de pagar «despesas de manutenção» de uma conta
que foram constrangidos a abrir para acolher a sua miséria.
O mais escandaloso é que seja justamente uma instituição bancária que ano
após ano apresenta lucros fabulosos e que aposenta os seus administradores,
mesmo quando efémeros, com «obscenas» pensões, a vir exigir a quem mal
consegue sobreviver que contribua para engordar os seus lautos proventos.
É sem dúvida uma sordície vergonhosa,como lhe chama
o nosso leitor, mas as palavras sabem a pouco quando se trata de denunciar
tamanha indignidade. Esta é a face brutal do capitalismo selvagem que
nos servem sob a capa da democracia, em que até a esmola paga taxa.
Sem respeito pela dignidade humana e sem qualquer resquício de decência,
com o único objectivo de acumular mais e mais lucros, eis os
administradores de sucesso a quem se aplicam como uma luva as palavras
sempre actuais dos «Vampiros» de Zeca Afonso: «Eles comem tudo/eles comem
tudo/eles comem tudo e não deixam nada.»
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