domingo, maio 28

DE UM LEITOR IDENTIFICADO



A Caixa Geral de Depósitos (CGD) está a enviar aos seus clientes mais

modestos uma circular que deveria fazer corar de vergonha os

administradores - principescamente pagos - daquela instituição bancária e

os governantes deste país que pretendem explorar.

A carta da CGD começa, como mandam as boas regras de marketing, por

reafirmar o empenho do Banco em «oferecer aos seus clientes as melhores

condições de preço/qualidade em toda a gama de prestação de serviços»,

incluindo no que respeita «a despesas de manutenção nas contas à ordem».

As palavras de circunstância não chegam sequer a suscitar qualquer tipo de

ilusões, dado que após novo parágrafo sobre «racionalização e eficiência da

gestão de contas», o «estimado/a cliente» é confrontado com a informação de

que, para «continuar a usufruir da isenção da comissão de despesas de

manutenção», terá de ter em cada trimestre um «saldo médio superior a

EUR1000, ter crédito de vencimento ou ter aplicações financeiras»

associadas à respectiva conta. Ora sucede que muitas contas da CGD,

designadamente de pensionistas e reformados, são abertas por imposição

legal.

É o caso de um reformado por invalidez e quase septuagenário, que sobrevive

com uma pensão de EUR343,45 - que para ter direito ao piedoso subsídio de

EUR 3,57 (três euros e cinquenta e sete cêntimos!) foi forçado a abrir conta

na CGD por determinação expressa da Segurança Social. Como se compreende,

casos como este - e muitos são os portugueses que vivem abaixo ou no limiar

da pobreza - não podem, de todo, preencher os requisitos impostos pela CGD

e tão pouco dar-se ao luxo de pagar «despesas de manutenção» de uma conta

que foram constrangidos a abrir para acolher a sua miséria.

O mais escandaloso é que seja justamente uma instituição bancária que ano

após ano apresenta lucros fabulosos e que aposenta os seus administradores,

mesmo quando efémeros, com «obscenas» pensões, a vir exigir a quem mal

consegue sobreviver que contribua para engordar os seus lautos proventos.

É sem dúvida uma sordície vergonhosa,como lhe chama

o nosso leitor, mas as palavras sabem a pouco quando se trata de denunciar

tamanha indignidade. Esta é a face brutal do capitalismo selvagem que

nos servem sob a capa da democracia, em que até a esmola paga taxa.

Sem respeito pela dignidade humana e sem qualquer resquício de decência,

com o único objectivo de acumular mais e mais lucros, eis os

administradores de sucesso a quem se aplicam como uma luva as palavras

sempre actuais dos «Vampiros» de Zeca Afonso: «Eles comem tudo/eles comem

tudo/eles comem tudo e não deixam nada.»

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